Capítulo bônus: Maju Narrando.

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Eram seis da manhã quando perdi o sono, acordei de um pesadelo horrível, abri os olhos e vi uma luz bem alaranjada entrar pela cortina, respirei fundo e me sentei na cama, coloquei a mão sobre a barriga e senti meu filho se mexer de levinho ali bem abaixo dos meus dedos, levantei calcei uma pantufa que vovó me deu assim que veio me visitar, fui até o banheiro soltei meus cabelos que estavam crescendo mais que o normal, as pontas estavam loiras mas a raiz era de um castanho bem escuro, fui até o banheiro, tirei minha camisola e me olhei no espelho, segurei minha barriga que já era bem aparente, fiquei me olhando e sorri, depois tomei um banho demorado e quando sai, vesti uma calcinha confortável e um vestido até os pés, calcei uma bota e decidi dar uma volta até a casa do Henrique.
Desci as escadas e vovó estava a mesa com a dona Délia, dona Délia era a funcionária mais antiga da fazenda e também era mãe do Henrique.

- Bom dia minhas lindas. - Disse interrompendo a conversa das duas.
- Bom dia. - Elas responderam em coro.

Dona Délia havia preparado um bolo de mandioca com coco, broa de milho e um pão de cebola com queijo maravilhoso. Comi um pouco de cada e tomei uma xícara de café com leite, fiquei batendo papo com elas e depois fui dar uma volta atrás de Henrique, sai na porta e montei no meu cavalo que havia batizado de Relâmpago.

Rodei por volta de 15 minutos e encontrei Henrique cuidando da pata de um boi, ele era um veterinário maravilhoso, aliás ele era maravilhoso em todos os sentidos, alto, forte, cabelos claros e olhos verdes, me lembro de nossa infância onde corriamos da casa até o lago e me lembro também que meu primeiro beijo foi com ele.

Logo ele me avistou e disse:

- Julinha, o que já falei sobre você montar? - Ele disse se aproximando do cavalo e me ajudando a descer.
- Pois é Rick, quem mandou você sempre estar tão longe da casa? Você prefere que eu venha andando toda essa distância?
- Ta doida é? Você está prenha não pode se esforçar e sabe bem disso.
- Prenha? Isso é termo que se usa com vaca.

Rimos muito, e ele me abraçou, um abraço forte e quente, desde o dia que cheguei desesperada de ônibus em Abaeté, a primeira pessoa que procurei foi ele, sabia que ele me acalmaria.
Passamos a manhã toda juntos conversando e rindo perto do lago, logo percemos que iria chover e também estava perto da hora do almoço, ele me levou pra casa na garupa do meu Relâmpago. Quando desci e ia me despedir Henrique me abraçou e ficou um tempo me segurando em seus braços, depois me soltou aos poucos ficando com as mãos na minha cintura, levantou uma das mãos e afastou uma mexa de cabelo que estava caída sobre meu rosto, me olhou dentro dos olhos e disse:

- Quando você vai parar de me ver só como um amigo de infância e passar a me ver como um homem que te adora demais? - Ele falou e comecei a ficar vermelha.
- Henrique você sabe que estou grávida do Bernardo, e que apesar dele ser um idiota eu ainda amo ele.
- Eu sei, mas estou disposto a te fazer esquecer aquele babaca. Mas não vou te forçar a nada. - Ele me deu um selinho e depois sorriu pra mim, fiquei tão sem graça.
- Então vou entrar Henrique. - Disse me afastando e subindo as escadas da varanda. - A chuva logo vai cair.

Ele acenou e logo foi embora com meu cavalo, abri a porta e fui até a cozinha, peguei um prato com um caldo de mandioca com carne de boi cozida e apelidada de "Vaca atolada" por nós de Minas. Fui pro quarto com meu prato nas mãos, subi a escada e abri a porta, coloquei o prato em cima da mesinha de cabeceira e comecei a comer, fiquei olhando pela janela e lembrando de Bernardo, do seu sorriso e até das suas manotas quando estava bêbado, mas logo comecei a me lembrar do dia que contei que estava grávida e ele deu todo aquele escândalo comigo, a gente nunca conhece verdadeiramente uma pessoa, achei que quando ele soubesse que eu estava grávida ele se derreteria, mas foi tudo ao contrário, eu que derreti, virei uma poça d'água no chão e deixei ele pisar em mim, espero que eu tenha deixado pelo menos respingos nele. Tentei afastar os pensamentos mas logo me lembrei da clínica de aborto, senti uma dor forte e segurei minha barriga sentindo um forte arrependimento por ter cogitado essa hipótese, eu não quis engravidar, foi o acaso que me fez ser mãe. Eu amava Bernardo mas no momento o rancor que sinto por ele é bem maior que o amor.
Respirei fundo e finalmente consegui espantar esses pensamentos, acabei meu almoço que estava delicioso e levei meu prato até a cozinha, a chuva estava caindo então vesti um casaco grande, tirei as botas e calcei um chinelo com meias, me sentei na sala e fui assistir casos de família com vovó. Logo apaguei no sofá, só acordei com o barulho de uma caminhonete entrando na fazenda, como era normal os amigos de vovó que moravam nas imediações virem até a fazenda de caminhão ou caminhonete nem me movi do sofá, logo escutei uns passos na varanda e batidas na porta, minha vó levantou e foi ver quem era. Espero que seja alguem divertido pra me alegrar nessa tarde fria e chuvosa.

Reconsquistando um anjo - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora