Quem é você?

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Estava flutuando por um longo e extenso mar, eu conseguia enxergar o céu com todas as suas nuvens e o sol brilhava pra mim, então fechei os olhos aproveitando mais daquele momento gostoso. Com os braços abertos eu os movimentava como se fossem meus remos e meus pés ajudavam no processo para que meu corpo nadasse. Mas por algum motivo eu parei e a onda de calma logo se acabou, quando me dei conta que não havia nada ao meu redor - a não ser um mar que parecia não ter fim. O meu corpo se estremeceu e eu senti a água invadindo minha visão.
Logo depois tudo se escureceu.
Acordei desesperada, com a respiração ofegante, eu suava frio e meu coração batia forte. Já não estava mais recebendo ar pelos tubos e não havia ninguém no quarto comigo. Havia uma pequena mesa de vidro no canto da parede branca e ali estava um pequeno copo de suco de laranja, me levantei da cama, surpresa ao ver minhas próprias pernas, eu nem sabia que tinha pernas - ou melhor, nem sabia que eu tinha um corpo. Na mesinha do canto havia um bilhete com letras de forma: "BEBA-ME" - e eu obedeci.
No canto direito da sala existia um espelho vertical, fui até lá curiosa, e me assustei quando me vi no espelho pela primeira vez.
Me toquei para saber se aquilo era mais uns dos meus pesadelos e eu senti a minha mão pequena apertando minhas bochechas, que logo ficaram vermelhas com o tom pálido da minha pele. Com a mão amaciei meus cabelos longos que por sua vez eram um loiro platinado, arqueei as sobrancelhas as examinando: eram finas e quase não apareciam, abri meus olhos grandes revelando uma cor azul modesta e tinha cílios longos.
Coloquei o cabelo atrás das orelhas, eram pequenas e delicadas, eu tinha orelhas levemente pontudas quando fui examiná-las, alguém abriu a porta.
O homem se assustou quando me viu em pé, ele vestia um grande jaleco branco e vinha com alguns vidrinhos de remédios na mão. Com a boca aberta e a expressão chocada colocou os vidros em cima da mesa.
- Olha só quem acordou! Sou o Dr. Thomas, prazer. - ele disse esticando a sua mão direita pra mim, eu não fazia ideia o por que daquilo, ele recuou a mão para trás e se mostrou um pouco sem graça. - Você poderia se sentar? - eu obedeci e sentei-me na cadeira ao lado da mesa de vidro.
- O que está acontecendo? Onde estamos? - encontrando finalmente minha voz para conseguir dizer algo, ela soou um pouco rouca.
- Aqui é um hospital Elizabeth, eu gostaria de conversar contigo, você se lembra da última noite em que aconteceu tudo aquilo? - Elizabeth era o meu nome? Eu não me lembro de nada, apenas dos meus pesadelos, por algum motivo eu achava que morri.
- Não, eu não sei. Eu quero ir embora daqui.
- Elizabeth, você foi encontrada inconsciente flutuando no rio da cidade, todos achavam que você estava morta. Onde você mora? Você se lembra? - ele foi falando com um tom meio preocupado.
- Eu também achei que estava morta. Eu não sei, eu não me lembro de nada.
- Deuses... Você não tem memória alguma. O caso é mais grave do que eu pensava.
- Estou aqui há quanto tempo?
- Dois meses. Elizabeth, esse papel foi encontrado no bolso de sua calça - Ele entregou um papel amassado - Você ficou aproximadamente uma noite inconsciente naquele rio, e o papel não se molhou. Você consegue reconhecer? - O pedaço de papel estava escrito com letras pequenas "Elizabeth, 16 anos", eu respondo balançando a cabeça.
- Eu não faço ideia de quem eu sou, ou de quem eu fui.

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