08.

89 10 0
                                    

"Tens sempre tantas perguntas?"

"Para uma pessoa como tu que se recusa a responder, sim."

"Agora que o meu trabalho aqui está feito, vou andando. Não te esqueças de meter a pomada e não te atrevas a andar sem as muletas até ao fim da semana."

"Obrigada." Disse apenas antes dele se virar e sair porta fora.

A forma como se desviou da minha pergunta e se referiu a mim como sendo "um trabalho" incomodou-me mais do que gostava de admitir. Nunca conheci alguém tão confuso, mas também não é como se conhecesse assim tanta gente para ter um meio de comparação.

Quinta-feira tinha finalmente chegado e eu já só contava as horas para ver a Avery.

O estado do meu tornozelo tinha melhorado mais do que esperava e de momento já conseguia andar sem ter que depender das muletas, portanto hoje seria o primeiro dia que ia sair desta casa, que por muito que adorasse já se tornava deprimente não poder respirar ar puro.

"É impressão minha ou estás mais linda desde a última vez que te vi?" Perguntou a Avery assim que abri a porta duas horas mais tarde.

"Eu pensei que esta relação funcionasse à base da sinceridade."

"Tu ás vezes consegues ser mais irritante que a minha chefe." Dito isto, abracei-a inalando o sua tão familiar essência de canela.

"Também tive saudades tuas."

"Mas estou a falar a sério, estás com um brilho diferente." Disse ela olhando para mim de cima abaixo.

"O brilho a que tanto te referes deve ser o produto de quase uma semana em casa sem ter que fazer doze horas de trabalho por dia."

"Explica-me melhor essa história de estares a fazer quatro horas a mais que o estipulado."

"O meu tão adorado supervisor reparou que estava com uma dor de cabeça causada pela quantidade de álcool que tinha ingerido na noite anterior e decidiu castigar-me."

"Tenho várias perguntas, a primeira é como é que ele sabia sequer que andaste a beber? e a segunda, desde quando é que tu bebes?"

"Foi só um encontro com a equipa depois do trabalho e eu nem bebi assim tanto, só que como não estou habituada os efeitos foram mais nefastos do que tinha previsto. E ele soube porque infelizmente me viu no bar."

"Só acho interessante o facto de não seres a única presente nesse bar, no entanto ele só decidiu penalizar-te a ti."

"Eu fui a única a passar mal no dia seguinte." Ela lançou-me um olhar carregado de suspeita, mas eu decidi ignorar.

"Tens fome? Sobrou carbonara do jantar." Disse enquanto a ajudava a levar as malas para o meu quarto.

"Está tudo bem contigo?"

"Que pergunta é essa?"

"Primeiro bebes, depois cozinhas. Estou perante uma nova Sophia e não sabia?"

"Eu sei cozinhar para tua informação, mas não fui eu a fazer."

"Tens algum chefe privado que deva ter conhecimento?"

Cirurgião CollinsOnde histórias criam vida. Descubra agora