Após aprontar mais uma das suas, o jovem príncipe Santiago é enviado pelo padrasto a um reino desconhecido e enigmático como punição por suas atitudes rebeldes. Lá, ele descobre um lugar encantado, repleto de segredos e mistérios. O reino antigo esc...
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Amanheceu.
Lá estava eu à mesa, mas não esperando pelo café da manhã. Meu único interesse ali era encontrar Leôncio.
Pela primeira vez eu havia chegado primeiro. Talvez aquela fosse uma das vezes em que ele não aparecia para o café. E eu finalmente sabia qual era o motivo. Certamente, a noite andando como um animal selvagem havia sido muito desgastante.
Mas ele apareceu para o café momentos depois de meus pensamentos.
Sua aparência e comportamento eram de como se nada tivesse acontecido.
— Bom dia — disse ele.
Eu apenas o observei se acomodar a mesa e se servir.
— Não lembra o que aconteceu ontem? — perguntei.
— O que aconteceu?
— VOCÊ aconteceu. Se tornou uma fera bem diante dos meus olhos.
Calado, ele abaixou o olhar.
— Você viu?
— Todos os detalhes.
— Desculpe. Queria ter te poupado da cena macabra.
— Você viveu com isso a sua vida inteira. Deve ter sido muito difícil.
— E foi. Você nem imagina o quanto.
Era triste saber que alguém foi impedido de viver uma vida normal como a de qualquer outra pessoa, e sem ao menos ter a opção de escolha.
Toda a vida de Leôncio foi construída dentro de uma prisão. Um castelo e um reino abandonado. Sozinho, sem família, sem amigos, sem alguém para amar e confiar, sem ser amado. Tudo o que ele aprendeu em sua vida foi através dos livros da biblioteca do palácio. Foi assim durante sua infância, toda a adolescência e vida adulta. Era apenas ele e as sombras de um reino esquecido.
Eu admirava ele por ter conseguido sobreviver até ali. Na verdade, admiração é uma palavra muito fraca para o que ele realmente merece.
Eu amava quem aquele homem era.
— Como conheceu meu padrasto? — perguntei.
— Conheci ele em minha adolescência. Ele me encontrou largado na floresta, nu e desorientado. Seu pai me ajudou, me deu abrigo. E quando me viu passar para a outra forma, não fugiu de mim. Ficou ao meu lado e me ajudou a voltar para casa.
— Vocês se tornaram amigos.
— É. Talvez.
— Não acredito que ele teve coragem de me mandar para um lugar como esse.
— Não haveria perigo contanto que você ficasse sob as regras que eu impus. Eu não concordei com esse castigo, porém devia favores ao seu pai e não podia recusar.
