Capítulo 4

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Talvez tudo aconteça em nossa vida por um motivo. Minha aventura com Drey havia apenas nos aproximado mais, e no fundo era isso que eu queria. Naquele dia não conseguimos nada a não ser boas risadas juntos. Por sorte, minha mãe conseguiu sair do serviço e foi ao nosso encontro naquele bairro completamente estranho para meus olhos. Agora, alguns dias depois, eu me encontrava perdido em meus próprios pensamentos. Algumas coisas não eram apenas "rosas", ou "doces", sempre temos aquele momento amargo da vida que nos atingi em cheio quando o que mais queremos é um ombro amigo.

Minha vida ia por água a baixo, as contendas aumentavam cada vez mais, e aquele sentimento que eu sentia por Anderson também. Quando será que eu terei a oportunidade de ser feliz? Quando a vida irá "sorrir" para mim? Será que eu serei um infeliz para o resto da minha vidinha fracassada? Mas o que eu tenho a perder? Minha infância foi um imperfeito desastre, destruída por um homem que nem se quer sabe o que é amar, eu nunca fui uma péssima pessoa, eu só mostrava o que eu sentia, e quando me sentia ameaçado, eu me defendia... Mesmo que a minha defesa machucasse as pessoas a minha volta. Uma coisa que eu havia aprendido ao passar dos anos era: jamais discuta, apenas "toque" na ferida.

Todos têm seus problemas e isso é um fato, porém no fim do dia todos achavam uma solução para cada um deles, mas eu não tenho essa capacidade. Talvez tenha sido a ausência do meu pai a culpada por isso tudo, a dor dentro de mim apenas piorava ao lembrar que ele havia me deixado. Eu nunca guardei rancor dele ou algo do tipo, as pessoas e o mundo precisam de mais perdão e amor, pois no fim é isso o que prevalece. Em minha cabeça, iria ser apenas minha mãe e eu para sempre, juntos e unidos, mas então ela se apaixonou novamente por outro cara. Talvez não fosse justo proibir ela de seguir sua própria vida, e depois de um longo tempo, eles se "juntaram".

Depois de dois anos morando juntos, tudo mudou. Dona Luci resolveu criar a filha do meu padrasto, era uma garota, eu deveria ter ficado feliz, mas eu sabia que o que eu temia iria acontecer... E aconteceu. Eu fui completamente esquecido por minha própria mãe, e isso resultou em me proteger sozinho... De tudo e de todos.

Passou novamente mais dois anos e eu novamente não tinha mais família, o homem que um dia prometeu me amar com todo o seu amor se transformou em um verdadeiro monstro, sofrer agressões físicas dele já era algo normal, como uma rotina. Algumas vezes a surra era tão forte que deixava marcas roxas em mim. Minha mãe nunca soube sobre isso, afinal ela não nunca tinha tempo para mim, ou então ela se recusava a enxergar a verdade bem diante de seus olhos.

Mais alguns anos se passaram. A filha do meu padrasto estava enorme e eu simplesmente não suportava mais aquilo. Eu não tinha com quem conversar. Meus colegas nunca foram tão próximos de mim para saber sobre essas coisas, a minha única saída tinha sido guardar tudo para mim e liberar meu ódio em cortes. Talvez a principal motivação disso tudo fosse à merda do meu padrasto, minha mente havia se focado em coisas ruins, e meus cortes eram cada vez mais profundo. Eu acreditava que no fim seria igual a um livro que eu li por ai, onde um garoto vivia uma vida fracassada e no fim se jogava do décimo quinto andar de um prédio.

Finalmente com quinze anos de idade, tudo em minha vida mudou totalmente começando pelo fato do monstro que eu chamava de padrasto ter ido embora de vez da minha vida. Eu estava me conhecendo melhor e meu desejo por garotos só aumentava, talvez minha falta de interesse em garotas e até um pouco de nojo quando se tratava de garotas nuas fosse à prova de que eu realmente era gay, e eu já havia me aceitado interiormente, porém eu não podia me assumir gay, afinal, minha mãe era muito religiosa, e eu na certa seria desprezado e expulso de casa. Quando entrei para o ensino-médio minha mãe já me tratava diferente, eu em toda minha vida procurei ser o filho perfeito, eu não poderia reprovar de ano quando pequeno, pois sabia das consequências, então eu nunca tinha reprovado em toda a minha vida, é lógico que eu nunca tinha ganhado nada por passar de ano, eu escutava apenas um "não fez mais que sua obrigação". Mas era normal. Eu não fazia questão de nada, pelo menos o meu estudo iria me levar a um lugar melhor, um lugar que eu poder comprar todos os brinquedos que eu queria quando criança ou todos os livros que eu via nas grandes prateleiras de uma loja antiga. Eu estava cansado de muitas coisas, e o garotinho sozinho que chorava sempre eu seu quarto, foi trocado por um garoto rebelde e revoltado, um garoto que já estava de "saco cheio" daquela vida idiota, o que antes apanhava de um padrasto, agora sabia se defender e ia pra cima do palhaço que um dia lhe prometeu amor. Eu tinha mudado e agora sabia que nem mais o amor de minha mãe eu tinha, mas do quê importa? Eu sempre fui sozinho... E agora era tarde para eu mudar. Como dizem: "toda ação tem uma reação", ela me fez crescer assim, eles que aguente o resultado. Agora que estou no ensino médio, mais uma vez meus planos iam por água abaixo. Eu já era chorão, já sofria com uma dor de não ter um pai, agora sofria com a dor de um amor não correspondido.

Antes do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora