Era uma tarde fria de inverno, e como nas tardes frias de inverno a falta de alguém para abraçar fez com que todos vestissem casacos grossos para suportar o frio, pontos escuros e solitários preenchiam as praças adornadas de árvores sem folhas frente ao céu cinza, todos os pontos solitários ostentavam a face frigida e vazia de quem recebia a brisa fria de inverno no rosto, todos, menos eu.
Ao meu lado uma menina magra, com cabelos lisos que batiam nos ombros e um sorriso congelado no rosto me acompanhava, cortavamos a cidade em passos lentos, conversávamos sobre tudo, e ao mesmo tempo, sobre nada. Era como se fossemos eternos e tivéssemos todo tempo do mundo ao nosso dispor.
— Eu nunca senti tanto frio! — ela dizia enquanto tremia e seu hálito formava nuvens quentes de vapor.
Eu nunca me senti tão feliz — pensava, enquanto segurava nos braços uma das poucas razões de ainda estar observando o sol nascer todos os dias.
Retirei meu moletom e pedi pra ela vestir, ela se negou, alegando que eu passaria frio. Mal sabia ela que nem mesmo o mais quente dos casacos esquentava mais meu coração do que poder ver ela do meu lado, ela não sabia que mesmo um homem grande como eu se derretia ao vê-la sorrir, a pequena garota não sabia que em todo o universo o único conjunto de moléculas capaz de me esquentar era ela.
Fomos andando de praça em praça, de rua em rua e analisei como seus fios de cabelo dançavam ao vendo, como os olhos se comprimiam quando sorria e nas mãos frias que se uniam às minhas. Beijei ela na tarde até o sol cansar de ver nosso romance e dar espaço pra lua virar nossa plateia. A lua iluminou as ruas molhadas da cidade congelada, e trocamos o conforto do carro pela imensidão das calçadas até em casa, nos perdemos em assuntos estranhos, rimos com memórias que criamos a distância e nos beijamos quantas vezes fosse possível, porquê naquele dia, finalmente, era possível.
Acordei querendo vê-la, tê-la, senti-la, mas o universo não é tão bondoso quanto os sonhos, tentei dormir e voltar para aquele universo, mas Morpheus havia fechado as portas do paraíso na minha cara, o que me restava era letras, áudios e uma foto estática dela no meu celular. O mundo real não chega aos pés dos sonhos, um dia sonho em não ter mais a realidade.
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Teto
RandomIdeias que rondam na minha cabeça, e eu às escrevo aqui, por algum motivo.