Égide

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- Espera aí..você passou a enxergar vermelho depois de conhecer sua alma gêmea, mas esqueceu o rosto dela assim que teve um acidente? É isso mesmo?...

Eu assenti quando Bakugo concluiu tudo meio alterado, de certa forma, acho que não comigo.

- Só que..eu comecei a perder a esperança de encontrar...e foi aí que perdi a visão de todas as cores de uma vez só. - Eu disse cabisbaixo e isso pareceu incomodar o Katsuki.

- Então foi isso que aconteceu.. - Katsuki murmurou baixo para si mesmo. - Tudo bem, cabelo de merda! Vou te ajudar a achar sua alma gêmea logo de uma vez.

Eu não sei! Devo ter feito uma expressão estranha ou muito bizarra, pois isso engatilhou o Katsuki.

- Que expressão horrível é essa? - Ele falou alto explodindo o ar só para alívio próprio. - Eu só não quero que continue chorando pelos cantos que nem um fraco, essa atitude chata não combina com você.

Com isso, senti a felicidade me preencher da mais boa ajuda que eu poderia arrumar. E é claro que isso só poderia vir do meu melhor amigo.

Mesmo sem ver nenhuma cor, eu estava feliz graças ao Katsuki.

Minhas pernas se moveram sozinhas ao irem certamente em direção a ele.

E mesmo que eu pudesse ser explodido, eu arrisquei dar um abraço no meu amigo. Descarregando ali um alívio e um novo fio de esperança, mesmo que pequeno, na força daquele contato.

- Obrigado bro.. - Usei as palavras mais sinceras do meu coração e ativei minha individualidade por precaução dele me estourar.

- Não precisa usar.. - Ele não me abraçou, mas deixou que eu o fizesse, e quando me afastei, ele apenas me olhou bravo e passou a mão na minha cabeça. - Tenta não se desesperar..mas eu vou ter que destruir sua zona de conforto.

- O que quer dizer com..destruir?

- Não vou te contar sobre a cor do seu cabelo. - Ele disse e eu acabei sentindo as batidas do meu coração vacilarem. - Se quiser mesmo saber a resposta, dê tudo de si para recuperar a visão das cores e descubra por si mesmo.

Possivelmente, ao ouvir isso fiz uma expressão que ele consideraria chata. Quando eu olhava para cima tentando enxergar a cor do meu cabelo, eu só enxergava preto..

Mesmo que eu não veja mais as cores como antes, o medo interno de ter voltado a cor natural do meu cabelo me apavorava.

Eu não queria voltar aquela versão!

Mesmo assim sorri o quanto pude para Bakugo que sem demora saiu daquela sala parecendo pensativo e avisou que mais tarde resolveríamos isso no meu dormitório.

Eu não poderia estar mais grato e aliviado pelo apoio que ele me dava, ao mesmo tempo que eu não queria incomodar, sabia que do jeito que Bakugo era, ele faria mesmo de tudo para me ajudar.

Enquanto esperava a hora em que Katsuki viria, arrumei todo o quarto para evitar a péssima impressão que ele tem de mim sobre arrumações, já que o quarto dele é impecável e o meu sempre foi uma bagunça.

Também aproveitei para colocar uma roupa mais confortável e por puro desanimo, desarrumei meu penteado alto deixando ele solto e baixo, bem do jeito que sempre foi antes de eu mudar a cor e meu jeito.

Eu já não sabia se a cor vermelha existia em mim, e com isso toda minha força com a mudança que tive ia se apagando aos poucos..

Por fim me sentei no chão, me encostando na cama para me apoiar e tomar uma água.

Eu estava cansado da conversa que teria com o Katsuki antes mesmo de ter começado, pensar me deixava ansioso, então levei meus pensamentos até a minha mãe. Ela era e sempre seria o meu calmante pessoal.

De repente me lembrei de uma conversa que tive com ela a um tempo atrás.

Ela achava que eu deveria me apaixonar por minha alma gêmea, como nos filmes que passavam na TV, pois para ela era algo como destino ou aquela lenda do fio vermelho, que ela usava de argumento a própria cor para afirmar que era o "destino".

Mas a verdade é que eu não conhecia aquele garoto, e mesmo assim eu era tão grato por ter sido ele a me fazer enxergar o vermelho.

Mas me apaixonar? Eu não sei se era assim tão fácil..

Meu único interesse romântico aconteceu depois de anos e até agora eu ainda não conseguia admitir em voz alta meus verdadeiros sentimentos..

De qualquer forma, se apaixonar não significa ser correspondido.

Por isso eu gostaria muito que Katsuki não tocasse nesse assunto quando viesse..Eu temia isso de todas as formas.

Não era minha intenção ocultar nada para ele. Mas também..

Ainda não estava pronto para admitir..

A Tonalidade Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora