O Matador de Mulheres

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Por um lado, me sentia feliz pelos cuidados de Stela - ela era atenciosa e muito carinhosa, a mãe que eu sempre quis ter. Havia uma semana que eu me mudara para casa de Stela. Não ficava muito longe do hospital, e nem da avenida principal. A casa era enorme e bem confortável, e ela morava com o seu marido, Drace, um senhor muito simpático. Sempre que eu precisava, ele vinha me atender.
Stela tinha uma vida parcialmente tranquila. Ela gostava do que fazia - de seu trabalho e de todo o resto -, e estava muito bem financeiramente.
Era final de tarde e eu estava num quarto que Stela disponibilizou pra mim, sentada na beirada da cama, acompanhando o noticiário na tevê - mais um caso de morte de mulheres. Estava sozinha em casa; Stela já havia ido trabalhar, e o marido também.
Gostava de passar a maior parte do tempo no quarto, tentando encontrar na internet algo que me ajudasse a recuperar minhas memórias. Descobri que gostava de flores, todas elas me traziam ondas de calma. Então, como era indicação médica, meu quarto ficava cheio delas. Murmúrios pelo hospital diziam que eu era perturbada, algum tipo de louca. Eu tinha alguns surtos às vezes, ficando extremamente irritada, e toda vez que as enfermeiras me medicavam com calmantes eu dormia logo em seguida.
Voltei minha a atenção para a tevê. Um programa local de entretenimento havia começado, e a apresentadora adorava fazer especulações sobre mim - a cidade toda se perguntava por onde eu andava, e alguns se arriscavam a falar que morri.
Naquele momento alguns repórteres faziam perguntas para os médicos dos hospitais do qual eu fiquei. Ninguém gostava de dar entrevista, então, mais uma vez, o programa perdeu a audiência. Mesmo não querendo, as pessoas adoram se distrair com a vida dos outros - a minha, no caso - e isso sempre me deixava irritada.
Desliguei a tevê e alcancei uma rosa que estava na escrivaninha, meus dedos acariciavam as pétalas, e a onda de calma veio de repente. Mas ela não me daria respostas, eu precisava sair a procura da minha identidade.
Coloquei a rosa no bolso da calça, e segurei forte na turquesa do meu cordão. A turquesa irradiou uma luz cintilante e uma voz angelical ecoou no meu quarto.
- Elizabeth, procure os Steemos, eles lhe ajudarão.
A luz se apagou.
Corri desesperada para fora da casa, em direção à avenida principal. Meus olhos doiam por conta da luz forte dos carros e me dei conta que estava no meio da avenida. Os carros desviavam de mim, buzinando e gritando para que eu saísse dali, mas eu não conseguia me mover. Entrei em pânico por um segundo, e então corri para o outro lado da rua. Entrei em um lugar com um letreiro iluminado.
O som de algo que reconheci como rock ecoava no lugar. Mulheres com roupas curtas desfilavam, sempre segurando uma taça ou uma latinha. Homens mal-encarados fumavam cigarros enquanto viam mulheres dançarem em uma espécie de bastão em cima do palco. Sentei-me no banquinho à frente do balcão, ao lado de um homem careca de colete preto desbotado que bebia algo que eu não sabia identificar. Uma mulher com um top justo que deixava os seios à mostra apareceu atrás do balcão.
- O que a bonequinha vai querer? - perguntou.
- O mesmo que ele - disse, apontando para o homem ao meu lado.
- Hmmm - ela sorriu -, boa escolha. Logo que tivesse chance iria perguntar sobre Steemos - mesmo que ainda não soubesse como fazê-lo. A moça encheu uma taça e me entregou, me encarando, como se esperasse algo.
- O dinheiro, bonequinha.
- Hã? - perguntei sem entender direito. - Oh, Céus, será que terei que chamar os seguranças? - resmungou com voz de tédio. O homem do meu lado virou-se para ela.
- Deixe por minha conta - disse com uma voz grossa e fixou o olhar em mim - o que você faz num lugar como esse, gatinha?
- Estou procurando por respostas.
- Eu posso te dar todas elas, me acompanhe - ele saiu em direção ao um sofá vermelho que tinha vista para o palco. Sentei-me ao seu lado, segurando a bebida.
- Não vai tomar? - perguntou. Virei a taça na boca. A bebida desceu queimando como se fosse vidro, me fazendo tossir quando terminei.
- Com cuidado, gatinha. - avisou
- O que você procura?
- Steemos. Você sabe o que é? - perguntei, deixando o copo de lado. O homem encostou pra mais perto de mim e pousou a mão na minha coxa direita, apertando-a. Eu recuei e bati forte no braço dele. Por algum motivo ele gritou de dor.
E novamente as imagens rodavam na minha cabeça: o nome dele era Roob, e sempre frequentava lugares como esse, enchendo a cara de bebida. As imagens de mulheres gritando vieram em minha mente enquanto Roob as matava. Era conhecido como matador de mulheres. Ele examinava o braço que ficara com uma queimadura com o formato exato da minha mão. Eu não sabia como fiz aquilo.
- Ahhh, sua cretina! - ele gritou e agarrou meu pulso enquanto eu tentava fugir. E mais uma vez gemeu de dor, eu havia o queimado mais uma vez.
- ELE É O MATADOR DE MULHERES! CHAMEM A POLÍCIA! - gritei, chamando atenção de todos no lugar. Os homens foram para cima dele, dando socos, enquanto algumas pessoas usavam o celular para ligar, e outras saíram correndo de lá. Inclusive eu.
A moça que me atendeu no balcão perguntou meu nome enquanto eu ia em direção a saída. Dei meu nome a ela enquanto corria para a avenida.
Vi uma luz forte que encheu meus olhos, e tudo ficou escuro.

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Hey pessoas! Bem, o capítulo demorou, eu estava bem ocupada esses dias, e sem criatividade também. Mas espero que gostem, e comentem o que acharam, o seus comentários são muito importantes pra mim

A Caçadora de MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora