Era Para Você Dizer Não!

Comecei Com Dúvidas e Terminei Com Novas

Eu fiz merda.

Não, não estou falando da merda que já está rolando desde sábado onde o final vai ser meu corpo jogado em uma vala. Ignora isso.

A merda é que eu topei vir em um restaurante mexicano, mas eu esqueci que nunca gostei dos pratos mexicanos e também não aguento pimenta.

Fico um bom tempo só com o cardápio aberto, evitando olhar para o Nathaniel e tentando descobrir o que naquele cardápio não seria picante. Alguns pratos tem um desenho de pimenta na frente do nome, mas outros sem esse desenho também parecem ser apimentados.

O que eu faço agora? Peço o que menos tem cara de apimentado e tento disfarçar? Só peço uma água e falo que estou sem fome? Taco o fadasse e peço um cheio de pimenta porque eu sou o fodão? Peço dica para os atendentes?

Não...

Nenhuma opção é minha cara. Quer dizer, eu normalmente pediria ajuda para descobrir quais os pratos com pimenta eu pedir para tirar do meu, mas não vou fazer isso na frente do Nathaniel, seria entregar uma fraqueza de mão beijada.

Pela primeira vez no dia eu tento não olhá-lo e ele faz a mesma coisa. O diálogo no carro foi uma merda mesmo, além de me deixar cheio de perguntas, principalmente sobre aquela frase final.

"Porque eu não teria outra chance"

Que chance? De acabar com a minha vida?

— Ei — Ele chama, olhando seu próprio cardápio — Já sabe o que vai pedir?

— Mais ou menos, estou em dúvida entre dois — Uma mentira enorme, não faço a menor ideia.

— Se quiser uma sugestão — Levanta um pouco a cabeça, hesitando entre meu olho e a mesa — Sempre que eu, minha irmã e meu pai viemos aqui almoçar a gente pede Flautas e Fajita Mista para dividir, mas aí fica por sua conta, porque não sei se você já almoçou.

— Eu não almocei — Quando cheguei do colégio tinha falado para minha vó que comi um salgado, porém era só uma mentira para ela não ficar tão preocupada — E gosto da ideia de dividir.

— Então posso pedir isso mesmo?

— É que, eu nunca comi nachos, queria saber como é.

— Todo pedido vem acompanhado de um pouquinho de nachos, chilibeans e guacamole, mas se você quiser a gente troca as flautas pela porção de nachos.

— Eu vou querer.

— Ok.

Nathaniel chama o garçom e faz o pedido.

O silêncio retorna.

Depois de 5 minutos uma moça vem trazendo guardanapos, condimentos (Sal, açúcar e 3 tipos de molho de pimenta) e tirando os cardápios.

Fico observando duas crianças brincando do outro lado da rua, tentando se esconder atrás da sombra um do outro, enquanto Nathaniel pega os temperos e começa a ler as informações nos frascos.

O clima desse "encontro" está tão ruim que o cara prefere ler ingredientes de um molho de pimenta a conversar comigo.

Dica: tem pimenta.

— Posso pedir para tirar da mesa? — Ele pergunta

— O que?

Ele aponta para o molho de pimenta em sua mão.

— Claro — Falo.

Abrir a boca para falar com ele nunca foi tão estranho, porque parece falso. Eu não quero responder ele normalmente, quero perguntar o que caralhos ele tem contra mim para vir nessa merda.