— Ai, ótimo! Estamos mesmo precisando de uma lésbica nesse grupo.
A reação de Gabriel ao saber do encontro de Beatriz fez Taís indignar-se.
— Mas e eu?
— Você já é a letra T, amiga. Com a Laís, completamos a sigla.
— Vocês podem parar? Nós só vamos jantar, e depois ela vai me ajudar com o mwanga, não tem nada demais nisso — interrompeu Beatriz.
Uma pontada de arrependimento por ter contado sobre o que aconteceu começava a surgir em sua cabeça. Devia ter imaginado que os amigos fariam disso muito mais do que realmente era: duas colegas saindo para estudar.
Apesar de gostar de Laís, não achava que fosse recíproco, afinal, a garota sempre ajudava os outros alunos e era a gentileza em pessoa. Não queria criar expectativas, mas era difícil, ainda mais com os comentários dos amigos, que começavam a deixá-la ansiosa.
Os três caminhavam pelo shopping enquanto colocavam as fofocas da semana em dia — como se não estudassem na mesma escola e normalmente almoçassem juntos. Mas isso era algo muito deles. Apenas andavam por aí enquanto riam e conversavam sobre qualquer assunto minimamente interessante, às vezes até paravam para comer algum doce bonito na padaria ou olhar as novidades nas lojas.
— Ninguém sai para jantar antes de só estudar, até parece que é virgem.
— Gabriel!!! — Bia empurrou o amigo, que riu de suas bochechas ficando vermelhas.
— O quê? Falei alguma mentira?
— Não, mas não precisa anunciar para o shopping inteiro — sussurrou Beatriz. — Além disso, o que te faz pensar que ela quer entrar para o nosso grupo?
— E quem não quer? — Indignou-se o rapaz.
— Ei, vadias, olhem só isso. — Taís correu e parou em frente a uma loja com inúmeras plaquinhas de liquidação.
— Ai, adoro uma promoção! — Gabriel apressou-se em chegar perto da amiga e pulou em seus ombros — Vamos entrar pra ver? A Bia pode escolher uma roupa pra a "noite de estudos" com a Laís — completou fazendo aspas no ar.
— Ei, não preciso de roupas novas, as minhas estão ótimas! — disse Beatriz ao levar as mãos à cintura fingindo se ofender.
Mesmo assim, entrou na loja atrás deles, que seguiam animados e de braços dados.
— Você não vai usar aquele seu moletom marrom! — Taís foi taxativa e a olhou de cara fechada por cima do ombro.
— Mas ele é tão quentinho — choramingou.
— Meninas, achei a roupa perfeita! — O grito de Gabriel as assustou.
Ele largou o braço da amiga e foi em direção a uma arara cheia de macaquinhos floridos, das mais diversas cores e tamanhos.
— Nem pensar, nada de flores! — Bia deu alguns passos para trás recusando e balançando as mãos em frente ao corpo.
— E que tal esses? — ofertou Taís enquanto segurava um vestido rosa em uma mão e um azul claro em outra.
— Vocês têm certeza de que são meus amigos? — disse, com a sobrancelha arqueada diante das opções apresentadas.
— Você precisa de mais cor no seu guarda-roupa — justificou-se Gabriel.
— Nem só de preto e marrom vivem as bruxas, sabia? — completou a mais alta enquanto devolvia os vestidos aos cabides.
— As da minha família, sim!
Depois de andarem pela loja toda, fazerem Beatriz provar inúmeras peças e muito discutirem; chegaram a um consenso: um vestido liso, cor de creme, com detalhes em renda e alças largas, que ficaria ótimo com um tênis e uma jaqueta jeans. Um look simples, mas bonito, e com 50% de desconto.
Bia estava feliz com a aquisição, mas, a cada minuto, sentia-se mais nervosa, confusa e um pouco perdida em pensamentos. Até cogitara desmarcar com Laís, correr para casa e usar seus poderes para vagar pelas inúmeras outras realidades, onde veria pessoas realizando seus sonhos e sendo felizes, sem precisar se preocupar com o turbilhão de sentimentos que começava a assolar seu coração.
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Vidas paralelas
FantasyPara executar um feitiço de luz, Beatriz precisa utilizar memórias felizes, mas, ao invés de procurar as suas próprias, usa seus dons para ver as de outras pessoas, e por esse motivo, a magia não funciona. Depois de muito tentar e se frustrar, aceit...