Sangue Novo

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VI

Estaciono em frente a casa de Caitlyn quinze minutos depois do horário combinado, só para provar um ponto.

Eu acho a minha casa grande, mas a propriedade dos Kiramann é quase do tamanho de um quarteirão inteiro. A fachada da mansão é preta e branca, parecendo ter sido cuidadosamente planejada pelos mais renomados arquitetos. Há janelas por toda a parte, um jardim com a grama perfeitamente cortada e três carros esportivos muito bem polidos estão estacionados na garagem. Não tem nada decorando as paredes do lado de fora, nem pichações, nem luzes, só o minimalismo padrão de todas as casas em Piltover.

Como eu já imaginava, Caitlyn ainda não deu o ar da graça. Saio do carro e dou a volta nele, parando na frente do portão preto. Apoio o corpo na grade e dou mais uma passada de olhos pela propriedade, tentando encontrar algum sinal de vida de quem estou esperando. Olho meu celular, ela ainda não viu a mensagem que enviei reclamando. Se viu, me ignorou completamente. Bufo, tiro um cigarro do bolso e o acendo, segurando-o entre os lábios. Eu achava que Ahri demorava para cacete se arrumando, mas Caitlyn consegue bater todos os recordes.

Tenho meus olhos fixos na grama exageradamente verde do jardim, tragando meu fumo como se não tivesse nada melhor para fazer. Então, me tirando de minha distração, vejo um cachorro do outro lado do terreno. Ele também me vê e corre em minha direção. É um pitbull, grande e muito bonito, que vem até mim rosnando com os dentes à mostra. Minhas sobrancelhas se juntam e eu dou uma risada quando ele late para mim. O cão me encara do outro lado do portão, e ao perceber a falta de medo em mim, sua expressão se suaviza e ele tomba a cabeça para o lado, olhos pretos redondos e arregalados.

Ele se aproxima devagar, passa o focinho pelo vão da grade e cheira minha mão. Estendo minha palma pelo portão e faço carinho nele, que se joga no chão com a barriga para cima e a língua para fora.

— Você não é o cão de guarda mais eficiente do mundo, né? — dou risada. O pingente prateado em sua coleira azul balança quando ele se esfrega na grama. Depois de alguns segundos de carinho, o cachorro se levanta e chega com o rosto perto da grade mais uma vez. Seguro o pingente preso em sua coleira e então consigo ler seu nome. — Bruce, bom garoto.

— Ele gostou de você. — a voz de Caitlyn entra nos meus ouvidos repentinamente. Nossos olhares se encontram, eu me levanto e a assisto passar pelo portão. Ela dá alguns afagos em Bruce antes de sair. — Parece que um pitbull reconhece o outro.

— Ha-ha. — reviro os olhos. — Ele é bem… bonzinho, pra um cão de guarda.

— Não é sempre assim, acredite. — Caitlyn ajeita a barra de seu vestido. — Tem algum animal de estimação?

— Eu tenho a Akali, às vezes ela rosna pra algumas pessoas na rua. — ela ri. Acho que é a primeira vez que a vejo rir de alguma coisa que eu falo.

Ela abre a porta do meu Mustang e entra, eu dou a volta e me acomodo no banco do motorista. Caitlyn olha categoricamente tudo ao redor, sentada com uma postura estranhamente reta. O ar fica pesado entre nós, parece que só agora estamos nos dando conta do que estamos fazendo. Eu realmente vou ter que fingir namorar Caitlyn Kiramann. Por três meses.

Ela me olha com o canto dos olhos, ajeita a bolsa preta no colo e passa o cinto de segurança na frente do corpo. Dou partida e ligo o rádio, deixando uma música tocar em um volume considerável. Esfrego minhas costas no banco de couro, tentando parecer mais à vontade com a situação do que realmente estou. Meu carro é um espaço privado que costumo dividir só com pessoas próximas, então ter Caitlyn aqui é bem mais desconfortável do que parece. Ela parece sentir o mesmo, visto que mal se mexe.

Club 57 | CaitViOnde histórias criam vida. Descubra agora