Eu Estava Viva

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E era como se sua alma estivesse voando, assim como qualquer pássaro que tem sua liberdade. Eu também sentia a brisa do vento soprando em meu rosto, era como se eu fosse feliz de verdade. Era sempre assim até que esse sonho acabava e voltava-me para a escuridão dos meus pensamentos.
Encontro-me em um quarto branco, frio. A cama de metal range ao menor movimento que faço, e os bipes dos aparelhos ao meu lado repetem-se continuamente, como uma interminável e sádica sinfonia. De qualquer forma, fico quase feliz por ouvi-la; o som torna-se acolhedor — talvez pelo fato de finalmente poder ouvir algo real, e não apenas meus pensamentos e sonhos que pareciam não acabar. Eu finalmente consegui abrir meus olhos. 

Eu estava viva.

E de algum modo eu me sentia feliz, porém um pouco confusa, não sabia o que estava fazendo ali, sendo que pensava que estava morta. 

Eu vestia apenas um vestido branco e havia alguns tubos de respiração no meu nariz, pelos quais eu recebia ar. Fazia cócegas, mas não era tão ruim. Mesmo assim o tirei. Já não precisava mais deles — estava respirando muito bem.
Ao meu lado tinha uma poltrona branca e ali uma mulher dormia, ela parecia cansada. Tinha cabelos claros, o tom de sua pele era pálido, usava roupas elegantes e aparentava ter uns quarenta anos. 

Eu não tinha ideia de quem ela era.

Eu nem tinha ideia de quem eu era.
Me levantei e fiquei ali sentada na cama e nisso a cama de metal rangeu o que fez a mulher acordar, ela abriu os olhos e em segundos se levantou e veio até mim: 

— Oi, eu me chamo Stela, como é seu nome? — Ela perguntou com um sorriso no rosto.
— Eu não sei. — Disse devagar surpresa ao ouvir minha própria voz, e foi só isso que consegui dizer.
Até a escuridão invadir novamente minha visão.



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