Capitulo 3

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"É isso ai, Felipe!" - Gritava um dos rapazes saindo do que parecia uma balada.

"Sabe como é que é, né?" - E beijou uma das garotas ao seu lado.

"Sê não vai ficar mais aqui, não?" - Falou outro garoto, com uma cerveja na mão.

"Eu já to sentindo a ressaca, irmão."

"Para com isso, babaca. Aproveita mais!"

"Vou te mostrar quem é o babaca."

Riam, se jogando pra frente e pra trás.

"Toma, bebe mais um gole."

"Eu já to bêbado, acho que não deveria ter bebido demais."

"Qual é? Nada demais."

"Eu vou pegar na direção, mano."

"Sê não vai matar ninguém, relaxa."

"Beleza, cara. Tenho que ir."

Assistia a cena do outro lado da rua, vi o tal Felipe caindo a cada passo que dava e corri em sua direção.

"NÃO DIRIJA." - Gritei, e no mesmo momento todos me olharam, como se eu fosse louca.

"Caramba, eu to realmente bêbado. To vendo coisa." - Disse ele, gaguejando, para os amigos.

"POR FAVOR, NÃO ENTRE NESSE CARRO." - Gritei mais uma vez.

Ele me olhou assustado e simplesmente me ignorou, entrou no carro e o ligou.

Corri e me joguei na frente do automóvel.

"Saia daí, sua louca!" - Gritou ele de dentro do carro.- "Dá pra tirarem ela do caminho?"

Nesse momento, senti meu corpo sendo jogado no chão.

Quando consegui me levantar, o carro já estava virando a esquina.

Comecei a correr como realmente nunca conseguiria. Correr em uma velocidade mais do que meu limite e com a energia impossivel pra alguém como eu.

Já estava próxima do carro, mas sua velocidade então começou a aumentar.

Corri ainda mais.

"NÃO!" - Eu gritava.

Encontrei atalhos no meio da rua e consegui ver o carro passando ao meu lado.

"Corra mais"- Alguém dizia em meu ouvido- "Corra, se não..."

E corria novamente.

Passei por mais um atalho até passar outro carro.

Reconheci o sorriso, o vestido rosa atrás e a beleza encantadora sentada no passageiro.

"MÃE!" - Gritei com lágrimas nos olhos. Ela me olhou assustada e pediu para que meu pai parasse. Ele, confuso, também me olhou e virou novamente para frente. Segui seu olhar, até o carro vermelho, vindo em alta velocidade à frente. Olhei novamente para minha mãe e gritei uma ultima vez: "EU TE AMO!"

E então, a mesma imensidão, o mesmo barulho, a mesma dor e acordei, com as mesmas lágrimas nos olhos.

- Está tudo bem, querida. Já passou. - Disse minha vó, me abraçando. E chorei, como todos os dias 14.

Aquele era o mesmo pesadelo, sempre, e eu nunca conseguia impedir. Por quê? Por que não corri até o garoto e o impedi de entrar no carro, ou por que não liguei para meus pais, avisando para eles irem por outro caminho, ou quem sabe para a policia?

- Foi só um sonho. - Disse minha vó calma.

Não, não foi um sonho. Aquilo aconteceu de verdade, eu os perdi de verdade e nada pude impedir. Aquele pesadelo era tão real quanto a minha dor.

- Claire, minha neta. - Minha vó pegou meu rosto, já o enxugando . - Eu sei como dói. Em todos esses anos, ainda sinto falta deles. Mas, isso não é normal, esses pesadelos que você sempre tem. Eu sei que você nunca os esquecerá e o acidente te deixou uma grande cicatriz. Mas, são todos os dias. Você sempre está triste, sempre chora, e esquece que tem a gente. Nós te amamos, querida. Você não precisa passar por tudo isso sozinha. Se não te demos atenção todo esse tempo, pra você estar assim, então eu prometo que te ajudarei a esquecer, de certo modo, a dor, ou de cuidar dessa cicatriz. Mas diga o que sente. Não se tranque nesse quarto como se não houvesse vida lá fora. Claire, não consegue ver que está viva por um milagre? Então viva o hoje, viva a sua vida. Não viva mais o passado, ou aquela memória. Tente não pensar mais nisso, ok?

Eu sabia que ela estava certa, mas não era tão fácil. Não era tão fácil viver. Não era tão fácil esquecer.

Mas se ela quer que eu viva, é isso que tentarei.

- Mas se eu fracassar?

- Então eu fracassarei com você.

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