Que Comece os Jogos Vorazes

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Como se finge gostar de alguém?

Essa questão preencheu a minha mente quando a Agatha foi embora.

É óbvio que já fingi gostar de pessoas, se você está vivo já fez isso várias vezes. Não significa que você é uma pessoa ruim, só que está sobrevivendo, porque também ninguém vai chegar para um taxista e ir contra as ideias dele, por mais idiotas que sejam.

Mas em todos esses casos não chega a ser um gostar, é mais fingir que você respeita e que teria outra conversa com a pessoa (Mesmo que isso nunca vá acontecer). O que Agatha espera de mim é que eu finja ter atração.

Como?

Eu tentei pesquisar no google lista de ações faciais ou corporais que demonstram atração e como saber que uma pessoa gosta de você, mas fazer qualquer uma dessas coisas só me causaria desconforto e vergonha, como olhar muito para ele, dar sorrisos mais longos e jogar a cabeça de lado (Esse último inclusive é muito nada a ver, eu jogo a cabeça de lado quando eu estou com duvida e eu não tenho interesse na minha professora de programação e matemática). Na verdade muitas coisas dessa lista estão completamente erradas, como "Fazer contato visual", eu fico encarando as pessoas quando estou imaginando formas de me livrar dela.

Apesar de tudo decidi escolher algumas menos piores:

Ajeitar os cabelos, a postura ou a roupa.

Buscar proximidade (Não tanta, eu tenho princípios).

Prestar atenção no que ele está falando (Por mais merda que seja o assunto).

E tentar rir (Tentar, porque vai ser difícil).

Mesmo tendo essas estratégias em mente, eu não sei como fazê-las na prática. Fiquei treinando no espelho e o resultado foi um fracasso. Eu me senti um idiota.

Imagine a si mesmo se auto encarando enquanto mexe no cabelo e dá umas risadinhas. Se não tiver uma crise de vergonha, você é um guerreiro.

Depois de um tempo eu simplesmente canso e prefiro me trocar para esperar Nathaniel chegar, mas até trocar de roupa me da dor de cabeça. Eu não vou colocar uma roupa que eu gosto muito, ele não merece isso. Colocar algo despojado também seria sacanagem comigo, porque eu mereço me arrumar para mim mesmo. Também tenho que colocar na balança o fato de que preciso parecer interessado com essa palhaçada, senão eu estou ferrado.

"Ah, que se foda" penso depois de um tempo.

Pego uma blusa com estampa de pokebola e uma calça jeans. Nem olho no espelho para não me arrepender.

Quando desço as escadas escuto a campainha tocar.

— Eu vou abrir — Corro até a porta para que Adenilda nem tenha chance de chegar perto do Nathaniel, mas não adianta nada.

Quando coloco a mão na maçaneta minha avó já está do meu lado esperando para ver quem chegou. É impressionante como essa mulher usa andador e é mais rápida que eu.

— Está esperando alguém, querido? — Ela pergunta.

— Um colega da minha sala veio para me levar para um passeio — Invento a desculpa na hora, na minha cabeça era boa, mas quando solto em voz alta percebo como foi a pior frase possível.

— Colegas? — Seus olhinhos brilham enquanto ela fala — Você está se dando melhor com sua sala, então?

— Estou tentando aos poucos — Uma grande mentira.

Eu não falo com as pessoas do colégio das Máscaras desde o início do ano e isso sempre incomodou dona Nilda, que não achava saudável eu só manter o mesmo círculo de amigos e não me abrir para novas experiências. Eu não vejo nada de errado. Não preciso de colegas idiotas, de uma escola idiota onde meus pais idiotas me colocaram.

Era Para Você Dizer Não!Onde histórias criam vida. Descubra agora