A porta pressuriza. Estão a salvo, por enquanto.
Pierre D'Nouveau gasta menos de trinta segundos para carregar seu revólver – bala por bala – e em seguida pergunta para Donald Husk quanto tempo o sargento imagina que suas tropas durarão em meio ao fogo cruzado da área central.
— Estamos funcionando a 30% de plenitude. – interrompe o piloto, concentrado — Então não importa o quanto eles aguentem, pois a nave não tem muito tempo caso esses danos aumentem.
O cabo permanece com a metralhadora erguida, fitando a porta.
— Não podemos salvar a nave. – Pierre parece não acreditar nas próprias palavras.
— Não, mas podemos salvar as tropas. – A voz de Husk permanece imponente.
O tenente assente com a cabeça, e então ordena que o piloto fale pelo comunicador geral – habilitado para todas as zonas da nave – que as tropas devem retirar-se para os PODs imediatamente. O piloto assim o faz.
Em seguida ambos, Pierre e Husk, cedem seus códigos pessoais únicos para que o piloto possa confirmar no painel de controle a liberação dos PODs.
Pelas câmeras de segurança o sargento, o tenente e o piloto observam as tropas sobreviventes – Separatistas e Republicanas – cumprirem a ordem.
Outro tremor. Dessa vez a luz falha por meio segundo.
O sargento Husk fita a porta.
— Não vai demorar para acharem um jeito de entrar aqui. – Husk apoia a mão no ombro do piloto. — Qual o seu nome, filho?
O piloto, um rapaz tão magrelo que é possível ver seus ossos da bochecha, retira seus enormes fones de ouvido e, com seus olhos esbugalhados envolvidos por profundas olheiras, olha para o sargento.
— Daniel, senhor. Daniel Dumont.
— Foi uma honra, rapaz.
O garoto merece o reconhecimento. Tem mais colhões do que pode-se esperar de um garoto raquítico como ele.
Daniel observa o sargento, surpreso pelo ato de camaradagem de Husk. Não é algo comum de Donald Husk fazer, ainda mais para com um piloto Republicano.
Mas Husk sente que é o fim.
Para ele e todos presos naquela sala.
— Frank MacDrugher, caso se importe. – o cabo diz, estático, mirando sua pesada metralhadora na porta, um cigarro eletrônico por entre os lábios. — É o meu nome.
O tenente-coronel D'Nouveau olha para Husk, sua feição transparece o pensamento do sargento.
Acabou.
Outro tremor. Mais forte. As luzes principais se apagam e as de emergência, segundos depois, acendem.
A iluminação reserva é fraca, lembrando a luminosidade de velas.
— Senhores, protejam-se. – Frank MacDrugher cospe seu cigarro eletrônico no chão e firma a postura.
O cabo retira de seu coldre, enrolado na perna, sua pistola e a oferece para o sargento, que aceita.
— Têm sete disparos, sargento.
Husk engatilha a arma.
— Deve servir.
Os PODs ejetam. Neles, toda a frota sobrevivente.
Daniel se levanta de sua cadeira. De seu tornozelo, ele saca uma pequenina pistola – com, no máximo, cinco projéteis – e põe-se ao lado do tenente. Ele claramente sente medo. Muito medo, mas como o soldado profissional que é, engole o choro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
'FORBIDDEN' - CONTO DE FICÇÃO CIENTÍFICA
Science FictionUm conto de ópera espacial militar. Na virada dos anos 3000, a totalidade do sistema solar se uniu para concluir seu conflito mais duradouro - 'A Guerra Separatista' - já que um ataque alienígena se beneficiou da condição enfraquecida das principais...