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De repente o barulho de alguém a bater à porta soou por todo o escritório e antes de processar o que estava a acontecer, ele afastou-se de mim e voltou para a sua cadeira.

A mudança foi tão casual que ninguém diria que há segundos atrás ele estava perto de me tomar por completo em cima da sua mesa.

Rapidamente ajeitei o meu cabelo e virei-me para a porta.

Quando abri era a Emma, que me olhou de uma forma tão fria que não sabia se era porque me odiava ou se conseguia ler na minha testa que eu andava enrolada com o nosso supervisor.

"Doutor, disseram-me para vir até ao seu escritório." Disse ela finamente interrompendo a nossa troca de olhares.

"Sim Emma, entra." Respondeu ele num tom desinteressado e ela olhou para mim com um sorriso nos lábios quase como se o Logan me estivesse a trocar por ela.

Eu não sei que problema é que ela tinha comigo, mas também não me apetecia ficar a pensar nas razões que ela possa ter para não gostar de mim.

Sem nada dizer, saí daquele escritório onde já se tornava complicado respirar e voltei para o meu posto.

"O que se passou para estares com essa cara?" Perguntava a Morgana assim que voltei.

"Que cara?"

"Sophia, posso não te conhecer há muito tempo mas nunca te vi com uma expressão tão séria ou irritada."

"Não estou irritada."

"Nunca soaste tão irritada." Revirei os olhos e encaminhei-me para a ala central da maternidade onde se encontravam várias camas dispostas com as mães e os seus respetivos filhos.

Estava na hora do banho, então tive a auxiliar quem precisasse da minha ajuda e devo dizer que este trabalho era relaxante ao ponto de não me importar de o fazer todos os dias.

Mais tarde fui chamada para assistir a duas operações, uma delas ao coração e outra a um braço deslocado e ambas igualmente fascinantes. Aproveitava cada oportunidade para tirar absorver tudo o que observava e tirar apontamentos.

Pelo fim da noite estava completamente de rastos e já só pensava em chegar, tomar um banho e dormir.

"Queres boleia para casa?" Perguntou o Logan quando me apanhou sozinha na receção.

"Eu tenho um autocarro direto, não é preciso." Respondi, encaminhando-me para a porta dupla.

"Eu levo-te." Insistiu ele e eu só consegui olhar em volta para me assegurar que ninguém se encontrava num raio de distância próximo o suficiente para reparar.

"Ok." Disse silenciosamente.

"O que se passa?" Perguntou ele assim que entrámos no carro.

"Que pergunta é essa?"

"Algo te está a incomodar e eu consigo reparar." A perspicácia dele era algo que era capaz de me atrair e irritar ao mesmo tempo.

Sinceramente nem eu sabia descrever o que estava a sentir, mas o que sabia é que não me queria habituar à sua presença porque mais cedo ou mais tarde toda esta brincadeira teria que parar.

Hoje por sorte não fomos apanhados numa situação comprometedora, mas era uma questão de tempo até deixar-mos de ter essa sorte e eu recusava-me a meter em risco o meu futuro profissional por causa de um homem.

"Eu acho que isto devia parar." Disse finalmente soltando um suspiro contido.

"Sophia-" Começou ele mas interrompi-o no instante a seguir.

"O que é que estamos a fazer, Logan? Não somos dois adolescentes com as hormonas à flor da pele para agir desta forma descuidada."

"Eu sei que não devia ter perdido o controlo hoje."

"Tu não devias ter sequer encostado um dedo em mim para começar, parva fui eu por permitir que isto fosse tão longe."

"Achas que eu escolhi estar atraído por uma estagiária? Irrita-me a quantidade de vezes que me passas pela mente e não consigo controlar."

"Então aprende a controlar, tu és o chefe de departamento deste hospital, já pensaste no escândalo que seria se isto alguma vez viesse ao de cima?!" A este ponto já nem conseguia conter a frustração que a minha voz carregava.

"Estou ciente das repercussões, Sophia. Eu nunca cedi ás mais diversas promessas ou tentações dentro deste hospital e agora chegaste tu e arruinaste-me por completo."

"Então a culpa de tudo isto é minha?! Tu tens o discernimento de me pintar como a causadora quando foste tu o primeiro a cruzar esta linha?" A raiva que estava a sentir era imensurável.

"Eu não te estou a culpar, eu apenas odeio a forma como me fazes esquecer a posição que eu tenho neste hospital."

"Peço imensa desculpa pela minha existência te causar tanto incómodo." Disse ironicamente.

"Pára de meter palavras na minha boca, Sophia." Podia sentir a sua irritação a milhas.

"Pára tu de agir como se isto fosse só sobre ti e sobre a tua posição, sabes perfeitamente que a primeira pessoa a quem iriam apontar o dedo seria eu. Não sei se já te apercebeste mas mulheres não têm o mesmo privilégio que vocês e mais rapidamente são acusadas por tentativa de sedução ou pior."

"Eu nunca iria deixar isto chegar a esse ponto e caso chegasse estaria disposto a assumir as consequências."

"É fácil falar, Logan."

"Eu sou muitas coisas mas desonesto não é uma delas."

"Aprendi da pior maneira a confiar em mim e mais ninguém, por isso lamento se não acredito que eras capaz de meter em risco anos de carreira por uma simples estagiária."

"Então não me conheces, Sophia."

"Se queres que te seja sincera, preferia nunca ter conhecido." Não recebi resposta e tinha a noção que o tinha atingido de alguma forma, mas honestamente não estava muito preocupada com isso.

Cirurgião CollinsOnde histórias criam vida. Descubra agora