Você não estava aqui...

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Arizona pov's:

___ Novamente esse assunto? Já te disse tudo o que tinha a dizer, Ariana! Ela desconversa.

___ Não acho que disse toda a verdade mãe. Ela volta a me encarar.

___ O que está querendo insinuar, menina insolente? Fala já se estressando. Passa as mãos em seus fios loiros e noto seu nervosismo. Mesmo assim não baixo a guarda.

___ Me diga você dona Bárbara. Falo irônica.

___  Que conversa é essa? Foi por isso que veio aqui toda mansinha me trazendo comida? Eu devia ter percebido que estava arquitetando alguma coisa. Diz e eu me exaspero.

___ Por que vocês sempre acham que minhas ações são calculadas e intencionadas? Eu não posso simplesmente está sendo gentil? Que inferno! Agora sou uma nova Ariana. É tão difícil aceitar isto? Olha, eu só quero conversar sobre o meu pai. Conhecê-lo e entendê-lo mesmo que através de suas palavras. É pedir muito?

___ Seu pai nos abandonou, não há nada para falar sobre ele! E —ela suspira— você sabe muito bem que não gosto desse assunto. É muito doloroso para mim ainda.

___ Você sempre diz a mesma coisa só nunca disse o porquê de fato. Digo cruzando os braços.

___ Ele era deslumbrado com a ideia de outra vida bem longe daqui e eu nunca deveria ter me casado com ele. Isso é o que sei e basta.

___ Mas casou. E teve filhos com ele! E isso de "uma vida deslumbrada e abandono" não é o suficinte para mim. Grito jogando a verdade em sua cara.

          Ela arregala os olhos talvez surpresa ao ouvir a palavra filhos no plural. Respira fundo enquanto lágrimas escorrem por seu rosto silenciosamente. Baixa a vista dando-me as costas. Um silêncio angustiante surge.

           De repente, ainda na mesma posição e com a voz embargada e falhada decorrente do choro, balbucia as palavras que dilacera ainda mais meu coração:

___ Filha! Tivemos apenas uma filha, você. Agora sou eu quem choro copiosamente ao ouvir de sua boca a omissão de minha existência. Mais uma vez, me excluindo de sua vida...

___ Não fui a primeira e nem serei a última idiota iludida a acreditar em uma pessoa dissimulada. Completa sua fala com amargura.

___ O que está querendo dizer? Está me comparando ao meu pai? É isso? A questiono tentando cessar as lágrimas que teimam em cair.

___ Se a carapuça serviu. Diz dando os ombros virando-se. A olho incrédula e ela continua, agora me encarando:

___ Por muito tempo enquanto você crescia, tive medo que fosse como ele: desgarrado, egoísta, sonhador, aventureiro e inconsequente. Te criei tão austeramente quanto podia, tentando colocar juízo em sua cabeça. No entanto, quanto mais você crescia, mais parecida ficava... E quando engravidou, achei que talvez fosse diferente. Achei que Callie e você seriam felizes, que ela faria você criar raízes. Acho que me enganei muito, não é? — um nó se forma em minha garganta — Quando Callie veio aqui em casa à sua procura eu pensei "ela fez o que eu sempre temi. Abandonou a esposa exatamente como o pai fez um dia comigo".

___ Eu voltei. Sussurro ainda chorando. Porque sei que, embora as palavras dela sejam horríveis, duras demais, contêm boa dose de verdade.

           Ariana é exatamente como nosso pai nos quesitos: ambição, impulsividade, inconsequência, egoísmo, convencimento e até coragem em excesso. Só aguentou mais do que ele.

___ Confesso que seu retorno me surpreendeu. Realmente achei que nunca mais fosse voltar a Snoqualmie. Você odeia esta cidade e tudo que a envolve. Achei que nunca mais fosse revê-la. Mas que bom que voltou. Seus filhos e sua esposa, apesar de todo seu desamor por e para com eles, ainda sentem sua falta e necessitam de sua presença. Assim como eu que, apesar de saber que você não tem conserto devido a sua essência, estarei sempre aqui para te amparar sempre que for preciso. Porque eu te amo filha independente de como você seja ou haja. Finaliza sua fala vindo me abraçar.

A UsurpadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora