Capítulo 6

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— Por que faz isso, Érica? — sussurro, chamar atenção era a única coisa que eu queria naquele momento. Seja lá o que acontecia na vida de Érica, eu sabia que ela não merecia passar por aquilo. — Será que não ver que isso não trás nenhum benefício a você e a sua saúde? É um caminho sem privilegio!

A luz ainda apagada e o quarto claro apenas pela a luz da lua. Senti a respiração de Érica cada vez mais ofegante. O desespero dela estava no máximo, talvez ela não tivesse contado a ninguém que praticava aquele tipo de coisa. Eu entendia o que ela sentia, talvez por culpa de minha infância quebrada.

— Maycon, me desculpa, mas isso é assunto meu. — a garota puxou seu braço rapidamente e se levantou da cama, seu olhar ainda fixo no meu resultava e transmitia medo, medo de que eu a fosse julgar, coisas que jamais faria, pois eu sabia como era passar por vários tipos de situações "desagradáveis".

— Érica, eu já passei por isto e eu entendo como você se sente, eu não sou um estranho, eu sou seu amigo! — as palavras fluem da minha boca quase que normalmente, eu sabia que ela só precisava um amigo para desabafar, e eu poderia ser aquele amigo.

— Simples, minha mãe é alcoólatra e meu pai é um filho da puta que trai e rouba minha mãe, eu suporto a pressão da casa sozinha, eu tenho que me virar sozinha, eu faço tudo sozinha. Acho que chega um ponto em que você não tem saída, e se tiver... A saída é essa. — a garota subiu um pouco seu casaco, deixando a mostra seu braço machucado. — Acha que é fácil? Eu não consigo sair, pois tenho medo de quando eu chegar encontrar minha mãe estar morta e meu pai ter roubado tudo.

A realidade de Érica era assustadora e eu sabia que ela precisava de ajuda, eu sempre era a pessoa que ficava entre as brigas e as dificuldades dos meus amigos, eu era "coração-mole" e gostava de entender e ouvir as pessoas, por mais que elas insistissem em dizer que estava tudo bem. Ajudar Érica era difícil, pois ela mesma não queria ajuda. A garota apenas se levantou e seguiu rumo à saída, me levantei da cama e a segui sem dizer nenhuma palavra, a morena desceu as escadas e correu pela a porta da minha casa. Eu não esperava aquela atitude dela, mas deixei-a ir, se ela não queria ajuda, eu não forçaria. Talvez eu me odiasse por ser tão fraco e inútil.

Meus amigos se perguntaram o motivo dela ter ido embora, eu não falaria, respeitaria a privacidade dela. Drey falava algo que eu não entendia junto a Victor e eu não queria me enturmar, apenas queria ficar quieto e pensar em uma solução para ajudar Érica. Rose preparava algo para comer, caminho lentamente até o jardim da minha casa e mais uma vez me pego pensando em Anderson. Eu não entendia o motivo dele sempre aparecer em meus pensamentos quando eu menos preciso, eu não entendia o motivo dele sempre ser o meu principal pensamento. Eu não entendia mais nada, apenas estava de olhos fechados deixando a vida me levar. Eu não queria mais seguir uma direção na qual eu tinha certeza que não me levaria a lugar algum.

— Por que tem que ser assim? — perguntei olhando para cima, esperando uma resposta divina cair do céu. — Por que eu não posso dizer a ele que eu o amo? Por que eu não posso ser o suficiente para ele? Esta droga está doendo mais a cada dia! — respirei fundo e pressenti uma lágrima, me sentei no chão rodeado de flores coloridas, como se só houvesse eu e as estrelas naquele local, minha vontade era de abraçar uma estrela mesmo sabendo que ela é um meteoro e que eu não sobreviveria para contar a história de que abracei uma. — Eu poderia colocar a culpa no universo, mas sei que ele não tem culpa nem do meu nascimento. — disse a mim mesmo. O rosto de Anderson começando a se formar na minha cabeça, além de falar sozinho eu agora estava literalmente vendo Anderson na mente. Ótimo.

"Meus dedos brincavam na terra fria do meu jardim, a vida solitária voltava para mim, não havia amanhã para o meu ser, não haveria paz em meu coração, eu não poderia dormir, pois sabia que nada estava bem, não poderia dormir, pois tinha medo de não acordar. Eu era tão medroso, que o medo se instalou em mim. Às vezes eu só queria me arrastar em milhares de vidros quebrados, rasgando cada parte do meu corpo, pois talvez com a morte total, eu teria a tão esperada paz".

Antes do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora