Revertério.

247 38 4
                                    


O hospital de Wolf Trap era muito caro para pouca qualidade, Lucas estava desesperado desde que viu o descaso do pronto socorro e a ressonância de urgência que o médico pediu para Will fazer. 

Desde o choque, eles não se falaram mais e Graham estava agora acamado em um quarto, Lucas sentado ao lado segurando em sua mão e torcendo para que ele acordasse. 

O médico disse que poderia ser grave, mas também não era caso de morte. Não importava, o coração do dinamarquês estava apertado como se estivesse em um funeral.

Como se estivesse revivendo o dia que perdeu Fanny. 

Ele olhava para Will, dormindo com vários acessos nos braços e na clavícula. Aquele uniforme azulado de paciente lhe caía tão bem, mas era desesperador o ver assim. Lucas não conseguia parar de chorar. 

Levou a testa até a mão pálida de Will, encostou nela e depois a beijou, suplicando:

—Por favor, fique bem…

Se sentia culpado por tudo. Não deveria ter sido tão invasivo, talvez se afastar e conversar com calma poderia ter resultado em algo diferente. Lucas só desejava trocar de lugar com ele. 

Mas, sua atenção voltou para a silhueta feminina de uma mulher bem vestida que usava um crachá de visitante. Cabelos ruivos cacheados. 

Freddie Lounds. 

—Você… —Lucas ergueu a cabeça, os seus olhos marejados de lágrimas se mesclavam com o olhar de ódio que transmitia para aquela mulher.  A jornalista suspirou, parecendo abalada.

—Eu não imaginava que ele fosse ficar assim… eu sinto–

—Cala a sua boca. Cala a boca agora.  —Ele apontou para ela, com a voz firme e autoritária que fez Lounds recuar e ficar assustada.  —Vai embora daqui, ou eu…

—Você não tem nenhum vínculo de verdade com o senhor Graham, mesmo dizendo que era seu parceiro na recepção. Se tentar me expulsar, é o senhor quem vai acabar saindo daqui.—Ela debocha, ainda abalada. —Eu precisava saber como ele estava e preciso falar com Will quando acordar, é importante.

—Importante? Uma entrevista com um psicopata deve ser algo imprescindível, não?—Retrucou com rispidez. Lucas era alguém muito educado, mas quando ele perdia a cabeça, virava outra pessoa. 

—Você é um cara legal, mas não sabe da missa a metade. —Insistiu, dando passos para frente. —Will Graham é instável e tem pensamentos que são periculosos, você não o viu em campo.

—Você sabe o que é periculosidade, Freddie?—Ele perdeu a linha, soltou a mão de Will e se levantou, indo até ela e ficando bem próximo.  —Você sabe?

—Está me ameaçando?—Ela cruzou os braços, não se intimidando tanto ao ver como ele era comportado. Seus braços estavam para baixo e punhos cerrados, até via as veias no pescoço do dinamarquês saltarem pelo ódio, mas ela sabia que ele não poderia mover um dedo contra ela, não dentro de um hospital.—Oh, eu não ameaçaria uma jornalista que sabe muito bem quem você é, senhor Lucas. Acha que eu não fui procurar a respeito de você? A Klara… será que você é mesmo inocente?

E apesar de ser um assunto que lhe feria demais, Lucas se manteve firme. 

—Não me importa se você acha que eu sou culpado, eu não fiz nada. Mas você… você pelo visto não sabe o que fez, sabe?

—Me diga você. —Sorriu, cínica. 

—Ele quase morreu engasgado na própria saliva quando estava convulsionando, por causa do que você postou no seu jornal. —Apontou para Will, depois de mais um passo, ficando bem próximo dela.  —Se eu não estivesse lá, ele teria morrido. Você teria o matado. 

Stray Dogs Onde histórias criam vida. Descubra agora