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 O momento de dizer adeus, esse foi o pior

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O momento de dizer adeus, esse foi o pior.

 Olhar nos olhos de Leôncio e ter de me contentar apenas com um aperto de mão. Foi doloroso não poder abraçá-lo, sentir o toque dele uma última vez.

 Mesmo assim, não queria soltar sua mão. Meu padrasto, o rei Estevão, estava ali em nossa presença, e teve que assistir aquela longa e silenciosa cena.

— Até mais, Santiago! — foram as palavras de Leôncio.

 E em pensar que na noite anterior eu estava entregue nos braços de Leôncio, minha boca na sua e nossas almas se encontrando naquele beijo.

 Estávamos todos do lado de fora, do outro lado do muro que separa o castelo das roseiras.

 A carruagem nos esperava. Os cavalos, inquietos, batiam os cascos no solo, agora, sem nada de neve.

 Estevão estava na porta da carruagem.

 Estranhei o comportando dele diante de Leôncio, ou do próprio Leôncio com ele. Foi apenas cumprimentos secos, apertos de mãos. Até que fazia sentido, afinal, para meu padrasto eu não sabia de nada sobre o passado deles, ele não fazia ideia de tudo o que havia acontecido naqueles longos dias.

— Vamos, meu filho! — disse Estevão. — Está na hora de irmos.

 Olhei para meu pai, em seguida de volta para Leôncio.

 O olhar dele era tão… diferente. Era uma sensação tão confortante quando eu estava com ele. E eu queria a todo momento estar com Leôncio.

 Quando ficávamos perto um do outro, mesmo quando o silêncio dele era insuportavelmente chato, parecia que estávamos dizendo alguma coisa para o outro.

O que eu poderia fazer para ter mais daquilo? Para vê-lo novamente. Para poder tocá-lo e… e até mesmo beijá-lo impuramente mais uma vez?

 Seria necessário outro castigo para eu estar novamente com Leôncio? Seria uma punição que valeria a pena.

— Eu não quero ir.

 O silêncio que tomou conta do momento foi constrangedor.

 Os olhos de Leôncio passaram a ter um brilho especial, como numa mistura de espanto e felicidade.

 Quase pude ver um sorriso de formar, antes dele sussurrar:

— Não faça isso!

 Por sorte, ou azar, meu pai estava longe demais para escutar-me.

— O que disse, Santiago? — perguntou ele.

 E eu queria muito dizer novamente aquelas palavras, estava disposto a isso.

— Vá embora, Tiago!

 Ouvir aquilo da boca dele me fez sentir o oposto de felicidade, mas não foi uma tristeza dolorosa. Era um sentimento bom de sentir, pois, no fundo, eu sabia as verdadeiras intenções daquelas palavras.

 Ele só estava me protegendo.

— Mas… eu… amo você — disse a ele, ao mesmo tempo que senti uma lágrima gelada escorrer sobre meu rosto.

— Eu também amo você — disse ele.

 Senti Leôncio fazer um movimento lento com seu dedo sobre o meu, no aperto de mãos interminável. Era a única maneira de mostrar-me o sentimento e a vontade dele naquele momento.

— Adeus!

— Adeus… Santiago!

 Depois que entrei na carruagem, meu pai à minha frente, olhei pela janela. Leôncio ainda estava lá no mesmo lugar, observando enquanto nossa carruagem desaparecia de sua visão por entre as roseiras.

— Aconteceu alguma coisa, Santiago? — perguntou o rei Estevão, me tirando de meus devaneios.

— Não, pai.

— Você parece atordoado.

— Não é nada. Só que… não posso fingir que nunca estive aqui. Vou levar esse lugar comigo… para sempre.

— O que houve de tão marcante para te fazer pensar assim?

— Nada!

 Enquanto nossa carruagem já ia muito além das fronteiras daquele reino, Leôncio se encontrava em meio a tristeza, procurando em seus pensamentos pelas últimas lembranças que tinha de mim: o jovem rapaz magricela, extremamente pálido, de cabelos cor de carvão e por crescer.

 Foi, simplesmente, extraordinário quando Leôncio se levantou do chão onde se encontrava desolado, e sentiu uma brisa forte e gélida vinda vinda do mar de rosas vermelhas.

 Ele olhou para o horizonte, e não soube como reagir ou o que sentir quando viu, bem ao longe, o mar de rosas começar a escurecer. Mas não havia com o que se preocupar, e ele percebeu isso quando viu que as rosas estavam apenas murchando.

 Todas as rosas.

 Aquelas árvores estavam, simplesmente, morrendo.

 Leôncio nunca imaginou que veria aquilo acontecer: sua maldição realmente chegar ao fim.

 Então, sentiu o chão tremer sob seus pés. Não sabia o que estava para acontecer, e não conseguira controlar seu choro quando, do chão embaixo da ponte levadiça, começou a verter água.

 Todavia esperou quando veria aquele fosso correr com suas águas ao redor de seu castelo.

 Teria ficado ali, observando os últimos segundos da maldição chegar ao fim, mas não ficou.

 Príncipe!, gritou uma voz esperançosa vinda do portão de entrada.

 Ele então olhou, e ficou surpreso quando viu o casal de estátuas, agora em suas formas humanas, caminhando em direção a ele.

 A jovem dama já estava aos prantos. Acompanhada do guarda e parceiro de dança, ela vinha em seus passos trêmulos e incertos.

 Não seja tolo, meu amor; dizia ela ao seu parceiro, ele não é mais nosso bebezinho indefeso. Agora ele é o rei de Santiago.

CONTO DE FADAS GAYOnde histórias criam vida. Descubra agora