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Dezembro

- Não acha deprimente? - Ouço a voz abafada há pouco mais de um metro de mim. Eu conhecia. - É tão estranho, mas às vezes eu paro para observar e fico com inveja.

A morena sentada no banco do outro lado abaixa a câmera assim que termina de falar. O vento balançando seus cabelos, bochecha e lábios pouco rosados.

- Pra que começar se já sei como termina?

Sorri para ela, como é bom revê-la.

Os cabelos abaixo dos seios me impressionam; o castanho-claro iluminando seu rosto e os óculos de armação fina sendo a combinação perfeita. Quando nos conhecemos o tom estava avermelhado e os fios na medida certa dos ombros. Lembro-me de tê-la dançando de costas para mim me deixando imerso com a fragrância emanando baunilha assim que afastou os cabelos do pescoço, para então, deixar-me guiar com as mãos em sua cintura cada movimento que fazia.

A cabeça tombando para trás e meus lábios na altura de seu ouvido. Perdi a linha de raciocínio ali. Éramos dois desconhecidos numa festa da qual terminamos a noite no vapor da água quente do chuveiro. As sensações, frases sussurradas e toques que nunca sairiam daquele quarto. Aquela foi minha última noite na Suíça.

Desligo a música dos meus fones.

- Começar? - Minha feição desentendida.

- Amor.

- Acha irrelevante?

- Você acha?

- Era pra achar?

- Não sei, sente que devia achar?

Isso é um jogo?
A garota me fita serena, os lábios se curvando num sorriso fraco. Ela se senta no mesmo banco que eu e o mesmo cheiro de baunilha suave atinge minhas narinas.

- Sabe, deveria ser ensinado nas escolas todo tipo de decepção que provavelmente teremos com o amor. - A mesma aponta para o outro lado do lago, um casal se beijando - Como sabemos que isso é real?

Observo o cordão avermelhado pendurando uma câmera analógica média em seu pescoço.

- É fotógrafa? - Começo.

- Só tento, é um passatempo por enquanto.

- Gosta disso?

- Me sinto livre.

- Talvez seja isso.

- Isso?

- Amor. Você se sente livre, tem calor e intimidade. É com a emoção que sabemos se é verdadeiro ou não.

Vejo-a sorrindo passando algumas fotos na câmera. Grande parte é da paisagem, casais de idosos e crianças e algumas minimalistas.

- Minha mãe me disse uma vez que eu preciso parar de pensar na resposta certa e consequentemente, viver.

A lente sendo apontada para as folhas caídas devido ao fim do outono.

- As pessoas não sentem remorso pelo que faz, simplesmente afogam sua confiança como se não fosse nada.

Suspiro. - Infelizmente não dá para se proteger.

- É bom te ver, Thomas.

Ela foca em mim por um momento dando um breve sorriso, os olhos passam por minhas roupas casuais, rosto, cabelo; igual a quando nos conhecemos. Me fixei nas águas do lago, estava começando a ficar envergonhado e sentindo as bochechas queimarem.

- É bom te ver, Zendaya.

Ela se levantou ficando na minha frente, me observou enquanto deu alguns passos para trás e em seguida apontou a lente para mim.

Click. Click. Click.

Eu poderia ler sua mente agora. Poderia entregar-me novamente só para saber o que há de tão especial em mim. Não me sinto bem há tanto tempo. Sinto que estou prestes a vomitar.

Engulo seco.

A lente e ela ficando próximas a mim.

- As pessoas falam que eu deveria criar uma conta para postar minhas fotos. - Z sussurra. O que é isso? Era como se tudo estivesse em câmera lenta, leve. Realmente era possível ter momentos assim? - Mas sinto que se postasse, perderia toda magia de tê-las só para mim. De ter todos os sentimentos guardados em mim.

Molho meus lábios, o vento soprando.

- Me olha. - Pede gentilmente. Faço.

Click.

Zendaya começou a caminhar em passos largos, era como se eu escutasse as batidas fortes dentro do meu peito. Enrolei os fones depressa correndo para alcançá-la.















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