1º dia na enfermaria

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Pov. Nico

    Três dias na enfermaria, era uma péssima ideia, mas  resolvi aceitar. Eu não tinha nada a perder em conhecer mais de perto Will Solace. Na verdade eu tinha minha dignidade, orgulho e a fama de afastar as pessoas, mas resolvi ouvir o conselho da Bianca, do meu pai por mais assustador que pareça, do Cupido aquele desgraçado, de Jason e resumindo, todos. Não seria nada parecido com qualquer coisa que eu fiz, mas eu estava disposto a tentar.

    Tudo parecia tão igual, mas tão diferente após a guerra com Gaia. Os romanos voltaram para São Francisco deixando Jason aqui com a sua missão de Pontifex, o Acampamento Meio Sangue voltou as atividades normais e hoje seria meu primeiro dia de descanso, se é que eu vou conseguir ficar lá.

    Acordo com batidas insistentes na porta do chalé 13, não tenho o hábito de acordar cedo, na verdade não sou muito afetuoso às manhãs, principalmente as ensolaradas, mas quando abri a porta um sorriso doce, gentil e um tanto brilhoso demais me aqueceu. Eu podia jurar que o próprio deus da poesia e arquearia estava diante de mim se não o conhecesse, mas quando ouvi a voz do ser diante de mim sai do transe e cai na real.

    - Típico de um filho do mundo inferior. - Ele sorriu e me empurrou obrigando-me a dar espaço para ele entrar. - Vamos Garoto da morte vá tomar um banho, vou esperar você pra garantir que não vai fugir de mim.

    Demorei uns cinco segundos para entender o que havia acontecido. Ele não parecia ter medo de mim e isso era muito estranho.

    - Não me chame de garoto da morte, raio de sol. - Disparei vendo-o balançar a cabeça enquanto ria sem graça. - E eu não ia fugir de você. - Completei dando-lhe as costas e indo para o banheiro.

    Entrei no banheiro e tentei ser rápido, não gosto de deixar ninguém esperando.  Aquele garoto tinha uma áurea tão brilhante que eu podia jurar que o chalé ficou até mais iluminado quando ele entrou, falando em chalé preciso mudar essa decoração horrível. Saio do banheiro sem camisa e dou de cara com um Will um tanto a vontade na minha cama, ele não parecia se importar com quem eu era. Ou parecia não me conhecer o bastante para começar a se incomodar. Percebi que ele enrijeceu um pouco e se endireitou baixando os olhos com o rosto um pouco corado, não sei porque  mais eu gostei daquilo. Cruzei o quarto a passos rápidos, vestindo a primeira blusa que encontrei a minha frente, não era a do acampamento, diferente de Will eu não gosto de cores vibrantes, o preto é sempre o que me cai melhor.

    - Nunca vi alguém ficar tão bonito para passar o dia deitado num maca. - O loiro debochou.

    - Bonito? Então é isso que eu sou. - Peguei ele que ficou corado instantaneamente.

    - Desculpe, mas as vezes penso alto demais e não sou bom em esconder sentimentos. - Ele riu nervoso. - Sentimentos? Ele tá falando sério? - Sabe Nico – Will começou já de pé me acompanhando até a porta – seu chalé é bem legal, eu gosto dessa áurea negra, mas as camas parecem desconfortáveis.

    - E isso porque você não dormiu a noite inteira lá, se bem que já dormi em lugares piores. Vou convocar alguns zumbis arquitetos para me ajudar com essa parte, talvez meu pai enviei umas camas super macias assim como um presente – a ironia na minha voz chegava a ser palpável.

    - Você não vai convocar nada! - Will me parou na porta. - Se quiser redecorar seu quarto peça ajuda aos seus amigos aqui no acampamento ou até mesmo seu pai, mas eu não vou deixar você se ariscar mais. E tem mais, Annabeth ficaria ofendida com essa história de zumbi arquiteto. - Ele riu por fim. 

    - O que é engraçado Solace? Eu odeio incomodar ou depender dos outros. - Bufei zangado.

    - Você é engraçado. - Ele me olhou quando saímos do chalé e eu não sabia se ele ou o próprio sol brilhava mais. - "Zumbi arquiteto", só você mesmo... - Will passou as mãos no cabelo fazendo-os balançar harmonicamente. - Sabe eu até gostaria de conhecer aquele seu zumbi choffer, até que passear um pouco por Manhattan não deve ser ruim.

    - Você não conhece Manhattan? 

    - Não na sua companhia... - Ele respondeu e eu tentei esconder o rubor nas minhas bochechas e baixei os olhos pro meu sapato.

    - É bem mais legal pelas sombras... - lancei a isca.

    - Nada de sombras, Di Ângelo! - Ele gritou novamente, mas logo sua expressão aliviou. - Vou precisar ficar de olho em você, garoto da morte. - Ele sorriu pra mim quando nossos olhares se encontraram.

    - Talvez seja difícil manter um olho em mim, raio de sol. - Will sorriu. - E não me chame de garoto da morte! - Falei firme.

    - Você prefere rei dos fantasmas? - Ele debochou sorrindo pra mim e eu não pude deixar de perceber o quanto ele estava feliz hoje.

    - Você não tem mesmo medo de mim, certo, Solace? - Lancei um olhar sombrio pra ele.

    - Não. - Ele disse doce tocando meu queixo de leve enquanto chegávamos na porta da enfermaria que estava bem vazia por sinal.

    - E raio de sol? Não te irrita? - Tentei incerto sobre o que ele iria fazer.

    Entramos e ele apontou a maca mais próxima para mim e ficou ao meu lado.

    - Não luto contra o que sou, luto contra o que não quero me tornar. E você – ele disse me fazendo deitar na maca – pode me chamar do que quiser, até de raio de sol.

    Eu não podia dizer o quanto estava ruborizado agora, Will era bastante direto nas palavras coisa que eu ainda estava treinando. Ele não parecia mesmo ter medo de expressar seus sentimentos, como ele mesmo disse, eu só não decidi se isso é bom ou ruim. Vi Will caminhar em volta de mim e preparar diversas poções de cura, do outro lado da enfermaria ainda tinham dois campistas feridos, eles precisavam de repouso e um pouco mais atenção, assim como eu, segundo Will.

    - Beba um pouco – ele disse me oferecendo um copo um liquido branco dentro -, descobri que porção de unicórnio e gatorade funcionam melhor com você do que o próprio néctar. É Nico Di Ângelo, – ele suspirou – você é mesmo um semideus misterioso.

    - Não é para tanto Solace – disse depois de beber metade aquele copo -, eu não sou isso tudo. - Will parecia uma mistura de anjo e deus, os cabelos loiros cacheados tornava-o angelical, mas o corpo forte, o porte elegante, a beleza extrema e o sorriso encantador faziam dele um deus.

    - Vamos, beba tudo e não me enrole. - Will parecia uma mãe chata. - Não tenha medo, é uma quantidade aceitável para você. Isso não vai te fazer entrar em combustão, você é muito resistente.

    - Reyna ou Hedge contaram alguma coisa? - De repente eu me senti suar.

    - Apenas o suficiente para eu querer cuidar de você, pessoalmente. Você foi muito valente Nico – ele se aproximou e sentou na maca ao meu lado -, sem você não estaríamos em paz agora. Devemos nossa vida a você, também. Deixe-me cuidar de você, hum? - Will era tão doce e carinhoso que eu não conseguia entender o porque ele quer tanto ficar perto de mim, que sou o contrário, totalmente o contrário dele.

    - Não fiz mais do que qualquer um faria. - Resmunguei.

    – Eu duvido que muitos poriam a própria vida em risco, quase se condenando a morte para salvar a todos - ele riu -, você é muito modesto – ele tentou tocar novamente meu rosto, mas eu me afastei por hábito fazendo-o se afastar também ficando de pé. – De-desculpe. Apenas durma, ainda é cedo e você precisa muito descansar.

    Will falou a certa distância de mim e eu amaldiçoei mentalmente minha grande capacidade de ser idiota e fastar as pessoas, mas resolvi não discutir.
    Deitei de lado fechando os olhos e imediatamente sentindo o peso do sono neles, eu não gostava de me sentir exposto e vulnerável, mas eu precisa tirar qualquer ressentimento do meu coração e ser mais sociável. Talvez Will possa ser a minha luz... O sono veio forte, mas eu ainda pude sentir Will estender um lençol fino sobre mim e murmurar uma benção de Apolo.

Solangelo para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora