Feixe de Luz Distorcido

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Eu tenho as chaves do carro
Você tem as chaves dos meus pensamentos
Você chama isso de karma
Eu, por outro lado, chamo isso de azar
Isso é amor? Ou só estamos querendo atenção?
Isso é amor? Ou só queremos satisfação?

Club 57, Bastille

                     

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VI

Dez minutos.

Considerando que já sou amiga de Akali há oito anos, eu já esperava que ela não estaria pronta quando eu chegasse aqui.

Mas isso não me impede de buzinar na frente da casa dela a cada dois minutos.

— Jhomen! — afundo a mão na buzina mais uma vez. — Vambora, caralho!

Akali me disse que já estava pronta quando eu saí de casa para buscá-la, mas a conheço bem o suficiente para saber que era mentira. Ela só começou a se aprontar dez minutos atrás, quando eu já estava estacionada na porta da casa dela, igual ela sempre faz. É sempre o tempo exato que ela demora para ficar pronta.

— Você é um porre, sabia disso? — ela finalmente sai, trajada de suas roupas estilo tomboy, rabo de cavalo e a cara de poucos amigos que lhe é habitual.

— De nada pela carona, imbecil. — eu dou risada, ela revira os olhos, bate a porta do carro e joga uma sacola preta no banco de trás.

Apoio o cotovelo na janela e com a mão livre manobro o carro para fora do meio fio, dirigindo como se estivéssemos indo para nenhum lugar em especial. Akali conecta o celular no cabo auxiliar do rádio, olhando atentamente a tela do aparelho em busca de alguma música. Se fosse qualquer outra pessoa isso seria quase um crime para mim, mas chegamos a um ponto de que esse carro é quase dela também, apesar de motocicletas serem mais o seu lance.

Somos amigas por mais tempo do que eu podia imaginar que seríamos, e mesmo que eu nunca diga isso em voz alta, não imagino minha vida sem essa nanica antissocial nela. Akali Jhomen Tethi é uma das poucas pessoas em quem eu confio de olhos fechados, alguém por quem eu faria coisas que não faria por mais ninguém. Na verdade, ela tem uma parte da culpa de eu estar onde estou agora.

— Quando você vai pegar seu triciclo? — questiono. Ela dá um gole na cerveja que eu deixei aberta e encaixada no porta copos, provavelmente se segurando para não arrebentar essa garrafa de vidro na minha cabeça.

Ela tem uma Ducati, uma muito bonita por sinal, com pegada esportiva e mais um monte de outras coisas que não me interessam, mas eu nunca perco a chance de zoar com ela.

— Amanhã à tarde, pelo que seu pai disse. — dá de ombros, mas sei o quão feliz e ansiosa ela está por isso. Essa moto é provavelmente o único filho que Akali pretende ter. — E você? Quando vai jogar essa coisa fora? — ela bate no teto do meu carro com as juntas dos dedos e eu meneio com a cabeça.

Meu Mustang Boss é uma das coisas mais preciosas que tenho. Ele é mais velho que eu e provavelmente mais velho que meu pai, que foi quem me deu essa lata velha. Os bancos tem algumas manchas no couro, o volante é duro e o interior, por algum motivo, tem um leve cheiro de massinha de modelar. Vez ou outra ele fica com mal contato na ignição, as peças são difíceis de achar e possivelmente eu gaste muito mais com ele do que deveria. Eu poderia comprar outro carro, um mais novo, mais veloz, mas apesar de tudo eu amo essa coisa.

Quando ganhei ele, minha irmã mais nova, Jinx, fez uma espécie de enfeite com uma foto de família para eu pendurar no espelho retrovisor. Segundo ela, para dar sorte e eu me lembrar de dirigir direito. Tenho que pensar nisso toda vez que quebro alguma lei de trânsito. Vê-los me encarando indefesos, balançando e batendo no vidro do parabrisa quando eu dou uma derrapada brusca é um ótimo incentivo para que eu volte inteira para casa.

Club 57 | CaitViOnde histórias criam vida. Descubra agora