Conheço o barbeiro

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Levantei-me abrindo os olhos devagar até acostumar com a claridade. Estava em um quarto frio sobre uma cama macia. Admirei mais uma vez o lugar: havia um pôster de alguma banda qualquer pregado ao lado da janela, uma estante cheia de livros e um computador em cima de uma mesa.
E, mais uma vez, não sabia onde estava.
Eu e a minha mania de acordar em lugares estranhos. Fechei os olhos à procura de alguma lembrança da noite anterior. Eu havia sido atropelada, porém não sentia dor alguma. Levei a mão até o meu cordão.
A pedra estava gelada por conta da temperatura fria do quarto, a onda de calma veio instantaneamente fazendo meus músculos relaxarem - algo que mudou assim que a porta se abriu.
- Graças a Deus, você está bem! Iria te levar para um hospital, mas não foi tão grave. Eu acho. - Era um rapaz, trazia uma garrafa d'água em suas mãos. - Isso é pra você - disse, me entregando.
- Hum... Estou bem. Qual é o nome do barbeiro? - ri de minha própria piada.
- A louca que atravessou sem olhar foi você. Eu sou John, o cara que te salvou. Aliás, estava fugindo de quem? - ele sorriu enquanto eu sentava na cama.
- Longa história... Mas, pelo que sei, meu nome é Elizabeth. Ah, droga. - Stela deve estar preocupada, penso. - Preciso de um telefone - peço, e ele prontamente me entrega. - Eu não sei mexer com isso, liga você - disse, o encarando.
- Não parece ser uma das... bem... você sabe... - disse, arqueando as sobrancelhas - do Sixty Bar. - Ele apoiou a cabeça nas mãos, parecendo interessado. - O que fazia lá?
Dei o número de Stela, e ele discou.
- Eu só... estava... confusa. Não sabia que lugar era aquele. Alias, agradeço por ter me ''salvado''. Ultimamente muitos têm feito isso, eu nem sei por que reclamo tanto da minha vida.
- Quem mais salvou sua vida? Me conte: quem é você?
- Eu também gostaria de saber - admito. - Essa mulher que estou ligando agora, me achou inconsciente no rio da cidade. Provavelmente achava que era apenas um corpo, mas me resgataram, e, olha que maravilha: eu estava viva! Antes que eu continuasse, John me interrompeu:
- Oh, que privilégio ter salvado Elizabeth, o milagre da medicina!
- Sabe, não é legal chamar as pessoas assim. Não é um bom apelido. - John riu, e eu ri junto.
Stela atendeu. Explico e digo que está tudo bem e já voltaria pra casa logo.
- Sei da sua historia, mas não imaginava que seria tão bonita assim. - disse com um sorriso no canto da boca.
- Ah, então sabe que não tenho muito o que contar. - Ele assentiu com a cabeça. - Mas e você? Quem é?
- Não sei te explicar muito bem, mas o básico é: Meu nome é John, sou jornalista, moro aqui nessa casa, e durmo nessa cama onde você está. Venho acompanhando o seu caso desde que te acharam, mas ninguém e inclusive eu nunca conseguiu uma foto do "Milagre da Medicina" e nenhuma notícia de onde ficou hospitalizada. Sorte sua, porque se soubessem que você está aqui na cidade não te deixariam em paz.
Fiquei em silêncio, não sabia da minha importância. Para mim, eu era apenas uma garota normal que perdeu suas memórias e conseguia ver o passado e o futuro das pessoas com um toque.
Bem, talvez não tão normal.
John se levantou e sentou atrás de mim na cama.
- Não se preocupe, está salva agora - ele disse pousando suas mãos em meus ombros, causando o mesmo formigamento que senti com o abraço de Stela. E as imagens vieram à tona na minha cabeça passando rapidamente: era ele, estava em um quarto fechado e estudava atentamente o livro a sua frente, o garoto era fascinado por informações e poderia ser considerado mais inteligente que qualquer um ali. As imagens voavam. Dessa vez o garoto aparece discutindo com uma moça de cabelos escuros, talvez fosse sua namorada; logo em seguida aparece chorando histericamente em seu quarto.
Eu podia sentir a sua dor em meu peito. As últimas imagens são de John totalmente depressivo, acabara de saber que seus pais haviam falecido por acidente. A dor em meu peito veio duas vezes maior do que a primeira vez. Aquilo tudo era o seu passado, continuei com os olhos fechados para receber as imagens do futuro.
Mas elas não chegam.
Não conseguia enxergar o que aconteceria com ele.
- E por que confiaria em você? - pergunto no mesmo tom de voz dele.

- Porque não tem mais em quem confiar - disse, apertando meus ombros suavemente - Relaxe, Elizabeth. Não farei mal a você.

- Merda! Você não entende. Eu estou sozinha nessa, e nesse exato momento, não preciso de massagem alguma. - sim, eu explodi.

Foco Elizabeth. Foco.

- Olha, por que você não pega essas mãos e vá tentar pesquisar algo útil pra mim. Steemos, preciso saber o que significa. - Respirei fundo.

John me encarou por um tempo, até levantar os braços simulando uma ''rendição''.

- Tudo bem, mas agora é a minha vez, porque faria isso pra você? Nem confiar em mim você confia. - Disse desapontado.

- Bem... Tenho uma história pra você. Tem a ver com o que aconteceu no Sixty Bar.

- Espero que valha a pena, mas preciso disso agora. Resuma pra mim. - Estava ansioso esperando pela minha resposta.

- Eu achei o Matador de Mulheres. É um cara que estava no bar, ele tentou... De alguma forma se aproximar de mim. Acredito que já esteja preso.

- E como quer que eu acredite em você? - Ele riu com ironia.

Eu precisa de algo pra fazer com que acreditasse em mim. Mas seria impossível fazer com que visse o que eu vi.

A não ser, se eu conseguisse fazer novamente o impossível. Eu sou o milagre da medicina, consigo ver o passado das pessoas, meu colar fala comigo. Sim, de fato eu sou a pessoa mais impossível do mundo.

- Olha, eu sei que não confia em mim, mas quero tentar uma coisa. Me dê sua mão. Tente limpar sua mente, respire fundo e feche os olhos. - John se aproximou de mim, e entrelaçamos nossas mãos.

Sinto a corrente eletrizando cada parte do meu corpo. E então começo a relembrar tudo que vi sobre Roob. As imagens se organizavam em minha mente, tentava passar tudo isso para ele.

E enfim, aconteceu.

John se estremeceu com o choque, sua respiração ficou ofegante fazendo com que soltasse das minhas mãos e pulasse fora da cama se afastando de mim.

- Acredito em você. Não sei que tipo de macumba você conseguiu fazer, mas isso com certeza estará amanhã de manhã nos jornais. - Terminou a fala olhando para suas próprias mãos, incrédulo com o que acabara de ver em sua própria mente.

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Opa queridos! Demorou mas chegou, espero que tenham gostado e agradeço pelos comentários que tenho recebido de vocês, com certeza é um incentivo enorme pra mim. E mais uma vez, continuo pedindo pra que não parem. Comentem, votem, compartilhem com os migos, ficarei muito agradecida e incentivada. Obrigada seus lindos <3

A Caçadora de MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora