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Coloco minha roupa de academia e vou para o treino que é na parte de trás da casa mesmo. Passo por Olga no caminho que me dá um suco que está verde. Bebo de uma vez para que não volte.

Entrando no espaço em que Tchaikovsky fez uma imensa academia e espaço de treino, encontro Alex. Ele é de Londres, tem cara de mal, uma beleza simples e muito mal humorado.

-Pronta?

-Sim, Alex.

Começamos o nosso treino. Depois de muito anos, finalmente tenho derrubado ele, as vezes a gente dá sorte, não é? Sempre coloco toda a minha frustração nos treinos.

Hoje consigo derrubar ele, estando por cima, nossas respirações se misturam de tão pesadas que estão. Por um breve momento nos encaramos e sinto uma faísca ali. Mas acaba bem rápido, o cara não dá um minuto, meu amigo. Me tira de cima dele em um piscar de olho e já se levanta.

- É isso aí, parabéns. Estamos evoluindo, vá fazer musculação, mais tarde temos o tiro. Sua ficha, vou tomar banho enquanto isso.

Ele me dá a ficha e vai para o banheiro. Respiro fundo, com a frustração novamente se agitando. A vida é um limão, com toda certeza.

Hoje estou disposta a ir a procura de trabalho. Termino tudo o que tem na programação, me arrumo, aviso a Olga e saio de casa com um segurança, pegamos um Uber, para depois ele me seguir a distância. Não tem como achar um emprego com a pouca qualificação que tenho, isso é certo, então vou atrás de restaurantes, lojas de roupa, lojas de conveniência...

Me sentindo muito confiante com o último restaurante, vou para casa de Uber com o segurança. Chegando em casa já subo, tomo um bom banho, visto apenas um pijaminha e desço, minha mãe ficará muito feliz com as notícias.

- Mãe?

- Oi, minha filha. Venha aqui, estou preparando um lanchinho para a gente ver uma tv.

-Hmm, que delícia. Já está acabando? Vamos logo, tenho novidades.

Ela ri do meu entusiasmo e seguimos para a sala.

-Lara, nós já conversamos de você ficar só de pijama pela casa. Sei que o senhor Tchaikovsky não está em casa, mas nunca se sabe.

- Ele não deve voltar hoje, mãe. E estou querendo ficar confortável, andei muito. Enfiiiim, acho que irei conseguir um emprego!

Falo animada, fazendo ela parar de mexer na tv, ri para mim igual boba e me abraça.

-Me fale mais, ande.

- Não é nada demais, é um restaurante pequeno, a família é brasileira e eles gostaram muito de mim, disseram que me ligariam amanhã se tudo desse certo. Eu gostei muito do local, me senti a vontade, pois é pequeno e confortável. Vi que o que eles oferecem de principal é a comida do país deles, mas tem as nossas também.

-Hmmm, será que você vai conseguir trazer um pouco pra nós? Nunca comi nada de lá.

-Ai mãe, a senhora só pensa em comer, mas eu confesso que não vejo a hora de experimentar também.

Rimos juntas, a felicidade está ao nosso redor, ficamos mais um tempo vendo tv, mas ela decidi ir deitar e eu também.

Acordo no meio da noite assustada, mais um pesadelo. Dessa vez foi um pouco do dia em que se juntaram meus três irmãos para me bater e me jogaram no guarda roupa.  Com uma pitada de ratos e baratas comendo minha pele. Genial, cérebro, genial.

Desço da cama para pegar água na cozinha, uma ou outra luz bem fraca fica acesa nos corredores, na parte de baixo também tem. Encontro na geladeira um bolinho com recheio, um pouco de satisfação no meio da noite é bom. Pego o bolo e a água, me sento nas cadeiras para começar a comer. Escuto um barulho na porta, já pego uma faca preparada para quem quer que esteja lá. Me escondo atrás da parede, mas a pessoa não vem. Dou uma espiada e vejo Ivan subindo as escadas.

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