final

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[...] Uma pequena onda de silêncio pairou sobre as duas, mas não um silêncio desconfortável. Apenas se entreolharam e voltaram a caminhar pelos corredores, sem rumo definido.

Momo observava Jirou de relance. Ela estava realmente estonteante... Reparou no visual despojado das mechas do cabelo alheio, até que, em algum momento, seus olhos pousaram nos fones da garota. Eram tão singulares... Nunca havia visto outra pessoa com uma individualidade assim. Não pôde evitar levar as mãos até eles, na expectativa de tocá-los, mas aparentemente o contato repentino pegou a menor de surpresa. Jirou arregalou os olhos e virou o rosto de repente.

- Ah! - Yaoyorozu se condenou pelo que fez. - M-Me desculpa...

- Não, não!! - Kyouka tentou mediar a situação. - 'Tá tudo bem, é que... Suas mãos estão... - ela dizia sem graça, desviando o olhar em função da vergonha. - ...meio frias.

- Oh. - Momo entendeu do que se tratava e levou as mãos até a boca, soltando ar quente sobre elas e esfregando-as uma na outra para que o atrito entre elas pudesse se converter em calor.

Quando achou que seus dedos já estavam propriamente aquecidos, estendeu as mãos. Jirou engoliu seco e respirou fundo. Um simples toque não faria mal a ninguém, certo? Seus fones se esticaram e foram de encontro às mãos alheias.

As pontas dos dedos de Yaoyorozu os tocaram com firmeza e delicadeza impressionantes, manipulando os dois com a mesma intensidade e frequência. Kyouka tentava permanecer de olhos abertos, mas era difícil se concentrar diante daquilo. A verdade era que, apesar de tudo, seus fones eram bastante sensíveis. Já sentia o próprio rosto queimar; tudo o que lhe restava era rezar para que não estivesse vermelha como um tomate.

Momo, por outro lado, deu continuidade ao processo: dedilhou todo o comprimento, chegando até bem próximo das orelhas alheias e, por último, tocou nas partes que pareciam ser metálicas. Senhor... Jirou mal estava se aguentando sobre as próprias pernas. Yaoyorozu percebeu que o material das pontas não era exatamente um metal. Parecia uma mistura, que a garota não sabia exatamente de quê era feita. Tinha suspeitas quanto ao serem maleáveis e, por conta disso, acabou colocando pressão em um deles para ver qual seria o efeito. Entretanto, não esperava que a reação de sua ação fosse uma arfada por parte de Jirou.

Quando fitou o rosto alheio, não demorou nada para perceber que aquele rubor e contração dos músculos da face não eram apenas coincidência. Soltou os fones imediatamente e ambas tentaram fazer de conta que aquela arfada nunca acontecera. Um silêncio pairou no ar, mas Momo imaginou que só deixaria a situação ainda mais constrangedora.

- Ahn... Seus fones são legais. - tentou quebrar o gelo.

- O-Obrigada. - Kyouka respondeu, ainda morta de vergonha.

- Sabe, eu queria ter alguma característica física que retratasse a minha individualidade também. Como você, o Tokoyami, a Tsuyu... Desde criança eu sempre achei muito legal. Meu corpo é muito normal e sem graça...

- O que?! - Jirou questionou como se aquela fosse a coisa mais absurda que escutara na vida. - Seu corpo? Sem graça?! Você só pode estar brincando comigo, seu corpo é perfeito! Olha só 'pra você, parece até uma Barbie... - ela se calou instantaneamente quando percebeu o que havia acabado de dizer. - Q-Quero dizer, ahn... - tentou se justificar, mas tudo o que conseguiu fora uma risada genuína da mais alta.

Como amava aquela risada... Yaoyorozu ficava mais apaixonante a cada segundo. Seguiram a caminhada em silêncio por mais alguns passos.

- Eu... - as duas disseram ao mesmo tempo, calando a si próprias logo depois.

- Pode falar. - Yaoyorozu deu liberdade.

- Não, não, você primeiro, Momo. - Jirou fez questão. A vice-representante pareceu ficar um pouco sem jeito, passando as mãos pelo cabelo na expectativa de se acalmar.

Um convite quase perfeito (MomoJirou)Onde histórias criam vida. Descubra agora