Incógnita

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Com todas as últimas forças que eu tinha..

Eu corri...

Corri como uma criança chorona que precisava desesperadamente do colo da mãe.

Corri olhando cada canto procurando algum vestígio sequer de alguma cor viva, que realmente me fizesse sentir que era uma cor de verdade.

Corri de volta a sala que eu estava com Katsuki. E sem esconder que eu estava chorando, empurrei a porta com força por puro desespero de não vê-lo ali.

- KATSUKI! - Gritei eufórico e aliviado por pelo menos ver que ele ainda estava na sala.

Quieto e sentado em cima de uma mesa encarando as paredes chatas de costas para a porta.

- Huh? Você voltou, cabelo de merda.. - Ele se virou pra mim recuando um pouco sua expressão mal-humorada assim que percebeu meu estado.

- P-Por favor..me responde uma coisa importante.. - Eu tentava me aproximar ficando cada vez mais tonto no processo. Mas eu não podia desistir de saber. - Meu cabelo...a cor do meu cabelo ainda é vermelho?

Ele me encarou com a cara mais confusa e irritada que eu já vi ele fazer.

Eu não conseguia segurar as lágrimas e assim como a força que elas caiam, eu me senti cair também cedendo ao fim das minhas forças entrando em um subito desmaio sem ter tempo de ouvir a resposta.

Eu não sei quanto tempo apaguei, mas sei que me deparei com um sonho tão colorido quanto a minha antiga realidade.

Meu corpo parecia tremer e eu me sentia em um limbo pessoal, e lembro no meio disso de só desejar uma coisa.

"Antes que eu desapareça um dia, eu quero alcançar você.."

É como se minhas palavras fossem só pensamentos altos.

"Toda lágrima, todo sorriso, você é o motivo delas existirem"

"Se não tivéssemos nos conhecido por acaso...eu nunca teria encontrado meu destino..."

"Só por você estar lá naquele dia, o meu mundo mudou"

"Você.."

- Kirishima! - Era a voz de Bakugo, tão distante, mas firme o suficiente para alcançar o limbo, era um alívio poder ouvir a voz dele. Por isso eu tentei alcançar.

Tentei ir contra a força do limbo e senti meu corpo inteiro balançar dentro da minha cabeça, enquanto a voz que me chamava ficava cada vez mais nítida.

Até..

- Beijo!

Eu acordei no susto assim que senti a boca da Recovery Girl na minha bochecha me trazendo todo o vigor físico de volta.

Abri os olhos tão rápido e me arrependi por não estar acostumado a luz, mas assim que me recuperei, me deparei comigo mesmo procurando saber onde eu estava e eu descobri.

Estava na enfermaria, sob os olhos da Recovery Girl e Bakugo, que até então me encarava com os braços cruzados.

Ao notar que o que eu tive não foi só um pesadelo ruim sobre a ausência de cores, meu coração apertou em meu peito como se eu fosse morrer...

Ver as coisas todas em apenas preto, branco e cinza..era talvez pior do que não ter individualidade.

- Você pode me curar? - Me virei para a figura mais baixa e mais velha ao meu lado.

- Já está curado, querido! - Ela respondeu gentilmente.

- Sim, obrigado, mas era sobre...

Droga! Eu não conseguia dizer, não abertamente na frente deles.

Suspirei e segurei as lágrimas, agradecendo mais uma vez e fugindo dali sob o olhar pesado de Bakugo.

Assim que saí, vi que a escola estava vazia, provavelmente estava de noite e todos já deviam estar em seus próprios dormitórios.

Noite...segundo a minha visão agora, todas as horas para mim eram parecidas com a noite..

- Ei, Kirishima! - Ouvi a voz de Bakugo mais uma vez. E como sempre, parei para ouvi-lo. - Não aguento mais essa sua expressão de merd..

- Bakugo.. - Me virei para ele, que ainda caminhava até mim com as mãos no bolso e cara emburrada. - ..Meu cabelo ainda é vermelho?

- Por que essa droga de pergunta de novo? Foi o que você disse antes de desmaiar.. - Ele bufou me encarando bravo. Eu só consegui desviar o olhar para não chorar na frente dele de novo.

- Eu gostava de ver suas cores, bro.. - Desabafei sem saber que precisava, soltando um soluço repentino por conta do choro.

- Mas de que droga você está falando? - Eu ouvi ele se aproximar e não consegui me mover a tempo dele não ver meu rosto novamente tomado pelas lágrimas. - Por que merda está chorando, Kirishima?

Eu paralizei pelas palavras duras e levemente preocupadas do Katsuki. Doia tanto que eu mal conseguia me mexer.

Como eu não respondi, ele fez um som irritado, algo como um "Tsc" e me puxou até um local que eu demorei de perceber onde era.

Sim! Ele me levou de volta a sala da última vez que nos falamos. Assim como foi ele que provavelmente me levou até a enfermaria quando desmaiei.

Mas claro, ele deu um jeito de me interrogar sem que eu pudesse fazer o mesmo...

- Eu...nasci daltônico de vermelho. Fiz uns testes e o médico disse que eu só conseguiria enxergar a cor vermelha quando encontrasse a minha alma gêmea. - Eu disse tudo de uma vez assim que ele ameaçou me explodir se eu enrolasse a contar tudo.

Era a forma mais estranha e intimidadora de preocupação que eu já presenciei, mesmo assim, eu sabia que podia adorar esse tratamento se soubesse a verdadeira intenção dele.

Então, eu contei a ele tudo que precisava com os olhos fechados.

Era melhor para mim enxergar o escuro do que tantos tons em cinza de uma vez..

E era melhor eu superar esse fato logo, antes que eu chegasse a perder meu melhor amigo..

A Tonalidade Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora