O Primeiro Beijo de Sirius e Remus

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Não era assim que deveria acontecer.

Remus imaginou esse momento uma dúzia de vezes. Mais, na verdade. O que é embaraçoso admitir. Geralmente é suave. Gentil. Normalmente ambos estão sorrindo. E sim, isso torna o beijo um pouco estranho, mas também o torna muito, muito doce.

Ele imaginou o peso do toque de Sirius, o calor, como seria ter a linha dura de seu corpo pressionando contra ele. Ele pensou em pegar sua boca. Pegando-a até que esteja tão perdida que ninguém mais possa encontrá-la além dele.

Ele pensou no lábio inferior de Sirius, aquele que ele faz beicinho com tanta frequência, como se estivesse provocando Remus. Colocando-o para fora, apenas implorando para ser mordido, chupado ou lambido.

Remus escreveu romances em sua cabeça sobre seu primeiro beijo. Sonetos. Monólogos. Ele pintou obras-primas.

Não era assim que deveria acontecer.

Em seu dormitório escuro, Peter roncando em sua cama, Sirius uma bagunça. Mesmo que eles tenham ido para a enfermaria. Mesmo sabendo que James está bem. Por um minuto—por um minuto, ele não estava. E isso quebrou Sirius.

"Eu deveria protegê-lo," Ele sussurra, a cabeça embalada entre as mãos. "Quadribol é o único lugar que ele me deixa fazer isso. Em todos os outros lugares, ele sempre tem que levar a porra do golpe, mas no campo, no campo ele me deixa ficar na frente dele. E eu—" Sua voz falha e Remus estende a mão. Ele quer apenas agarrar seu braço. Ou seu ombro.

Em algum lugar seguro.

Ele não sabe como sua mão se desvia, como ela acaba cobrindo o rosto de Sirius, trazendo olhos cinzas piscando em sua direção.

"Isso não foi culpa sua," Ele sussurra.

Algo se acende entre eles. O que antes daquele momento não era mais que a sugestão de um sentimento, de repente cresce braços, pernas e dedos. De repente, engancha-se em cada um de seus corações e começa a arrastá-los juntos.

É um sentimento tão visceral. Tão real. Físico. Que Remus tem que usar sua mão livre para checar seu peito e ter certeza de que algo não está realmente puxando nele.

Ele não tem certeza se é só ele. Ou se é Sirius também. Se os dois estão inclinados para frente, fechando o espaço entre eles, embaçando o vidro da janela com pequenas respirações aterrorizadas.

Nenhum deles desviou o olhar, desde que Remus começou a tocá-lo. Seu polegar roçando cuidadosamente a bochecha de Sirius, Sirius pressionando sua palma.

"Isso não foi culpa sua," Remus repete.

"Remus."

Quando você diz um feitiço, há algo mágico na palavra. Na sua voz. Algo que atrai forças muito grandes, muito antigas e muito complexas para que alguém realmente entenda. Mesmo os mais inteligentes e sábios não têm as respostas. Quando você diz um feitiço, você transforma palavras em pó de fada. Você muda o mundo ao seu redor.

"Remus."

Sirius se move primeiro. Fechando o espaço entre eles e se derramando entre os lábios de Remus.

Não é suave. Ou gentil. E ninguém está sorrindo.

É desesperador. Como se não fosse algo que Sirius queira, mas algo que ele não pode deixar de precisar. Ele treme sob as mãos de Remus, os dedos entrelaçados em seu suéter.

Medo.

Medo e culpa e vergonha.

Mas Remus vai aceitar.

Porque ele pensou nisso mil vezes. Mas ele nunca acreditou, nem por um segundo, que pudesse realmente ter. Mesmo assim. No escuro. Por acidente. Porque simplesmente não pode ser evitado.

E então de repente Sirius está se afastando, tropeçando em seus pés, olhos arregalados enquanto eles encaram Remus, que caiu no espaço que ele acabou de deixar.

Remus já viu aquele olhar antes.

Seu pai o usa com frequência.

"Sirius—" Ele engasga.

Mas o outro garoto apenas balança a cabeça. Implorando. Suplicante. Não me faça aceitar isso. Não me faça encarar isso. Não torne isso real. E então Remus fica quieto e observa Sirius se atrapalhar até sua cama, puxando as cortinas em volta dele e se escondendo como se ele não pudesse suportar nem que Remus olhe para ele.

Remus não chora, porque ele é velho demais para isso. Porque ele é muito inteligente. Porque ninguém pode vê-lo para que ele possa fingir que é verdade.

Não era assim que deveria acontecer.

Mas então, nada na vida de Remus parece ser do jeito que deveria.

Choices - Extras da AutoraOnde histórias criam vida. Descubra agora