02.

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Fiz questão de chegar uma hora antes do planeado na manhã seguinte, só mesmo para evitar qualquer tragédia que pudesse acontecer no trânsito matinal de Seattle.

Fiquei na cafeteria do piso 1 a ler um livro enquanto ainda não eram horas e estava tão imersa nas palavras que lia, que não senti a presença de frente à minha mesa.

"O monte dos vendavais." Disse uma voz feminina citando o título do livro que estava a ler e assim que levantei os olhos do mesmo, deparei-me com uma mulher ruiva e reconhecia-a de ontem.

"Rachel, certo?" Perguntei.

"Sim! Nem tive oportunidade de falar contigo, mas tenho a dizer que tens um ótimo gosto literário."

"Já leste?"

"Duas vezes, é dos meus livros preferidos." Sorri e pela primeira vez desde que aqui cheguei não me sentia reprimida a ponto de não proferir mais que duas ou três palavras.

"É raro encontrar alguém fã de clássicos."

"Uma pena honestamente, há livros que daria tudo para ler pela primeira vez." Tinha mais em comum com ela do que pensei.

"Para além de leitora ávida, também vejo que gostas de ser mais pontual que o necessário."

"Adormeci a pensar em todas as formas que me podia atrasar e não quis correr esse risco." Não pude evitar de rir porque me sentia exatamente da mesma forma.

"Aquele homem é assustador e parece-me do tipo de pessoa que seria capaz de despedir alguém por espirrar, então não me admirava se fizesse o mesmo por estar um segundo atrasada." De repente a sua expressão empalideceu e sem perceber, segui o seu olhar.

Foi então que percebi que o doutor Collins se encontrava atrás de mim a menos de um metro, perto do balcão enquanto terminava o seu pedido.

"Então espero que não te atrevas a espirrar durante o turno, Sophia." Disse ele num tom carregado de sarcasmo e a minha garganta automaticamente fechou.

Sem perder tempo ou esperar que dissesse alguma coisa, ele juntou-se a outros doutores numa mesa paralela à nossa.

Olhei completamente atónita para a Rachel que não conseguiu evitar soltar uma gargalhada.

"Desculpa, eu nem tinha reparado que era ele até se ter virado." Disse ela, tentando controlar a risada mas falhando miseravelmente.

"Que bela forma de começar a manhã, preferia chegar atrasada a ter passado esta vergonha." Passei as mãos pelo meu cabelo em exasperação.

"Podia ter sido pior."

"Ele vai me torturar por isto, logo eu que queria passar os próximos dois anos fora do radar."

"Hoje à noite vamos beber uns copos para esquecer, o que dizes?"

"Parece-me uma ideia fantástica."

Durante o resto da manhã, ele não me voltou a dirigir a palavra e eu agradeci mentalmente por isso.

Pelas onze, fomos levados para um quarto, onde se encontrava uma paciente que se queixava de fortes dores abdominais desde o dia de ontem.

"Esta é a Claire. Para além da intensa dor abdominal, encontra-se com falta de apetite, náuseas e prisão de ventre." Disse o doutor Collins com o típico tom ríspido.

"Neste momento encontra-se medicada, mas alguém tem alguma ideia do que se pode passar com a nossa paciente?" Eu tinha noção que ele sabia exatamente qual era o problema com que estávamos a lidar, isto era nada mais nada menos que uma prova para ver se éramos capazes de identificar o que se passava.

Cirurgião CollinsOnde histórias criam vida. Descubra agora