05.

116 11 0
                                    

Cinco dias mais tarde, tive finalmente a minha primeira folga.

Trabalhar doze horas diariamente não era brincadeira nenhuma, andava basicamente a sobreviver de cafés e pequenas pausas de meia hora que o doutor tão 'gentilmente' me permitia.

Hoje foi o primeiro dia em que consegui dormir oito horas completas e sentia-me revitalizada. Ainda que a minha vontade fosse de ficar na cama o resto do dia a fazer uma bela maratona de filmes e a encher-me de hidratos de carbono, decidi passar a manhã no ringue de gelo.

Patinagem sempre foi uma paixão minha e em tempos competia a nível regional, mas desde que ingressei na faculdade raramente tinha tempo para me dedicar ao desporto.

Assim que cheguei ás instalações a Grace, a rececionista, olhou para mim como quem olha para um morto que voltou à vida.

"Não acredito."

"Sou mesmo eu, sim." Respondi esboçando um sorriso.

"Depois de quase um ano, decidiste voltar."

"Não estou de volta a tempo inteiro como deves imaginar, mas gostava de tentar pelo menos quatro vezes por mês."

"Nem sabes a falta que cá fazes, Sophia."

"Tiveste mesmo saudades minhas, ou dos donuts que sempre te trazia?"

"Não posso sentir falta dos dois?"

"Claro e como deves imaginar, trouxe-te os teus favoritos." Respondi, revelando uma caixa azul com os melhores donuts da cidade.

"Não sei o que seria de mim se não existisses, obrigada!" Sorri e encaminhei-me para os balneários para trocar de roupa.

A Grace é como uma segunda figura materna para mim. Devido à distância a que vivo dos meus pais, muitas das vezes era complicado virem assistir ás minhas competições, mas a Grace sempre fez questão de lá estar presente e por isso seria-lhe eternamente grata.

Quando finalmente estava pronta, calçei os patins de gelo e nem sei descrever a sensação de nostalgia que me atingiu assim que entrei no ringue.

Como eram apenas sete e meia da manhã, tinha a arena só para mim. Se pensei que depois de tanto tempo sem cá meter os pés, estaria enferrugada, enganei-me completamente, porque o corpo nunca se esquece.

Depois de meia hora a aquecer e a treinar os movimentos básicos, quis-me aventurar nos mais complexos. Comecei pelas piruetas simples e quando estava mais confiante de mim mesma, tentei a pirueta dupla.

Provavelmente não medi bem a altura, porque no segundo a seguir caí em cima do meu tornozelo direito. A dor era excruciante de tal forma que naquele momento tudo o que pedia é que isto não passasse de uma pequena entorse.

Com grande dificuldade saí do ringue e fui até à enfermaria, onde encontrei uma jovem um pouco mais velha que eu que ao olhar para a minha figura, não hesitou em meter-me em cima de uma das macas.

"Vou trazer gelo, tenta não te mexer." Mesmo que me quisesse mexer, era doloroso demais e nem sei como é que tinha arranjado forças para me deslocar até aqui.

Após ter feito gelo, ela envolveu-me o pé com uma liga de pano e deu-me um analgésico para reduzir a dor que sentia.

"Provavelmente tens que ir ao hospital só para ter a certeza que não tens nada partido." Disse ela.

"Não é necessário, eu já torci o tornozelo antes, isto não há de ser pior que das outras vezes." Estar no hospital no meu dia de folga era a última coisa que precisava neste momento.

"Tens alguém que te possa vir buscar?"

"Não, mas posso chamar um uber." Ela própria se ofereceu para chamar o uber e ajudou-me a entrar no carro.

Cirurgião CollinsOnde histórias criam vida. Descubra agora