06h30min da manhã o relógio despertou –me.
Fui ao banheiro, entrei de baixo do chuveiro e enquanto a água caia sobre minhas costas, eu pensava na melhor maneira de viver. Não tinha feito nenhuma promessa, mas se eu sobrevivi ao acidente, então sobreviveria ao colégio. Certo?
Vesti o meu jeans preferido, a blusa do uniforme e meu moletom cinza por cima, coloquei minhas meias vermelhas e o coturno de couro. Olhei- me no espelho, ousei em passar um batom vermelho, mas quem eu queria enganar? Não costumava me maquiar, mesmo tendo uma gaveta inteira com cosméticos. Apenas em casamentos, formaturas e aniversários eu passava aqueles produtos "esconde a cara".
Peguei minha mochila e desci as escadas.
- Bom dia! – Meus avós disseram em conjunto.
- Bom dia. – Respondi com menos ânimo.
- Pronta para o grande dia?- Meu avô perguntou se sentando a mesa.
Suspirei em imaginar como seria o primeiro dia de aula. Tão exaustivo quanto os anos anteriores.
- Uma garota normal de 16 anos diria que sim. –Ele brincou.
- O problema é que não sou normal.
- Isso mostra o quanto você é especial. – Minha avó falou, passando às mãos pelos meus cabelos.
***
-Chegamos. - Olhei para a escola e então para as pessoas conversando alegremente na porta. Suspirei umas duas vezes antes de reagir à parada do carro.
-Obrigada, vovô. - Agradeci com a voz baixa.
- Querida. - Meu avô me chamou, colocando as mãos em meus ombros. - Tente fazer amigos. Isso fará bem a você.
Concordei, suspirando mais uma vez.
Aquela escola não era novidade para mim. Será tudo exatamente como os anos anteriores. E eu sobrevivi desde então...
Sai do pequeno carro amarelo, apelidado carinhosamente pelos meus avós de Yell.
Coloquei minha mochila nas costas e andei lentamente com a cabeça baixa.
Havia alunos por toda parte, principalmente na entrada. Alunos chegando a pé, ou em suas bicicletas antigas, ou até mesmo em seus skates barulhentos.
Como em toda cidade pequena, não era diferente com a minha. Uma das únicas escolas da região, na qual abrangia todo tipo de gente, cor, sexo ou classe social.
Talvez esse fosse o lado bom. Em um único lugar, uma variedade inexplicável de rostos diversos. Expressões diversas. Intenções diversas.
Nas mesinhas por onde passei, sentavam os "de sempre".
Ousei olhar para a Olívia, seu rosto sorridente e atraente, inclinada para seu novo namorado. Hugo, talvez o novo "bad boy" do colégio. Deveria esperar para ver.
Só soube da "troca" no final do verão. Porém, eles já se envolviam desde o final do ano passado, quando o Raphael ainda estava na cidade (seu namorado na época e seu ex atualmente.)
Minha avó chegou a comentar o caso. Sempre sabendo das fofocas. Bem, pelo menos nos divertimos com as histórias. Não que eu fosse fã de fofoca, pelo contrário. Mas era interessante saber do "vômitoque". Algo relacionado a uma noitada da Olívia e do Raphael que acabou terminando em vômito no carro dos pais dela. Nada como uma boa namorada gritando "não me toque" para o seu tão querido namorado depois de ele ter vomitado até as tripas. Ela saiu do carro, deixando- o ali e pegou um táxi. Chegou em casa sem o carro dos pais e se apavorou ao perceber que tinha esquecido deste pequeno detalhe. Vai, é cômico!
E pensar que chegamos a ser amigas. Provavelmente, a última amiga que tive há uns dois anos atrás. Não sou tão anti-social, só não me bato com ninguém daqui. Como se eu não fizesse parte ou como se essa cidade não fosse meu lugar. Mas então, aonde seria?
Voltei a olhar para baixo, passando por algumas meninas que chegaram a me cumprimentar com certa "reverência".
Subi as escadas e cheguei à sala.
-E ai?
Levantei os olhos assustada.
Era Julia, uma das únicas pessoas que troquei frases completas. Como: "A pesquisa é sobre os povos bárbaros. Mas o trabalho é apenas para o mês que vem."
"Ufa. Que bom! Minha internet está fora do ar. Mas provavelmente volte até sexta."
-Oi. -Disse com a voz baixa.
Sentei em uma das carteiras encostadas à direita, peguei um caderno e comecei a rabiscar alguns desenhos abstratos da minha mente.
Quando percebi, a maioria dos alunos estavam em sala e o professor já tinha entrado.
- Olá turma. Sou Marcos e espero que tenham um bom ano letivo. Prometo não ser chato, se vocês não forem. Caso não cumpram a promessa, pegarei em seus pés, até terem calos.
Risadas e deboches surgiram, além de lamentações e silêncio. Bem, o silêncio foi por minha parte, mas não deixei de achar graça.
***
As primeiras três aulas passaram rápidas e o sinal bateu, dando início ao intervalo.
Peguei um livro. - Nada melhor do que a leitura como companhia- desci e sentei em uma das mesinhas ao lado de fora da escola, na qual vários alunos também iam para passar o recreio.
O dia estava bom. Mesmo com algumas nuvens cinza, o sol batia em meu rosto, me esquentando suavemente. Até eu sentir a necessidade de uma sombra fresca e fui em direção ao banco de baixo de uma árvore.
- Ei, cuidado. - Esbarrei- me com uma das "de sempre".
-Desculpa, estava distraída. - Quando notei, era Olívia, a minha antiga melhor amiga de infância.
Ela também percebeu que era eu e baixou o olhar.
Nossa amizade era, praticamente, verdadeira. Até os meus 14 anos continuávamos unidas. Mas, talvez com a falta dos meus pais e com a chegada da adolescência, já não era a mesma. Eu tinha mudado. E a solidão tinha sido minha tão nova escolha.
E hoje, posso chama- lá de amiga.
- Tudo bem, Claire? -Disse ela, quebrando o constrangimento.
- Aham. -Tentei soar o mais amigável possível.
Ela também cooperou para o fim da nossa amizade. Olívia também tinha mudado. E invés da solidão, ela escolheu a popularidade, os meninos bonitos e as roupas glamorosas.
Tínhamos nos tornado pessoas completamente diferentes, e com o tempo, desconhecidas, mas mesmo assim, ela era uma das únicas pessoas que me conhecia.
- E com você? – Perguntei, tentando ser simpática.
- Eu vou... – Ela se calou, sua expressão demonstrava seus questionamentos. Até que em fim, interrompeu todo aquele "lenga- lenga" e me perguntou animada, porém com certa insegurança- Claire, sei que você não gosta muito de sair, mas hoje vai acontecer uma festa de boas vindas. Bem, vai ser bom pra você se enturmar, conhecer gente nova. Você vai, né?
Pensei: Me enturmar? Conhecer gente nova? Ok, talvez ela não me conhecesse mais. A resposta já estava na ponta da língua, quando me lembrei do conselho do meu avô- "Tente fazer amigos. Isso fará bem a você. "
Meu coração se apertou, não poderia recusar por dois motivos: 1) Olivia foi legal ao me convidar. Ela simplesmente poderia deixar passar, mas não. E 2) Meus avós queriam que eu vivesse, eu disse que tentaria, então o que custa eu aparecer na festa?
- Eu vou tentar ir... – Ela arregalou os olhos com surpresa e abriu um sorriso honesto.
- Não esperava que aceitasse. Certo, tente ir. Te esperarei lá.
Sinceramente, também não espera
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Sky Hope
Jugendliteratur"Claire, uma simples garota, com momentos de alegria e sentimentos de tristeza. Vive em uma pequena cidade com os avós, na qual a acolheram desde o trágico acidente que matou seus pais. Há 11 anos com o trauma que vira com os próprios olhos. Todos...