Capítulo 2

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-Acorde Claire.

Remexi em minha cama.

-Vamos lá, sua avó já está subindo com um balde de água e não ousarei de impedi- lá.

Abri os olhos com o intuito de fazer meu avô não mais ter que me ameaçar e poder sair do quarto.

-Boa menina. - Ele disse e beijou minha testa.

Enrolei por mais uns cinco minutos. Levantei, me arrumei e desci as escadas.

Era sábado e acostumava acordar apenas às 10 horas, mas era 14 de fevereiro. E mesmo que quisesse passar o dia trancada no meu quarto, teria que aguentar aquele dia com força.

O modo como meus avós lidavam com a situação chegada a dar inveja.

Mas, como eu poderia comemorar a lembrança de uma tragédia?

Não era como um aniversário, ou um dia especial, era o dia que perdera meus pais.

Fazíamos o mesmo "ritual" todos os anos, em homenagem a eles. Íamos até o parque, colhíamos flores, íamos ao cemitério (a pior parte do dia), colocávamos as flores, íamos à casa do pastor, orávamos para Deus confortar nosso coração e nos dar força e alegria. Nunca oramos pelas vidas deles, afinal eles já se foram e sei que estão bem. Mas eu não estou...

- Oh Senhor, conforte o coração de Claire, dê a ela a alegria dos céus. Mande seu anjo de luz sobre a vida dela e que todo mal, toda dor e toda a tristeza vá embora pelo Seu nome. Amém.

Repetiu o pastor pela décima primeira vez.

E depois cantávamos um hino feliz e íamos à lanchonete, na qual sempre fui com meus pais também.

Aparentemente era bom, e de certa forma, fazia o nosso dia ser bom também, pelo menos até chegar a noite.

Li o livro do colégio e o mesmo Salmo dado pelo pastor. Fiz minha oração individual e fui até a janela. O céu estava iluminado por uma bela lua envolvida por estrelas.

Abracei meus avós e fui para a cama.

Olhei para o teto, a luz ainda ligada, peguei de baixo da cama uma caixa. Lá estava meus diários, desde os cinco anos de idade. Peguei o atual e escrevi: "Nada como viver mais uma vez o dia 14, nada como orar mais uma vez para que tenhamos conforto, nada como cantar o que não sentimos, nada como colocar flores, na qual morrerão. Sinto falta deles, sinto até mesmo a minha. Nada como querer novamente que nada tivesse acontecido. Mas não tenho raiva de Deus, apesar de tudo, eu não tenho..."

Peguei uma fotografia, minha mãe era linda, espero que eu seja como ela. Meu pai, não costumava sorrir muito e por isso aquela foto significava tanto. Seu sorriso era honesto e verdadeiro, assim como o meu. E pensar que agora eu simplesmente finjo um.

Aquela garotinha, como eu tenho inveja dela.

Fechei meus olhos com força pra não chorar. Não quero que tudo seja exatamente como os outros anos. Mas sempre o mesmo "ritual". As lágrimas desceram devagar. Sequei o meu rosto e coloquei tudo em baixo da cama. Comecei a cantar baixinho a canção que minha mãe costumava cantar.

"DORME, DORME, MEU ANJINHO.

DURMA EM BUSCA DOS SONHOS BONS.

DORME, DORME, MEU ANJINHO

O SONO NÃO É SOLIDÃO.

ESTOU AQUI A TE AMAR, E O SONO VAI TE ABRAÇAR.

DORME, DORME, MEU ANJINHO

AS ESTRELAS PISCAM LÁ

ONDE OS CÉUS VEM FALAR.

QUE OS ANJOS VOAM SEM PARAR.

DORME, DORME BEM TRANQUILA, VOU TE ACALMAR.."

E me calei, em busca do sono que eu tanto desejava.

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