CAPÍTULO 1

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KENJI

Quando alguém me disser que é possível qualquer coisa acontecer nesta vida, eu nunca, mas nunca mais vou duvidar.

Eu nunca imaginei que Warner – ou Aaron, mas só a J pode chamar ele assim sem que ele vire um animal pronto para te esfolar só com os olhos – antigo líder do Setor 45, aquele cara frio, que não demonstrava sentimento por ninguém fosse capaz... disso.

De chorar. Em público.

Beleza, eu já testemunhei situações bem mais vulneráveis dele. Já presenciei ele sucumbir a um ataque de pânico após a J terminar com ele, já o vi praticamente se matar para a J não sair de seus braços e sumir dentro da bolha de dor que ela se encontrava quando Emmaline entrou na cabeça dela, já o vi se tornar algo mais humano – por causa da Juliette – e ele de repente regredir ao bom e cruel Warner apenas pelo fato de que ela estar longe dele.

Sim, já entendi que o que o move a ser um pouquinho diferente todos os dias é Juliette. O seu amor por ela e o fato de a J amar todo mundo. Porque naquele pequeno coração, cabe mais amor do que o planeta inteiro a pode oferecer.

A bondade de Juliette é algo tão... natural. Algo tão próprio dela, que faz iluminar a qualquer lugar que ela passe, que até coloriu a tormenta que Warner carrega dentro de si.

Eu fiz uma simples piada de J ser o sol de suas nuvens chuvosas, o que resulta no amor deles que é tão meloso e colorido que o contexto disso se resultar em um arco-íris pareceu a melhor frase de efeito do mundo.

Faltou um triz para Warner me enterrar no chão terroso que pisávamos. Bem ali mesmo.

Juliette que transforma Warner todos os dias. Ela é a âncora dele, o que o impede de sucumbir a sua antiga versão para sempre.

Mas eu nunca seria capaz de imaginar que essa mudança diária seria tão... radical.

Até agora pouco, eu estava distraindo Warner com palavras bobas sobre como J – que eu espiei pela porta do quarto que estava, ela olhando para o seu reflexo pronta e com lágrimas beirando seus olhos – estava deslumbrante em seu vestido que Winston e Alia ajeitaram a tempo de consertar a cagada que eu fiz com o vestido original, agora, destruído.

Mas nada disso importa mais, pois quando James aparece com seu mini terno, parecendo um principezinho de contos de fadas e J segue atrás o meu fôlego e o de Warner escapa dos pulmões. Seu vestido suave e repleto de continhas brilhantes, faz reflexo com a luz do sol que está se pondo. As mangas — do que Warner diz que é tule – descem pelo seu ombro como se fossem duas penas penduradas e o véu a envolve como uma auréola. Juliette parece um anjo. Um anjo que abençoou a vida de todos que hoje a veneram como a heroína do mundo.

Ela insiste que não é bem assim e realmente há verdade nisso. O nosso trabalho foi em equipe, algo que se não fosse coletivo estaria fadado a derrota. Porém se J não tivesse enfrentado tudo com a coragem e a força que tem, também estaríamos perdidos.

Juliette nos salvou, sim. Quer ela aceite isso ou não.

Mas hoje ela só tem olhos para o sortudo ao meu lado. Para o cara que muita gente aqui do Santuário fala que não a merece, o que discordo.

Eles passaram por tanta coisa, enfrentaram tantos obstáculos para encontrar o caminho de volta um para o outro, que seria uma blasfêmia ao amor falar que eles, Juliette e Warner, não estavam destinados um para o outro.

Eu não tenho do que me queixar, o amor da minha vida está agora lutando contra os ciscos que insistem em bater nos seus olhos e ela parece que está travando uma batalha para eles não caírem. A vontade que me dá agora é de ativar o meu poder e acariciar o seu rosto, sussurrando em seu ouvido que ela pode chorar que eu seria o para-brisa de seus olhos.

VENERE-ME (Conto 7 de ESTILHAÇA-ME)Onde histórias criam vida. Descubra agora