O Acompanhamento

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Valentina acordou se sentindo quente e confortável, algo não tão comum em sua experiência. Normalmente o despertador ou sua mãe a acordavam e ela pulava da cama rapidamente, mesmo que lutasse com o cansaço das poucas horas de sono.

Abrindo os olhos, Valentina encarou o teto estranho com decorações antigas e bonitas em gesso. Então, ela se lembrou de onde estava e o porquê, ao mesmo tempo em que a constatação de que não precisava mais lutar e correr desesperadamente a inundavam de uma alegria e alívio imensos. Ela conseguira, vencera a corrida contra o tempo e encontrara o seu com... quer dizer, os seus companheiros. O pensamento a fez soltar um risinho e, sem poder se controlar, Valentina se levantou da cama cheia de energia e animação, começando a dançar e pular de um lado para o outro, extravasando a alegria que foi obrigada a conter no dia anterior.

– Eu encontrei os meus companheiros. Companheiros, companheiros, companheiros... Nikolas, Dominic... Dominic, Nikolas... – Valentina sussurrou e depois saltou para a cama e pulou no colchão como uma criança feliz por receber o melhor presente do mundo.

A batida na porta interrompeu a sua explosão e Valentina desceu rapidamente da cama, mudando toda a sua postura. Seu sorriso morreu, sua expressão e postura corporal mostraram toda a tensão e ansiedade por ser flagrada fazendo algo que não devia.

– Sim? – Ela disse suavemente ao se aproximar da porta.

– Café da manhã, senhorita. – A voz feminina do outro lado informou e Valentina correu para vestir a calça velha de pijama que trouxera, pois dormira só com a blusinha fina.

– Um momento. – Ao abrir a porta, ela se deparou com uma jovem camareira humana, que usava um uniforme cinza e mantinha os cabelos negros em um coque na nuca. A jovem a encarou surpresa, depois rapidamente levou o carrinho com o café da manhã para dentro do quarto e o estacionou perto da mesa de refeições ao lado da janela. – Quer que eu a sirva, senhorita?

– Eu... – Valentina ficou chocada com a sugestão, pois os humanos apenas serviam aos seres sobrenaturais, nunca a outros humanos. A verdade é que mesmo os humanos com colocações mais favoráveis na sociedade jamais conseguiriam recursos para pagar uma empregada, principalmente se eles estivessem economizando para a poupança ritual dos filhos. – Isso não é necessário. – Apressou-se em dizer humildemente. – Eu ainda preciso tomar um banho e me arrumar, senhorita, então pode deixar como está, que eu mesma me sirvo depois. Obrigada por trazer o meu café e por seu oferecimento.

A moça acenou timidamente e se encaminhou para a porta, então ela se deteve e olhou para Valentina com curiosidade.

– Você realmente encontrou o seu companheiro? – Ela sussurrou e Valentina entendeu a sua cautela, humanos tinham sempre de ser discretos em sua curiosidade.

– Sim... – Ela sussurrou de volta e seu sorriso suave mostrou incredulidade por esta realidade.

– Nós ouvimos um boato, mas... – A garota, que não tinha mais do que 22 anos, mostrou-se ansiosa. – Funcionários do Centro têm desconto e estou juntando cada centavo...

– Você conseguirá! – Valentina falou com determinação e segurou as suas mãos, passando-lhe sua força e crença. – Não desista! Se esse é o seu sonho, lute! – O fogo em seus olhos azul-acinzentados fizeram a jovem camareira se endireitar ao ser contagiada por sua coragem.

– Obrigada. – Ela disse emocionada e apertou as mãos de Valentina antes de se afastar para o corredor. – E parabéns, senhorita.

Sozinha, Valentina ficou por um segundo paralisada pela emoção que a envolvia. A alegria era imensa, mas conhecer a jovem camareira a encheu de culpa, pois o mundo não mudou só porque Valentina encontrou os seus companheiros. Os humanos ainda tinham a mesma vida miserável de sempre e encontrar os seus companheiros era um sonho impossível para quase todos.

A Tríade MágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora