Opposites [CHAENNIE]

[20]

Roseanne Park

Jennie foi até o carro enquanto eu fazia o check-out na recepção. Dei uma última olhada no saguão ao redor, querendo gravar cada memória da viagem. Quando saí, vi Jennie de pé ao lado do manobrista. Meu coração batia acelerado. Eu ainda estava anestesiada. Eu entendia que ela tinha me dado muitas chances de dizer o que eu queria, mas eu estivera tão insegura sobre a possibilidade de ficarmos juntas. Aparentemente, ela era mais corajosa do que eu.

Estou me apaixonando por você.

Meu estômago se revirou deliciosamente.

O Sr. Hwang avistou Jennie e se aproximou. Eles apertaram as mãos e trocaram amenidades. Eu quis andar até eles e me juntar à conversa como uma igual, mas fiquei com medo de não conseguir esconder o que estava acontecendo em meu coração, e de meus sentimentos por Jennie ficarem estampados em meu rosto. O Sr. Hwang olhou para mim, mas aparentemente não conseguiu me reconhecer fora do contexto.

Ele voltou a olhar para Jennie, assentindo para algo que ela disse, e essa falta de reconhecimento me fez hesitar ainda mais. Eu ainda não era alguém para ser notada. Os papéis do check-out, a lista de afazeres de Jennie e sua pasta estavam na minha mão. Eu era apenas alguém na periferia, uma estagiária.

Mantendo-me longe, tentei aproveitar os últimos momentos da brisa que vinha do oceano. A voz de Jennie chegou aos meus ouvidos através dos poucos metros que nos separavam.

— Parece que você ofereceu algumas boas ideias. Estou contente que a Roseanne teve a chance de participar desse exercício.

Assentindo o Sr. Hwang disse:

— A Roseanne é esperta. Tudo ocorreu bem.

— Tenho certeza que logo vamos poder fazer uma teleconferência para começar o processo de entrega do material.

Exercício? Começar? Não foi isso que eu tinha feito? Eu tinha entregue ao Hwang os contratos para ele assinar e enviar de volta pelo o correio.

— Bom. Vou pedir para a Yuna ligar e marcar as datas. Gostaria de ler os termos com você. Ainda não me senti à vontade para assiná-los.

— É claro.

Meu coração acelerou quando a espiral de pânico e humilhação se espalhou por minhas veias. Era como se a reunião que fiz tivesse sido um mero exercício para mim, e o verdadeiro trabalho aconteceria entre esses dois, de volta ao mundo real.

Essa conferência inteira foi apenas uma grande fantasia? Eu me senti ridícula ao lembrar dos detalhes que tinha contado para Jennie, de como estive orgulhosa por ter cuidado desse trabalho enquanto ela estava doente.

— Jisoo mencionou que a Roseanne recebeu uma bolsa da SK choi. Isso é fantástico. Ela vai continuar na Kim Media depois que terminar? — perguntou Hwang.

— Ainda não sei. Ela é uma ótima menina. Mas definitivamente precisa amadurecer um pouco.

Perdi meu fôlego repentinamente,  como se meu ar tivesse sido aspirado todo para fora. Jennie tinha de estar brincando. Eu sabia, sem que Chang-Joon precisasse me dizer e ele disse, várias vezes, que eu poderia ter o emprego que quisesse quando terminasse meu OMA. Trabalhei na Kim Media por vários anos, ralando muito para manter o emprego e conseguir meu diploma. Conhecia algumas das contas melhor do que as pessoas que gerenciavam. Jennie sabia disso.

Hwang riu.

— Madura ou não, eu a contrataria num piscar de olhos. Ela foi muito bem na reunião, Jennie.

— É claro que sim. Quem você acha que a treinou? A reunião com você foi uma ótima oportunidade para dar a ela um pouco de experiência, então agradeço sua ajuda. Com certeza ela vai se dar bem no emprego que tiver. Quando estiver pronta.

Ela não soava como nenhuma Jennie Kim que eu conhecia. Não era a amante que esteve comigo poucos minutos antes, grata e orgulhosa de mim por tomar seu lugar quando foi preciso. E também não era a cretina, elogiando a contragosto. Aquela era alguém completamente diferente. Alguém que me chamava de "menina" e agia como se tivesse feito um favor para mim.

Senti meu rosto queimar de raiva e voltei para o saguão do hotel, sentindo de repente como se não houvesse oxigênio suficiente em lugar nenhum.

Amadurecer? Eu fui bem na reunião? Ela era minha mentora? Em qual universo?

Fiquei encarando os pés das pessoas que passavam na minha frente, entrando e saindo pela porta giratória. Por que eu sentia como se meu estômago tivesse desaparecido, deixando nada além de um buraco cheio de ácido?

Eu trabalhava no mundo dos negócios há tempo suficiente para saber como tudo funciona. As pessoas no topo não chegam lá compartilhando crédito. Eles chegam lá com grandes promessas, grandes afirmações e ego ainda maiores.

"Nos meus primeiros seis meses na Kim Media, eu consegui uma conta de sessenta milhões de dólares."

"Eu gerenciei o portfólio de pele da L'Oreal, de cem milhões de dólares."

"Eu projetei a atual campanha da Nike."

"Eu transformei uma empresa do interior em uma grande empresa nacional."

Sempre senti que ela me elogiava contra sua vontade, e por isso eu gostava de provar que ela estava errada, gostava de exceder suas expectativas, quase que para irritá-la. Ela nunca foi uma mentora para mim, nunca precisei dela. Jennie não me impulsionara para o sucesso na verdade, até aquela viagem, ela sempre tinha atravancado meu caminho, agindo como uma cretina para tentar me fazer pedir demissão. Eu me apaixonei apesar de tudo isso, e agora ela estava me jogando debaixo de um ônibus apenas para se desculpar por perder uma reunião.

Meu coração se estilhaçou em mil pedaços.

— Roseanne?

Levantei a cabeça e encarei sua expressão confusa.

— O carro está pronto. Achei que você ia me encontrar lá fora.

Pisquei, passei a mão no olho como se tivesse caído algo, e não como se estivesse prestes a chorar no saguão do hotel.

— Certo — eu me endireitei, peguei minhas coisas e olhei em seu rosto — Eu esqueci.

De todas as mentiras que já contei para ela, aquela foi a pior, porque ela percebeu. E, pela maneira como suas sobrancelhas se juntaram e ela se aproximou, com olhos ansiosos e tentando entender, ela não fazia ideia de por que eu precisava mentir sobre algo como aquilo.

— Você está bem, linda?

Pisquei novamente. Eu tinha adorado quando ela me chamava assim vinte minutos antes, mas agora parecia errado.

— Apenas cansada.

De novo, ela sabia que eu estava mentindo, mas desta vez não insistiu. Colocou a mão na minha costa e me conduziu até o carro.