Capítulo 1

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Vou dar dois presentinhos para vocês, por terem recebido a história da Helô e do Dom com tanto carinho: estou publicando os capítulos 1 e o 2 (para vocês poderem conhecer a narração do Domenico também)❤ Obrigada demais pelo apoio, gente ❤❤❤ Segunda-feira, às 19h, sai o capítulo 4!

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Heloísa

Estou passando mal desde as 5h30 — o horário que me levanto todos os dias para iniciar a lida na fazenda. É o sexto dia consecutivo que vomito o café da manhã.

Esfrego as costas das mãos na minha testa suada. O inverno chegou há semanas, as temperaturas baixaram consideravelmente, mas meu corpo está trabalhando como se estivesse submetido a um calor abrasivo.

Sento-me num cantinho da sala de ordenha. Minhas pernas estão fracas e doloridas como acontece quando pego uma virose forte. E acredito que é essa a causa do meu mal-estar generalizado. Peguei uma das viroses insidiosas típicas da estação fria.

Mas peguei de quem?

Não tem absolutamente ninguém doente na fazenda. Marcelo, minha avó e Arcanjo não estão apresentando nenhum sintoma de infecção viral.

A Fazenda Greta — que Arcanjo herdou do pai — possui características nos moldes de pecuária leiteira de produção pequena. Existem somente quinze vacas em lactação. Meu padrasto dizia à mamãe que não tinha intenção de ser um produtor em larga escala porque o risco era muito grande e ele já possuía os compradores (seus parceiros de negócios) certos: restaurantes da região, feiras e mercados.

Ele não gosta de mudanças, é retrógrado e ignorante, além de ser preguiçoso, isso sim.

Forço-me a caminhar de volta para a casa principal. Não posso deixar vó Carlota preparando o almoço sozinha. Tento poupá-la de afazeres o máximo que consigo. A isquemia tirou-lhe a firmeza do lado esquerdo do corpo. Morro de medo de ela sofrer algum acidente grave. Ou ter outro AVC. Essa possibilidade existe e, mesmo que eu tenha trabalhado no hospital da cidade por apenas três meses antes de sair de lá para cuidar de mamãe, prestei assistência a pacientes que tiveram isquemias uma segunda vez. São os males da idade avançada. E com setenta e seis anos, minha avó está envelhecendo, não ficando mais jovem.

Atravesso o terreno entre o galpão e a casa de seis cômodos, mas estanco, fechando os olhos, a poucos passos da porta da cozinha, acometida por uma tontura fortíssima.

Mais essa!

Um focinho gelado fareja minha mão. Abro os olhos, sorrindo para Toby, o labrador que Arcanjo deu de presente para animar minha mãe, que amava cachorros como eu.

— Sua amiga não está muito bem, Tobinho — conto-lhe, afagando seu pescoço. Ele lambe minha mão e se põe a correr em volta de mim. — Não vou conseguir brincar com você hoje, me perdoe.

Ele late, parando em minha frente, como se estivesse me desejando melhoras. Rio da minha imaginação hiperativa. Mas criei um vínculo tão especial com esse cãozinho, meu grande companheiro nesse mar de afazeres e solidão, que estou começando a enxergá-lo como gente.

— Queria poder deitar um pouco pra ver se melhoro — continuo nossa prosa. — Mas o trabalho por aqui não tem fim, você sabe. E Arcanjo não aceita contratar mais ninguém pra me ajudar. Ele diz que eu e Marcelo damos conta de tudo. Como se aquele carinha pusesse a mão na massa e não ficasse o dia inteiro trancado no escritório do seu patrão, bancando o patrãozinho! Enquanto isso, meu padrasto está lá no riozinho, no fundo da fazenda, pescando. Veja se pode!

Toby late de novo, alçando as patas em minha barriga dolorida. Meu baixo ventre está bastante sensível faz vários dias. Atribuo isso à bendita virose. Ela está mexendo com o funcionamento do meu organismo inteiro. Até minha menstruação está atrasada há...

Quando o amor chegou [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora