Capítulo 2

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— Ai, ótimo! Estamos mesmo precisando de uma lésbica nesse grupo. 

A reação de Gabriel ao saber do encontro de Beatriz fez Taís indignar-se.

— Mas e eu?

— Você já é a letra T, amiga. Com a Laís, completamos a sigla.

— Vocês podem parar? Nós só vamos jantar, e depois ela vai me ajudar com o mwanga, não tem nada demais nisso — interrompeu Beatriz.

Uma pontada de arrependimento por ter contado sobre o que aconteceu começava a surgir em sua cabeça. Devia ter imaginado que os amigos fariam disso muito mais do que realmente era: duas colegas saindo para estudar.

Apesar de gostar de Laís, não achava que fosse recíproco, afinal, a garota sempre ajudava os outros alunos e era a gentileza em pessoa. Não queria criar expectativas, mas era difícil, ainda mais com os comentários dos amigos, que começavam a deixá-la ansiosa.

Os três caminhavam pelo shopping enquanto colocavam as fofocas da semana em dia — como se não estudassem na mesma escola e normalmente almoçassem juntos. Mas isso era algo muito deles. Apenas andavam por aí enquanto riam e conversavam sobre qualquer assunto minimamente interessante, às vezes até paravam para comer algum doce bonito na padaria ou olhar as novidades nas lojas.

— Ninguém sai para jantar antes de estudar, até parece que é virgem.

— Gabriel!!! — Bia empurrou o amigo, que riu de suas bochechas ficando vermelhas.

— O quê? Falei alguma mentira?

— Não, mas não precisa anunciar para o shopping inteiro — sussurrou Beatriz. — Além disso, o que te faz pensar que ela quer entrar para o nosso grupo?

— E quem não quer? — Indignou-se o rapaz.

— Ei, vadias, olhem só isso. — Taís correu e parou em frente a uma loja com inúmeras plaquinhas de liquidação.

— Ai, adoro uma promoção! — Gabriel apressou-se em chegar perto da amiga e pulou em seus ombros — Vamos entrar pra ver? A Bia pode escolher uma roupa pra a "noite de estudos" com a Laís — completou fazendo aspas no ar.

— Ei, não preciso de roupas novas, as minhas estão ótimas! — disse Beatriz ao levar as mãos à cintura fingindo se ofender.

Mesmo assim, entrou na loja atrás deles, que seguiam animados e de braços dados.

— Você não vai usar aquele seu moletom marrom! — Taís foi taxativa e a olhou de cara fechada por cima do ombro.

— Mas ele é tão quentinho — choramingou.

— Meninas, achei a roupa perfeita! — O grito de Gabriel as assustou.

Ele largou o braço da amiga e foi em direção a uma arara cheia de macaquinhos floridos, das mais diversas cores e tamanhos.

— Nem pensar, nada de flores! — Bia deu alguns passos para trás recusando e balançando as mãos em frente ao corpo.

— E que tal esses? — ofertou Taís enquanto segurava um vestido rosa em uma mão e um azul claro em outra.

— Vocês têm certeza de que são meus amigos? — disse, com a sobrancelha arqueada diante das opções apresentadas.

— Você precisa de mais cor no seu guarda-roupa — justificou-se Gabriel.

— Nem só de preto e marrom vivem as bruxas, sabia? — completou a mais alta enquanto devolvia os vestidos aos cabides.

— As da minha família, sim!

Depois de andarem pela loja toda, fazerem Beatriz provar inúmeras peças e muito discutirem; chegaram a um consenso: um vestido liso, cor de creme, com detalhes em renda e alças largas, que ficaria ótimo com um tênis e uma jaqueta jeans. Um look simples, mas bonito, e com 50% de desconto.

Bia estava feliz com a aquisição, mas, a cada minuto, sentia-se mais nervosa, confusa e um pouco perdida em pensamentos. Até cogitara desmarcar com Laís, correr para casa e usar seus poderes para vagar pelas inúmeras outras realidades, onde veria pessoas realizando seus sonhos e sendo felizes, sem precisar se preocupar com o turbilhão de sentimentos que começava a assolar seu coração.

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