19.

72 11 0
                                    

Assim que entrámos no restaurante não consegui evitar sentir-me meio deslocada pelo quão requintado era para o meu nível de vida.

"Porque é que eu tenho a sensação que respirar aqui dentro custa mais que a minha própria vida?" Perguntei num sussurro enquanto um empregado nos levava para uma mesa.

"Não te preocupes que quem paga sou eu." Respondeu ele com um sorriso colado nos lábios.

"Eu não te pedi que me pagasses."

"Eu nunca te convidaria a um restaurante destes se não tivesse intenção de pagar, Sophia." Disse ele quando finalmente nos sentámos.

"Podemos ir a outro lugar?"

"Deixa de ser teimosa por uma vez na tua vida, só te estou a pagar um almoço, não te estou a oferecer um carro de luxo."

"Trazes sempre as tuas conquistas a restaurantes destes?" Perguntei repentinamente, mas arrependendo-me no instante a seguir.

"Estás te a auto intitular de minha conquista?" Disse ele num tom divertido.

"Tu percebeste." Atirei.

"Não Sophia, eu não tenho por hábito trazer mulheres a almoçar ou jantar fora." Um friozinho alcançou a minha barriga e estava a lutar para não sorrir com a admissão.

"Não tens que mentir, Logan."

"Não te estou a mentir, eu genuinamente não me lembro da última vez que saí com alguém."

"Estás me a dizer que-"

"Não estou a dizer que não tenho uma vida sexual ativa, estou simplesmente a dizer que não sou o tipo de homem que leva alguém a sair."

"Ah..." Honestamente não sabia o que dizer. Não sabia se devia ficar chateada por provavelmente não ser a única com quem ele anda envolvido sexualmente ou se me devia sentir especial por ser das únicas que ele já convidou para sair.

"Se estás a pensar que eu ando a ver mais alguém para além de ti, podes tirar essa ideia da cabeça." Disse ele respondendo à pergunta que tinha formulado mentalmente.

"Tu és livre de fazer o que bem entendes, não estamos propriamente numa relação exclusiva." 

Antes que ele pudesse responder, uma empregada veio até à nossa mesa recolher os pedidos.

"Exclusivo ou não, eu não sou esse tipo de pessoa." Continuou ele.

"Só quero que tenhas noção que podes ser sempre sincero comigo e se isto, o que quer que seja, não estiver a resultar não me escondas ou omitas."

"Podes esperar nada mais, nada menos que honestidade da minha parte e já que estamos numa de ser sinceros, quero-te perguntar mais uma vez o que se passa entre ti e o Mike."

"Tu ainda estás a pensar nisso?" Perguntei não conseguindo esconder o meu divertimento.

"Responde-me."

"Somos só amigos, não há nada para além disso entre nós."

"Eu vejo a forma como ele olha para ti e tu até o podes ver só como amigo, mas é inegável que ele se sente de alguma forma em relação a ti."

"Ou talvez estejas só a ser paranóico."

"Eu sou homem e sei bem como outros homens pensam. Tu és uma mulher linda e não foges à atenção de quem olha para ti."

"Ok esta conversa acabou aqui." Disse bebendo um golo de água para acalmar os meus nervos. Odiava como ele se referia a mim como se fosse a mulher de sonho de cada homem deste mundo.

"Quem te magoou?" A pergunta apanhou-me tão de surpresa que arregalei os olhos.

"O que queres dizer com isso?"

"Tu tens uma enorme falta de confiança em ti mesma e só posso imaginar que tenha sido alguém otário o suficiente para te fazer sentir dessa forma." A capacidade que ele tinha de ler a minha mente sem eu ter que proferir uma palavra irritava-me.

"Eu não quero falar sobre isso."

"Tudo bem, mas começa a aceitar o que te digo."

"És insuportável." 

"Ontem à noite enquanto gemias o meu nome não foi essa a impressão que me deste." Disse ele num sussurro e eu quase me engasguei com a água que bebia.

"Tu não tens mesmo limites." Podia sentir as minhas bochechas a aquecerem.

Depois do almoço, ele levou-me até casa e assim que cheguei parei um bocado para pensar em todos os acontecimentos das últimas vinte e quatro horas e não conseguia acreditar no que se sucedeu.

Não sabia como denominar aquilo que existia entre nós, mas sinceramente não queria ter que rotular a nossa relação. Era mais fácil não estar envolvida emocionalmente com alguém do que ceder aos sentimentos e tranformar algo simples em algo muito mais complicado.

"Eu sabia que não ia durar muito até vocês se comerem." Dizia a Avery naquela noite quando lhe liguei por facetime.

"Eu continuo sem perceber o que é que um homem como ele viu em mim."

"Não comeces com essa treta outra vez, tu já olhaste bem para ti??"

"Prefiro nem falar sobre isso."

"Tu já pensaste que talvez ele possa sentir o mesmo em relação a ti e pensar o que é que vês nele?"

"O que eu vejo nele é o que qualquer mulher vê."

"Eu duvido que só o aches interessante pela aparência física."

"Não sei se já percebeste mas o que nós temos não passa de uma atração física."

"Podes te tentar enganar a ti mesma, mas a mim não me enganas. Eu sei perfeitamente que tu não te irias envolver com alguém puramente por uma atração." Eu odiava como ela conseguia ver cada uma das minhas camadas, mesmo quando eu as tentava camuflar.

"Avery, eu só quero terminar o meu estágio sem complicações ou stresses pelo caminho."

"Isto não tem que ser complicado sem ambos quiserem."

"Tu estás te a esquecer que relações entre superiores e estagiários não são permitidas neste hospital?"

"Só não são permitidas enquanto fores estagiária."

"Eu não vou ficar dois anos a ter uma relação secreta com o meu supervisor se é isso que estás a sugerir."

"Até parece que não sabes que os romances proíbidos e secretos são os melhores."

"Isto não é um dos teus livros."

"Bem que podia ser sinceramente."

Passado meia hora desliguei a chamada e fui dormir, porque infelizmente amanhã o meu turno começava ás seis da manhã.

Para minha grande felicidade, fui alocada à ala da maternidade durante a manhã, o que significava que iria estar com a Morgana.

"O doutor Collins esteve aqui à tua procura há dez minutos." Disse ela quando voltei de um breçário.

"Ele disse-te o que queria?" Perguntei, tentando manter o meu tom de voz o mais natural possível.

"Não, mas pediu que antes da hora de almoço passes no escritório dele." 

"Ok obrigada."

"O que se passa entre vocês os dois?" Perguntou ela finalmente e eu não pude evitar de olhar em volta para me assegurar que ninguém tinha ouvido.

"Não sei o que estás a insinuar, mas não se passa nada."

"Sophia, eu já tive a tua idade e sei perfeitamente reconhecer os sinais quando os vejo."

"Eu não vim estagiar para este hospital com esse objetivo."

"Pode não ser o teu objetivo, mas há coisas inevitáveis e não precisas de o tentar esconder. Eu já vi a forma como ele olha para ti." Eu se tivesse um buraco, enfiava-me.





Cirurgião CollinsOnde histórias criam vida. Descubra agora