𝓑𝓸𝓪 𝓵𝓮𝓲𝓽𝓾𝓻𝓪
Uma vez que já era oficial e tudo mais, achei que a cerimônia de coroação do Hyunjin aconteceria em breve, mas, na verdade, foi organizada para três meses depois. Mesmo que a imprensa já tivesse divulgado tudo.
Não é como se o rei - ou seja lá como eu deva me referir a ele agora - Carlos estivesse presente. Como tínhamos imaginado, ele tinha preferido se afastar e deu a entender que seria por muito, muito tempo.
Era o primeiro evento oficial que apareceríamos publicamente. E não podia ser mais oficial. Era oficial com tudo que tinha direito. E, sério, eu jamais imaginaria que uma parte tão grande da população estaria presente do lado de fora da maior basílica do país, onde ocorreria a cerimônia. Tipo, tinha gente lotando vários quarteirões, mesmo que a cerimônia estivesse sendo transmitida ao vivo pela tevê e que, na verdade, o pessoal do lado de fora não conseguisse mesmo ver porque o evento era dentro do prédio.
Tecnicamente, o protocolo não exigia que eu estivesse presente em ocasiões assim, já que não éramos casados, mas o Hyunjin tinha me pedido para ficar com ele. E como eu poderia negar alguma coisa para aqueles olhinhos?
Eu admito, fiquei semanas planejando a roupa que ia usar. Eu tinha escolhido um terno azul escuro, que destacavam meus fios loiros e minha pele clara, junto com uma camiseta branca e alguns acessórios. Na realidade, eu estava mesmo me sentindo bonito. E, ok, tudo isso apenas para ficar sentado em uma cadeira na primeira fileira ao lado dos meus pais - era um lugar de honra, mas não parecia nada demais.
Assim que acabou a cerimônia em si, todos se locomoveram até o palácio, onde haveria uma recepção. O Hwang foi em um desfile em carro aberto pela cidade, basicamente para cumprimentar todas aquelas pessoas que esperavam para vê-lo. Se fôssemos casados, eu teria de ir junto, mas não era o caso - mas admito - que estava um pouco apreensivo com essa parte porque vira um filme sobre John Kennedy há pouco tempo e fiquei um pouco paranóico.
Me esgueirei na primeira oportunidade a procura de algo para beber - se aparecesse algo para comer, eu também não recusaria. Não foi difícil. A Cecília praticamente brotou do chão com uma taça com suco de maracujá exclusivamente para mim. Certo, eu confesso que ela me mimava um pouco quando eu estava lá. Na realidade, eu fiquei feliz em saber que os funcionários do palácio gostavam sinceramente de mim o bastante pra me "mimar" mais do que havia a necessidade, mesmo depois de descobrirem que eu menti enquanto estive lá - apenas a Isadora chegou mesmo a achar que eu a mandaria ser demitida porque ela foi um pé no saco quando trabalhamos juntos; claro que não a demiti, apenas pedi que ela fosse menos desagradável com os próximos "novatos".
Era quase três da tarde. Era um alívio que eu não fosse precisar voltar para casa no mesmo dia. Não que meus pais deixassem que eu dormisse em Nova Germânia sempre. Eles não deixavam. Só às vezes, já que o Hyunjin, sendo o rei, não podia ficar se deslocando para Veritas todo final de semana. Então, em finais de semana alternados, eles me deixavam ir para Nova Germânia de avião na sexta-feira à noite e voltar no domingo. Claro, com um milhão de recomendações para a Felícia e meus outros seguranças não saíssem da porta do meu quarto à noite sob nenhuma circunstância. Eu não os culpo, já que, embora eles não soubessem, houve mesmo aquela vez em que eu dormi no quarto do Hwang séculos atrás.
Antes que eu chegasse ao final do meu suco, a Cecília passou por mim outra vez e murmurou, com um sorrisinho discreto.
- Acho que alguém está procurando o senhorito...
Virei para olhar. Embora meus pais, assim como muitos líderes mundiais estivessem ali, não devia ser nenhum dos dois. Só podia ser o Hyunjin. Ele tinha se aproximado de mim pela primeira vez naquele dia. Ainda não tínhamos tido tempo para nada além de algumas trocas de olhares cúmplices.
Ele estava lindo em um terno vinho perfeitamente alinhado e parecendo destacar ainda mais sua postura impecável. Ele tinha penteado o cabelo cuidadosamente e cada detalhe nele parecia metodicamente arrumado. Porém, mais do que isso, algo nele irradiava uma energia invisível. Ou talvez desse para ver, sim. Estava bem ali nos olhos dele, que brilhavam mais que o normal. Apesar do semblante solene, ele estava exultante. Se fizesse o seu feitio, ele estaria sorrindo de orelha a orelha. Mas não fazia.
- Parabéns - falei, baixo. Ele deu um sorriso fugaz, sem conseguir se conter. Eu, por minha vez, precisei conter a vontade de beijá-lo demoradamente.
Suspirei, e ele deve ter percebido, porque me lançou um olhar divertido. Era o máximo que iríamos fazer. Por causa do protocolo, não podíamos nos tocar muito efusivamente em público.
- Obrigado, senhorito - ele respondeu, descontraído. Depois acrescentou. - Eu quero te apresentar à algumas pessoas.
- Você sabe que não gosto de ficar trocando conversas amenas com políticos e esposas enfadonhos - lembrei-o, revirando os olhos e torcendo para nenhum fotógrafo ter registrado.
- Eu não faria isso com você propositalmente - ele garantiu. - Não é disso que se trata. Acompanhe-me.
Antes que eu pudesse protestar mais, ele tirou a taça da minha mão e a depositou na bandeja de um garçom que passava por nós, o que lhe rendeu um olhar enviesado meu. Ignorando completamente meu olhar, ele começou a andar até a parte mais afastada do salão, me guiando. Eu não reclamei, ele parecia estranhamente empolgado.
Ele parou ao lado de uma pilastra e apontou para a frente. A alguns metros de nós, um casal de idosos estava sentado confortavelmente em cadeiras, observando o movimento curiosamente. O homem usava um terno cinza escuro e tinha vastos cabelos prateados - eu não o conhecia, mas algo nele me parecia familiar. A mulher tinha um corte de cabelo curto e elegante e um rosto harmonioso.
O Hyunjin tinha aberto a boca, mas antes que qualquer coisa fosse dita, a senhora olhou na nossa direção e abriu um sorriso sincero e acolhedor, que indicava nada menos que orgulho e felicidade. E ali estava: aqueles olhos escuros e levemente estreitados. Iguais aos que eu vira em uma fotografia há não muito tempo. Num impulso, segurei o punho do Hwang e sussurrei para ele, agitado.
- São seus avós! - Não foi uma pergunta. A semelhança era mais que evidente.
Ele sorriu para mim, assertivo, surpreso por eu ter identificado com tanta facilidade. Em uma demonstração rara de afeto em público, ele passou uma mão pela minha cintura e depositou um beijo rápido na minha bochecha.
- Sim - ele confirmou, embora não houvesse a necessidade, infelizmente, tirando a mão da minha cintura. - Uma vez que não há mais a obrigatoriedade de seguir as ordens do meu pai e não precisamos lidar com a presença dele, pensei em procurar pela família da minha mãe. Felizmente, eles nunca acreditaram que eu havia me afastado por vontade própria.
Claramente eles estavam felizes em se reaproximar do neto, se aqueles sorrisos queriam dizer alguma coisa. E as coisas começavam finalmente a andar nos trilhos. Ok, não era tudo perfeito ainda e o Hyunjin e eu teríamos uma pilha de coisas com as quais precisaríamos aprender a lidar.
O lance é que ter um relacionamento, assumido publicamente dessa vez, a exposição à mídia por causa das questões políticas, lidar com a minha família - embora estivesse um pouco melhor agora, já que meu irmão até gostava do meu namorado em vez de tentar mata-lo a tiros - e equilibrar tudo com meu rendimento na universidade não era mesmo muito fácil. Mas eu estava exultante em perceber que as coisas estavam começando a dar certo.
𝓕𝓲𝓶!
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Real; hyunlix.
Paranormal𝗮𝗱𝗮𝗽𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 ੭. Felix achava que já tinha problemas demais para lidar entre a escola, as cobranças da família, o seu namorado secreto e o fato de ser um príncipe em um país prestes a entrar em guerra com seu vizinho. Mas percebe que as coisa...