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Roseanne Park


Meu pai sempre me dizia que a melhor maneira para aprender uma profissão é passar cada segundo observando alguém a exercendo.

"Para conseguir chegar ao topo, você precisa começar lá embaixo"

Ele me disse.

"Seja a pessoa o qual o CEO não pode viver sem. Seja o braço direito. Aprenda tudo sobre seu mundo, e ele irá te contratar assim que você receber seu diploma"

Eu me tornei indispensável. E definitivamente me tornei o braço direito. Acontece que, nesse caso, o braço direito frequentemente queria estrangular o pescoço daquela maldita.

Minha chefe, a Srta. Jennie Kim. Uma cretina irresistível.

Meu estômago se embrulha só de pensar nela:  1:63m, bonitona e completamente cruel.

Ela era a babaca mais egocêntrica e convencida que eu já tinha conhecido.
Eu ouvia as outras mulheres do escritório fofocando sobre suas escapadinhas e ficava pensando se um rosto bonito era tudo que ela precisava. Mas meu pai também dizia:

"Você vai perceber cedo na vida, que beleza é apenas superficial, mas a feiura se estende até os ossos"

Eu tive minha quota de mulheres desagradáveis nos últimos anos, namorei algumas no colegial e na faculdade. Mas essa foi a campeã.

— Olá Srta. Park — a Srta. Kim estava de pé ao lado da porta da minha sala, que servia de recepção para o escritório dela. sua voz estava melosa, mas era uma doçura toda errada... como mel que foi congelado e que agora eu estava começando a rachar.

Depois de derramar água no meu celular, deixei cair meu par de brincos na lixeira, receber uma pancada na traseira do meu carro na via expressa e ter que esperar a polícia para ouvir aquilo que eu já sabia;

"Que a culpa foi do outro motorista"

A última coisa que eu precisava naquela manhã era aguentar o mau humor da Srta. Kim.

Pena que ela não tem nenhum outro tipo de humor.

Eu respondi;

— Bom dia Srta. Kim! — de sempre, esperando que ela respondesse com seu habitual aceno de cabeça.

— Bom dia? Será que você não quer dizer. Boa tarde, Srta. Park? Que horas são nesse seu mundinho?

Eu parei e encarei de volta seu olhar gelado. Ela é mais baixa que eu, e mesmo assim, nunca tinha me sentido tão pequena. Fazia seis meses que eu trabalhava para a Kim Media Group, a KMG.

— Eu tive uma manhã meio desastrosa. Não vai acontecer de novo — digo aliviada por minha voz sair sem tremer.

Nunca me atrasei antes, nem uma vez, mas é claro que ela tinha que fazer uma cena na primeira vez que isso aconteceu.
Passei por ela, guardei minha bolsa e o casaco no armário e liguei o computador. Tentei fingir que ela não estava ali de pé na frente da porta, assistindo cada movimento meu.

— Uma manhã desastrosa é uma descrição muito apropriada para o que eu tive que passar com a sua ausência. Tive que pedir desculpas a Lee Taeyang por ele não ter recebido os contratos assinados quando prometido: As nove da manhã, no horário de costa leste. Tive que ligar para Kang Jina pessoalmente para confirmar que iriamos sim prosseguir com o trabalho como descrito. Em outras palavras, eu fiz o seu trabalho e o meu nessa manhã. Tenho certeza de que, mesmo com uma manhã desastrosa, você conseguiria chegar às oito. Tem gente que começa a trabalhar antes mesmo do café da manhã.

Levantei a cabeça para encará-la enquanto ela me julgava com os braços cruzados acima dos seios grandiosos, e isso tudo por eu estar apenas uma hora atrasada. Então desviei o olhar para não ficar encarando a maneira de como o terno escuro e bem cortado envolvia seus ombros.

No primeiro mês em que trabalhamos juntas, houve uma convenção e fiz a besteira de visitar a academia do hotel, dei de cara com ela só de top e toda suada ao lado de uma esteira. Ela tinha o rosto que qualquer modelo gostaria de ter e o cabelo mais incrível que já vi em uma mulher. Cabelo de quem acabou de transar. Era assim que as garotas do andar de baixo chamavam aquele cabelo, e de acordo com elas, o título era bem merecido. A imagem dela passando a camisa no peito ficou para sempre marcada na minha memória.

Mas é claro, ela teve que estragar o momento abrindo a boca:

"É bom ver que você finalmente está tomando interesse em cuidar do seu corpo, Srta. Park"

Filha da puta.

— Desculpa, Srta. Kim — digo deixando escapar um pouco de veneno na voz — Eu entendo o sacrifício que foi para a senhora usar um fax e atender ao telefone. Como já disse, não vai acontecer de novo.

— Exatamente, não vai mesmo — respondeu com um sorriso pretensioso firme no lugar.

Se pelo menos ficasse de boca fechada, ela poderia ser perfeita. Um pedaço de fita adesiva resolveria o problema. Eu tinha um rolo no meu armário que às vezes eu pegava e acariciava, pensando que um dia eu poderia fazer um bom uso dele.

— E, só para que não esqueça desse incidente, eu gostaria de ver a situação completa dos projetos do Lee, da Yon e da Kang na minha mesa até às cinco, e então você vai compensar a hora perdida desta manhã simulando uma apresentação da conta Papadakis na sala de conferência às seis. Afinal, se você cuidar dessa conta, terá de provar para mim que sabe o que está fazendo.

Meus olhos se arregalaram enquanto eu assistia ela ir embora e bater a porta do escritório. Ela sabia muito bem que eu estava apenas começando esse projeto, que também seria a minha tese no OMA.

Ainda teria meses para terminar os slides depois que os contratos fossem assinados... o que ainda não havia acontecido. Ainda nem tinha sido rascunhado. Agora, com tudo há mais jogado no meu colo, ela queria que eu arrumasse uma apresentação em... olhei o relógio. Ótimo, sete horas e meia, se eu pulasse o almoço.
Então abrir o arquivo da Papadakis e comecei a trabalhar.

Opposites  [CHAENNIE]Onde histórias criam vida. Descubra agora