Capítulo 4

27 2 0
                                    

Escrito Por:
Gissy Makoto & Daniel Fernandes

Estou a duas horas em frente ao espelho, já experimentei todas as roupas do meu guarda-roupas. Hoje é um dia muito importante para mim, depois de dois anos lutando para conseguir adotar meu filho em fim deu certo. Eu e meu marido tivemos que nos submeter a avaliações psicológicas, audiências, mais de um ano de curso preparatório além de ter que enfrentar a demorada democracia brasileira. Quer saber? Todo esse sacrifício valeu a pena porque agora terei meu filho/a em meus braços, mau posso esperar. Carlos Daniel já está impaciente me esperando.

-Vamos Helena,vai casar?

-Já vou. Você esperou 9 meses pra nascer, pode esperar um pouco pela sua mulher. -digo já sem paciência. Tenho uma raiva de quando eu digo que estarei pronta em 15 minutos e o Daniel fica me chamando de meia em meia hora.

No final das contas resolvi por um vestido azul até na altura do joelho, com o decote coberto com uma renda da mesma cor e um sapato de salto preto simples. Estou pronta: simples e elegante. Discreta e sensual.

-Já estou pronta! Viu não demorei nada.

-É que cada minuto sem você é uma eternidade amor! -diz Carlos me dando um selinho.

-Tão gay, este meu marido. -digo com orgulho.

Percorremos o caminho todo em um silêncio confortável. Meu coração não cabe mais dentro do peito de tanta felicidade e alegria. Esperei tanto tempo por esse momento e finalmente chegou.

-Está pronta pra primeiro dia do resto de nossas vidas? -diz Carlos Daniel estacionando o carro.

-Sim meu amor, vamos formar uma família linda e seremos felizes para sempre.

Estou novamente em frente daquele prédio, mas dessa vez não estou em desespero pelo fim de um sonho, mas mais feliz que nunca.

Atravessamos o grande portão de grade e avistamos uma irmã na porta, acredito que esteja a nossa espera. Ela já é uma senhora de aproximadamente cinquenta anos, tem os olhos azul e da pra ver seu cabelo branco como algodão por baixo do véu de seu hábito cinza.

-Boa tarde, sou a Irmã Ana e acredito que vocês sejam os senhores Albuquerque de Mello. Diz esticando a mão para nos comprimentar.

Devolvemos o gesto

-Eu irei mostrar o orfanato e as crianças para vocês hoje, por favor entre. -diz abrindo a gigantesca porta de madeira. O lugar é todo assoalho envernizado, as paredes são brancas e as janelas são igualmente de madeira e enormes protegidas por grades. Apesar de ser tudo muito asséptico e organizado é frio e triste para um lugar onde abriga crianças. Estamos percorrendo um longo corredor quando somos enterrompididos por uma moça jovem vestida por um hábito branco, deve ser uma noviça.

-Irmã Ana, a madre está ligando da Itália e pediu para chama-lá.

-Com licença mas é uma ligação importante terei que atender mas podem ficar a vontade.

-Tudo bem nos entendemos. -as duas religiosas andam a largos passos e somem pelo corredor. -eu e meu marido continuamos o mesmo trajetos que antes. Ao virarmos em um dos sub corredores nos deparamos com uma menina. Era branca, tinha olhos claros e um cabelo todo cacheado que batia até na altura da cintura. Estava com um vestido azul no qual tinha um laço nas costas. Não era muito bonita, não pude deixar de reparar.

-Oi. -disse a criança segurando a barra do vestido e balançando de um lado para o outro.

-Oi. -disse eu e meu marido ao mesmo tempo.

-Eu sou Sophie. Vocês vieram buscar um filhinho para levar pra casa de vocês? -ficamos impressionados pelas esperteza e maturidade da pequena menina.
Apenas balançamos a cabeça em afirmação a sua pergunta.

-Todos vêem. Eu tenho uma amiga que ganhou papais e foi embora, ela sempre vinha me ver mas agora não vem mais. -diz olhando para as maozinhas. -Vocês acreditam que ela tem um quarto de princesa?! -diz abrindo os braços e os erguendo para mostrar grandiosidade. -Vocês querem conhecer meus amigos que também moram aqui? Vem eu vou mostrar.

Ela não espera a nossa resposta é sai pelo corredor saltitante.
Quando passamos pela primeira sala e diz:

-Aquela ali é a Ana. Ela é muito legal. Vocês vão adorar ela porque ela sabe desenhar um castelo bem grandalhão. Aquela do lado dela. -mostra com o dedo. - É a Mari, também é muito legal e sabe fazer trança no meu cabelo. Aquele no canto e o Edmundo ele puxa meu cabelo mas no fundo ele é bonzinho, só não está pronto pra entender que as meninas são mais espertas que os meninos.

Nesse momento não pude me conter e cai na risada. Meu marido me olhou tentando fazer cara de poucos amigo em vão, pois também não se segurou e a caiu na risada diante da fofura da doce menina. E assim ela nos apresentou todos os seus amigos não deixando de enfatizar as qualidades de cada um deles.
Quando estávamos quase no final do orfanato encontramos novamente a Irmã Ana.

-Então vocês estão aqui? Eu os procurei pelo orfanato todo! E a senhorita dona Sophie? O que faz aqui? Não deveria estar no seu quarto desenhando junto com seus outros amigos?

-Desculpa irmã Ana, mas é que eu encontrei esses dois perdidos, sem rumo, abandonados no corredor e resolvi ajudar eles a encontrar um filhinho. - Disse com as palmas das pequenas maozinhas viradas para o alto.

-Esta certo, mas não faça mais isso pode ser perigoso e volte para seu quarto mocinha. - Perigoso? Como assim? Ela pensou que íamos roubar a menina? Apesar que com aquela fofa eu seria bem capaz mesmo viu?

Após ouvir a ordem da Irmã ela vem até nos para nos despedirmos. Nos abaixamos até a altura dela e lhe demos um abraço. Quando ela me abraçou disse bem baixinho

-A tia Ana tem esse jeito de bravo mas no fundo ela é legal. Ela precisa só relaxar mais. -e saiu correndo não pude deixar de sorrir com seu jeitinho. Quando estava no meio do corredor ela parou e deu um tauzinho e voltou a sair em disparada.

Não sei porque mas não gostei de vê-lá partindo, parece que uma parte de mim foi junto. Ficou uma sensação de vazio.

-Desculpe-me por isso.

-Imagina, eu adorei a companhia dela e a aliás queria saber mais a respeito dessa menina. -Carlos Daniel me lança um olhar a provador que me deixa mais segura.

-Sophie chegou aqui recém nascida e com um grave problema no cordão umbilical. Ela foi achada em um latão de lixo. Tinha picadas de formiga pelo corpo todo, mas a ferida mais grave estava no cordão umbilical que foi comido pelo inseto e pelo lugar sujo que estava acabou pegando uma infecção muito séria, quase morreu. A vida dessa menina e uma milagre ela passou cerca de dois dias na casamba de lixo e foi encontrada minutos antes de ser jogada no caminhão e depois ainda deve que lutar contra a grave infecção que se instalou mas agora ela está bem. Sua saúde está em perfeito estado está como vocês puderam observar, ela é uma criança esperta e feliz.

Meu coração foi esmagado dentro do peito ao ouvir aquele relato de crueldade e desumanidade. Eu sei que já cometi erros na minha vida, mas jogar um recém nascido no lixo é repugnante, um ato monstruoso de quem não sentimentos nem amor ao próximo. Essa menina é uma guerreira, um exemplo a ser seguido por essa sociedade hipócrita que esmaga os desfavorecidos e dão preço a tudo e valor a nada. Meu Deus como pode existir pessoas assim? Nesse mundo. Eu não sou ninguém pra julgar mas nesse momento eu abomino esse ser (não posso chamar de humano) que pode fazer isso com um bebê. Por que estou me importando tanto também? Essa menina me cativou, me encantou e conquistou. Será que Sophie é a criança certa para ser minha filha?

Luta Por Uma VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora