Segredos e Mentiras (Anya X Damian)

Capítulo 10

1150 dias restantes antes da formatura

A Anya fugiu. Ela sempre faz isso, sempre foge das minhas perguntas, diz que quer a minha ajuda, mas não me conta nem metade do que sabe, e quando eu descobri por conta própria se esconde e chora, tudo isso para não conversar. Será que eu realmente faço parte disso ou sou só um peão sendo manipulado por ela? Apesar de não aparentar, Anya pode ser alguém que é até considerado inteligente pela sociedade no geral, mas isto é claro, quando ela quer ser.

Mesmo sabendo que muito possivelmente eu só estou sendo usado e que isso tudo pode ser só um dos seus joguinhos para me fazer cair em mais uma de suas armadilhas mentiras, aqui estou eu, procurando ela sem parar. Eu devo ter algum problema, depois de tudo o que ela fez, depois de todas as vezes que ela me fez sentir mal nestes últimos tempos, eu ainda estou preocupado com ela. Por quê?

Queria ao menos ter alguma ideia de onde ela pode estar, já faz cerca de dez minutos que eu estou procurando ela e ainda não a encontrei. Já procurei em todos os cantos e recantos deste dormitório, mas ela não aparece. Parece até que desapareceu.

Ela estava chorando quando saiu correndo pela porta do seu próprio quarto. Pra mim, já é quase que um hábito ver ela sair chorando por aí, mas, sinceramente, eu não queria que fosse. E sei muito bem que eu disse que o seu sorriso era irritante, mas eu prefiro muito mais ter que lidar com aquele sorriso do que ver ela chorando.

Sorrateiramente, saio dos dormitórios para ver se a encontro por aí. Já passou das dez e nós não podemos mais sair do prédio onde ficam os dormitórios, se não levaremos uma advertência. É quase impossível sair despercebido, visto que os Estudantes imperiais estão sempre fazendo rondas, para certificar que nenhuma das crianças pequenas tentam fugir, mas mesmo assim, eu consegui escapar para o lado de fora.

Já está bem escuro e frio. O vento sopra forte, fazendo a minha capa levantar. Lembro que a Anya estava só de pijama e o seu cabelo estava encharcado. Com certeza vai pegar um resfriado caso continue aqui fora.

− Anya?! − Chamei. − Sei que você está por aqui! Vamos voltar! Está frio, você vai ficar doente! Eu só quero conversar!

Não tive resposta, mas isto já era de se esperar. Olhei ao redor. Alguns arbustos se mexem com o vento e por de trás de um deles é possível ver um pequeno cone preto, que parece uma casquinha de sorvete, e que um certo alguém sempre usa no cabelo. Me aproximei de forma silenciosa, e logo a vi, agachada com os olhos fechados, torcendo para eu não a encontrar.

− Anya. − Encostei no seu ombro.

− S-Segundo Filho? − Perguntou ela confusa.

− Sim. Vamos entrar antes que alguém chegue. − Pego na sua mão, mas ela não se move − Que foi? Vem.

− Não.

− Por quê?

− Você vai obrigar a Anya a falar e a Anya não quer. − Desviou o olhar e eu lentamente soltei a sua mão. Ela se encolheu toda em uma bolinha e tudo que pude fazer foi sentar ao seu lado em completo silêncio.

O tempo passou e ela continuava lá, naquela mesma posição, sem se mover. Tudo que eu podia ouvir eram os seus soluços. Não sou bom em lidar com pessoas chorando, pra falar a verdade, eu não faço ideia do que fazer. Devo abraçá-la? Demonstrar algum tipo de carinho? Ou só falar que não precisa chorar? Mesmo já tendo a visto chorar diversas vezes, continuo sem saber o que fazer. Tirei a minha capa e pus em volta dela.

− V-Você está bem? − Perguntei, mas não tive nenhum sinal de resposta da sua parte. Respiro fundo, tentando pensar no que fazer. De forma desajeitada, botei a mão na sua cabeça e ela olhou pra mim sem entender nada. Lentamente fiz carinho, uma espécie de cafuné, pra ver se ela parava de chorar − Não se preocupe. Eu não vou te obrigar nem nada, já entendi que não se sente confortável falando deste assunto... É só que... sei lá. − Tirei a mão da sua cabeça e levei até ao meu rosto − Parece até que você não confia em mim. E eu sei que você já me disse que não é nada disso, mas não consigo deixar de pensar que estou só sendo usado...