Bandeira branca

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POV SUSAN

A semana que sucedeu à briga que tive com Shipley foi um verdadeiro inferno.

A escola estava um caos de tão bagunçada e ainda tinha que aguentar meu marido me ligando dia e noite pedindo e implorando pelo meu perdão.

Eu não estava pronta para falar com ele, ver aquelas marcas de unhas e chupões pelo corpo dele foi a gota d'agua, não precisava de nada além disso para ver o quanto eu era otária.

Ainda estava meio chocada por Emily e Vinnie terem me defendido, não esperava que elas fizessem aquilo, mas seria eternamente grata por isso.

Também não estava acreditando que aquele amigo da Emily, o tal do George Gould, havia me chamado para a noitada deles.

Era uma coisa entre amigos e ele estava me incluindo nela.

Meu incentivo foi a cara de irritada que Dickinson fez quando o amigo fez o convite e não pude me segurar, quando vi já tinha aceitado só para irritá la ainda mais.

Cheguei em casa já estava anoitecendo e vi a casa de Emily ainda escura e me peguei pensando onde ela poderia estar àquela hora.

Isso não é da sua conta, Susan. Se toca.

Arfei e revirei os olhos entrando em casa, levei um baita susto ao ver Shipley sentado na poltrona com um copo de whisky na mão e um olhar perdido.

Ele estava péssimo com olheiras fundas e a pele pálida. Não fiquei comovida, ele quem procurou.

- O que está fazendo aqui? - perguntei tentando manter intacta a minha paciência que era bem escassa.

- Você não atendeu as minhas ligações - falou com ressentimento na voz e eu não tive outra escolha a não ser revirar os olhos enquanto retirava os sapatos.

- Talvez porque eu não queira falar com você - apontei o óbvio e o vi massageando as têmporas, ele fazia isso quando estava irritado e não pude deixar de sentir um frio na barriga com medo do que ele pudesse fazer.

A Emily e a Vinnie não estariam ali para me defender dessa vez.

-Eu fui um babaca, Susan, me perdoa - pediu com os olhos suplicantes me fazendo respirar fundo. -Eu não posso ficar longe de você, eu prometo que vou mudar. Não jogue o nosso casamento fora por um deslize, meu amor.

-Eu lido com babacas todos os dias, Shipley - falei - Você foi violento e assustador, não sei o que teria feito se a vizinha não tivesse interferido.

Nesse momento me assustei com meu marido se jogando aos meus pés e me implorando por perdão.

Senti meus olhos marejarem e eu nem sabia por quê daquilo, por Shipley não era, mas eu me sentia exausta, cansada, acabada e sem vontade de fazer nada.

Acabar com o meu casamento me daria trabalho, me daría dor de cabeça e custaria dinheiro. E por outro lado, seria quase a mesma coisa.

Afastei o rosto de Shipley e sequei as lágrimas que escorriam do rosto dele.

Ele era um bom marido, atencioso e sempre perguntava sobre o meu dia, algumas vezes tinha os acessos de raiva dele, mas nunca chegou a me agredir. O máximo que atingiu foi para segurar no meu braço no jardim que as duas amigas presenciaram.

- Levante-se, tome um banho e troque de roupa - meu marido fez o que eu estava pedindo, mas me envolveu em um abraço apertado e desconfortável.

Me senti estranha, como se tivesse tomado a decisão errada, traindo a mim mesma por ser tão cômoda com as coisas.

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