A canção dos teus olhos

Sábado e Encontro

Sábado.

Tinha chegado o dia.

O dia que Eliot havia falado na tarde de quarta-feira.

Voltar á casa dele...

O garoto do piano...

Naruto não conseguia se concentrar na maquiagem que estava fazendo, as mãos suavam e tremiam, sua respiração estava rápida e não conseguia parar de pensar em que merda estava se metendo. Mas por que diabos tinha aceitado a proposta maluca de Eliot? Por que disse sim? Só poderia compartilhar da mesma loucura de Eliot, com certeza era isso.
Ainda por cima, amaldiçoava a sua sorte pois, naquele momento, ele desejava que pelo menos estivesse chovendo como no último domingo em que foi á casa de Eliot e assim pudesse inventar algo sobre não poder andar de moto no meio da chuva, mas não... Não chovia nesse sábado, não poderia inventar nenhuma desculpa. Teria que ir.

- Mas que infernos!- jogou o delineador em cima da penteadeira com frustração.

- Naruto, já é a milésima vez que faz esse negócio errado. Qual o problema? Você é tão hábil pra se maquiar, quase nunca erra. E ainda por cima tá com essa cara de quem comeu e não gostou.- disse Sakura enquanto vestia uma meia-calça de tule com glitter em frente ao espelho.

- Eu tô irritado hoje, apenas queria poder desistir dessa ideia maluca do Eliot.- bufou e revirou os olhos.

- Ué, você sempre adorou os encontros com ele. Aconteceu algo? Ele te tratou mal?

- Não é pra ele o serviço de hoje, fui apenas contratado pra... Outra pessoa.- olhou para a amiga pelo espelho.

- Como é? Ele te contratou para outro? Mas que filho de uma puta! Não diga que vai se meter de novo em um flagrante que nem aquela vez que...

- Não, Sakura! Não será flagrante, pelo menos ele me garantiu isso.- virou-se para a rosada.

- Hm, sei... Então qual a nova?

- É pro enteado tedioso dele. Eliot com certeza tem objetivos com isso, mas preferiu não me contar.

- Nossa! E esse garoto pelo menos é bonito?

- Não sei, o vi apenas uma vez e tava escuro. Só sei que ele é cego e tem cabelo negro.- disse Naruto, diminuindo o tom de voz na última frase.

- Cego? Meu Deus! Pobre garoto.- Sakura lamentou- então porque tá se produzindo tanto? Ele nem vai te ver.

- Não fala com esse tom de pena, Saky. Se eu fosse cego, odiaria que as pessoas tivessem pena de mim ou me tratassem com descaso e esse último é o que eu estaria fazendo se não ligasse pra minha aparência nesse encontro só porque ele não vai poder me ver. Vou me arrumar pra esse cliente assim como faço para os outros... Mesmo que eu não queira ir lá - concluiu convicto.

- É verdade, acho que tem razão, me excedi nas palavras- sorriu sem graça para o loiro - enfim, e o nervosismo? Quase nunca te vejo assim e também você acabou de dizer que não quer ir com essa cara de frustração.

- Não sei, é só que... Nunca fiz nada parecido. Nem com aquele lá do flagrante no trabalho. Acho que é porque eu sabia informações sobre o homem, mas esse rapaz é um completo enigma. Tirando as poucas coisas que o Eliot me contou, não sei como ele vai reagir, nem se sabe que estou indo lá hoje. Pode dar errado tudo isso. - falou quase em desespero.

- Naru, de qualquer maneira o Eliot já te pagou pelo serviço. Seria covarde se inventasse algo para furar com o encontro e sim, eu sei que você tá pensando um monte de paranóia pra tentar desistir. Te conheço, moleque. - piscou o olho e ergueu a sobrancelha.