Eis que eu decidi abrir aquele maldito livro.Depois que me bateu, eu não voltei a me encontrar com o rei Leôncio. Não que eu estivesse fugindo da presença dele, não era isso. Ele foi quem desapareceu.
E isso durante dias.
Parecia só haver a solidão e eu naquele palácio.
Foi então que numa triste noite, depois de ter jantado sozinho mais uma vez, que eu decidi procurar pelo rei.
Não podia simplesmente ter acabado daquele jeito. Eu sabia que Leôncio estava confuso, não que fosse correto o que eu havia feito, mas eu sentia que isso não tinha mais importância para nós dois.
Tínhamos algo em comum. Uma coisa não natural, uma coisa que ia além de todas as normas, muito além de tudo o que as palavras haviam um dia contado.
E mais uma vez, nada mais importava.
Nada naquele reino era normal, porque a vida quis assim, porque ela não se importou com o que poderia acontecer a um recém nascido abandonado no meio do nada, sujeito a todos os perigos que ela mesma colocaria em seu caminho.
Se nem a vida se importava, por que nos importariamos?
Mas o destino nos aproximou, e nele eu acreditava. Havia um motivo para eu estar ali. Era só nisso que eu acreditava.
E outra vez, nada mais importava.
Então, fui procurá-lo pelo castelo. Mas não o encontrei em lugar nenhum, imaginei que ele só poderia estar em um local.
Subi as escadarias à procura dos aposentos reais.
Foi difícil, mas encontrei o seu quarto. Haviam muitas partes daquele castelo que eu ainda não tinha conhecido, e o quarto dele era uma dessas partes.
Empurrei lentamente a porta e pude ver de longe ele caído ao chão. Não estava apenas caído, ele se contorcia e gritava de dor. Não me aproximei logo, quis antes entender o que estava acontecendo.
Foi então que o rei se pôs de joelhos e arrancou com força a camisa que vestia. Seu corpo estava muito suado, pude perceber pelo reflexo do brilho das chamas das tochas sendo refletidos no corpo dele.
Leôncio passou a gemer ainda mais alto. Ele olhou para mim, seus olhos estavam em um tom de amarelo. E haviam presas afiadas em seus dentes. Logo, ele apoiou seus braços ao chão. Foi assustador ver cada parte do corpo dele se contorcer de maneira anormal, ver pêlos grossos se espalharem por todo o corpo dele. E foi apenas quando o grande lobo se formou por completo à minha frente que tudo fez sentido.
Estava bem claro.
Assim que se transformou naquela besta, ele caminhou em passos mansos até o parapeito de uma das janelas e saltou para o lado de fora do castelo. Não sei o porquê, mas acho que mesmo tendo me visto, não se incomodou com minha presença.
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CONTO DE FADAS GAY
RomanceApós aprontar mais uma das suas, o jovem príncipe Santiago é enviado pelo padrasto a um reino desconhecido e enigmático como punição por suas atitudes rebeldes. Lá, ele descobre um lugar encantado, repleto de segredos e mistérios. O reino antigo esc...