capitulo 15

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Foi com as mãos trêmulas, o peito apertado e os olhos marejados que Fátima entrou no quarto de Heloísa, que estranhou a visita.

- Oi Fátima, que surpresa.

- Dona Heloísa, nós precisamos conversar.

- O que foi Fátima, aconteceu alguma coisa? 

- Eu estou aqui para falar sobre a Olívia.

‐Fátima eu estou ficando preocupada, aconteceu alguma coisa com a Olívia?

- Aconteceu que a Olívia é a sua filha perdida. -disse entregando o sapatinho a Heloísa

O coração acelerou, e o riso veio junto com as lágrimas, os sentidos se misturaram tal como as emoções, estava confusa, com raiva e feliz tudo ao mesmo tempo. Era Olivia, sua filha sempre esteve por perto, ela a viu crescer mesmo que de longe, como ela pode não perceber, não saber que ela era a mãe.

- Me explica, como a minha filha foi parar com vocês? E não mente pra mim eu quero a verdade

- Eu estava em itaperuna com a minha mãe e o Benê chegou com uma criança nos braços. Ele me disse que uma moça muito pobre tinha entregue a menina pra ele na estrada e eu acreditei, eu fiquei encantada pela menina e não fiz mais perguntas, eu só queria cuidar dela.

- E como você descobriu que ela é a minha Clara?

- O Leônidas descobriu por conta da doação de sangue, quando ele viu que o tipo sanguíneo da Olívia não era compatível comigo e com o Benê, e ontem ele foi até a minha casa e disse que  você era a mãe da Olívia, eu não acreditei no começo mas aí o Benê contou que o coronel entregou entregou a menina pra ele no mesmo dia em que arrancou dos seus braços.

- E...eu preciso ver a minha filha, eu quero ver ela, abraçar, beijar ela...ela  já sabe?

- Não, ela ainda não sabe de nada, e por isso eu quero te pedir um tempo. Deixa eu contar pra Olivia primeiro, acho que  eu e o Benedito é que devemos fazer isso.

Heloísa apenas assentiu, e Fátima saiu do quarto. A alegria era tanta que Heloísa sentiu que iria explodir, a tempos não sentia tamanha euforia, se sentia tão leve que pensou estar voando, nada jamais poderia se comparar aquela  sensação.

[...]

- E a Olívia que não chega!

- Calma Fátima.

- Como calma Benê? a gente pode perder a nossa filha pra sempre e você me pede calma? Isso tudo é culpa sua se você tivesse me dito a verdade eu teria poupado o sofrimento da dona Heloísa e  nós não estaríamos passando por isso agora.

- Eu prometi ao Coronel que não contava pra  ninguém.

- Eu sou sua esposa Benê! Não sou qualquer pessoa, nós somos casados.

- Mãe, pai tá tudo bem?

- Oh minha filha, desculpa. -disse-lhe Fátima

- Vocês querem me explicar o que está acontecendo? Já faz dias que vocês estão nesse clima horrível, brigando sem parar.

- A gente vai te explicar, Olívia. -falou Benê

- Então expliquem

- O que nós temos pra dizer é muito sério e muito importante

- Ai, falem logo, já estou ficando nervosa

- Olívia...você é...é a filha perdida da dona Heloísa.

- O que? Como isso é possível?

- Minha filha, o coronel me entregou você no mesmo dia que você nasceu e me fez prometer não contar pra ninguém, nem pra sua mãe. Eu levei você pra itaperuna e disse pra ela que tinha encontrado você na estrada.

- Eu só descobri isso ontem.

- VOCÊ MENTIU PRA MIM! - disse olhando pra Benê - COMO PODE ESCONDER ISSO? VOCÊ DEIXOU EU FICAR POR AI RODANDO VILAS COM AQUELE SAPATINHO SABENDO DE TODA A VERDADE.

- Eu achava que você ia desistir, quando não encontrasse nada

- DESISTIR? - ela soltou um riso amargo- eu nunca, ia desistir. Agora eu preciso ficar sozinha. -saiu batendo a porta

Tenório que assistiu toda a cena ao lado de Olívia falou pela primeira vez.

- Eu vou atrás dela.

[...]

Heloísa tinha os olhos cheios de lágrimas e nos lábios um sorriso encantador, segurava os dois sapatinhos de bebê nas mãos enquanto rezava a Santa Clara pelo milagre de ter sua filha de volta.

Violeta entrou na sala, e passou a admirar a cena, até Heloísa perceber sua presença e olhar pra ela estendendo as mãos.

- Heloísa, é o outro par do sapatinho da sua filha?

-  Eu encontrei minha irmã, eu encontrei a minha filha

As duas se abraçaram com toda a força, Violeta sempre foi o porto seguro de Heloísa, nada mais justo que ela ser a primeira a saber.

- E quem é ela?

- É a Olívia

- A Olívia?

- A Fátima, esteve aqui e contou toda a verdade, a minha filha estava aqui esse tempo todo e eu não percebi.

- Nem poderia minha irmã, a Olívia já era uma criança quando a Fátima e o Benê voltaram pra fazenda.

- Ah Violeta, eu quero ver a minha filha.

- E está esperando o que?

- Ela ainda não sabe, a Fátima pediu que eu esperasse ela contar.

- Eu tenho certeza que assim que ela souber ela bem te procurar.

- Eu estou tão feliz minha irmã, tão feliz.

Os sorrisos e os abraços ficariam marcados na memória de Heloísa e até de Violeta aquele certamente era o momento mais feliz dos últimos anos, e  nada poderia acabar com aquela alegria.




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