PARTE I

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HUSK

SETEMBRO - 3006

"Sargento Husk, necessitamos de sua presença na cabine de comando imediatamente."

A voz que vem do comunicador é do tenente-coronel da República Solar, Pierre D'Nouveau. Já é a terceira vez que a sala de comando chama o sargento pelo comunicador privado, mas Husk pouco se importava.

Primeiro-sargento dos exércitos Separatistas, Donald Husk Martin, é o segundo em comando de toda a operação atual: Após a invasão inimiga – alienígena – ao Sistema Solar, os dois polos da guerra que perdura há mais de uma geração, intitulada de Guerra Separatista, firmaram uma trégua ao conflito e concordaram – em parte – em unir forças para criar uma espécie de resistência contra a dominação da raça extraterrena.

Husk, assim como grande parte de seus soldados, não confia nem um pouco na República Solar. Como qualquer soldado Separatista ele lutaria contra qualquer ideal político do desprezível e autoritário Governo Republicano. Entretanto, Husk é racional, ele sabe que a humanidade precisa se unir para enfrentar o inimigo, o verdadeiro inimigo. Mas isso não significa que aceitará ordens de um D'Nouveau.

Nunca.

"Senhor, o tenente-coronel necessita de sua presença o mais rápido possível na sala de comando."

Dessa vez a voz no comunicador é do piloto. Ele falava educadamente, sem levantar o tom de voz.

— Já é a quarta vez, sargento. Eles devem estar irritados. – diz um rapaz, de talvez trinta anos, escondendo o sorriso. Ele possui cabelos consideravelmente grandes para o padão militar, fios negros e ondulados. Barba curta e bem cortada. Sua imagem aparece em uma pequena tela de um televisor acoplado na parede.

— Que esperem, Ulysses. — A voz do sargento é áspera, como a de um ávido fumante. — Já é a terceira reunião em dois dias. Falam em urgência, mas é sempre sobre algum problema de comunicação com alguma nave. Aliás, a última foi sobre a sua.

— Bem, não precisa se preocupar, senhor. O problema de comunicação foi culpa de um mercenário que havia se escondido nos tubos de ventilação, causando curtos. O problema já foi resolvido.

Husk está por volta de seus sessenta anos, está acima do peso e seus cabelos, os poucos que lhe restam, são finos e acinzentados.

— Malditos mercenários. Não se pode confiar em nenhum. O dinheiro já não é mais suficiente?

— O pior, senhor, é que o mercenário não estava tentando nos sabotar. Ele nos disse que estava apenas testando e aprimorando nossas defesas tecnológicas.

O exército Separatista, já que não dispõe de muitos soldados treinados – sendo que quase todos que são desertaram da República Solar –, utilizam os mercenários como "buchas de canhão", para aumentar o número de seus exércitos, testar equipamentos, e executar missões suicidas.

Esses são os mercenários contratados.

— De qualquer maneira, fique de olho. – Husk se aproxima da tela e sussurra — ele pode estar tramando algo com esses malditos Republicanos.

— O senhor não confia no tenente-coronel D'Nouveau? – O radiocomunicador de Ulysses emite um chiado, Husk não consegue discernir quem fala com o Separatista por causa da qualidade ruim do áudio da vídeo chamada, então a ignora — Me querem na cabine de comando aqui também.

— Eu acredito que aquele mauricinho deva ter belos contatos para ter conseguido se tornar tenente-coronel, pois duvido que ele tenha colhões para matar alguma coisa que possa sujar aquela roupa de luxo dele. – Husk ignora a afirmação de Ulysses e continua falando — Mas uma coisa eu sei sobre aquele engomadinho: ele é esperto. Muito esperto. Então não duvido que esteja tramando algo.

Husk traja seu uniforme Separatista clássico. Como sendo um desertor da República Solar – um dos mais famosos – sua farda é a mesma de quando ainda servia ao atual adversário, porém remendada com o logo separatista substituindo a Republicana. O sargento traja a farda com orgulho, demonstrando todas as suas medalhas de honra grudadas como broches em seu peito.

— O tenente foi quem idealizou toda essa operação, senhor. Está lendo muitas teorias da conspiração. – Ulysses ri da própria piada, Husk o acompanha, mas sem o mesmo entusiasmo.

— Só digo que não me surpreenderia com uma traição. Aconselho ficar alerta.

— Bem, o senhor ainda é o sargento. Então, sim senhor! – ambos riem.

A imagem de Ulysses trava, em meio a sua gargalhada. Seu áudio, no entanto, continua normalmente.

— Sargento? Acho que a conexão caiu... – um alarme é acionado dentro da nave de Ulysses. Husk escuta barulhos de movimentos bruscos, de passos acelerados e sons de cliques metálicos. O sargento, mesmo confuso, identifica os barulhos como o engatilhar de fuzis de assalto.

O Rosto de Ulysses, em meio a sua gargalhada, foi a última coisa que Husk viu naquela tela antes dela se apagar completamente, num preto total.

O sargento se levanta apressado, pensativo, confuso e preocupado com o que podia estar acontecendo. Ao se virar, ele vai de encontro direto ao chão. Toda a nave treme como se estivesse acontecendo um terremoto.

É óbvio, já que estão no meio do espaço sideral...

Estão sob ataque.

"Husk, aqui é o terceiro-sargento John Blake da República Solar. Venha agora para a sala de comando, seu maldito incompetente!"

'FORBIDDEN' - CONTO DE FICÇÃO CIENTÍFICAOnde histórias criam vida. Descubra agora