Capítulo 1.1

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O dia que Helena recebeu uma ligação da tia a chamando para visitar o Rio no final de semana que estava por vir, ela estava no ônibus lotado voltando do tedioso dia de trabalho. Antes mesmo de atender o telefone já tinha criado uma desculpa esfarrapada como resposta para não poder ir a visitar, foi só quando foi lembrada que era aniversário da parente que entendeu o sentido da ligação no meio da tarde, coisa que não ocorria com muita frequência, e não soube como negar. Mas foi só quando chegou na rodoviária abafada da metrópole, depois de ficar cinco horas e meia no ônibus com cheiro enjoativo, e de finalmente olhar o celular e ver as 22 chamadas da tia, que se lembrou porque as desculpas esfarrapadas haviam crescido no último ano.

Helena pegou um Uber até uma embarcação e saltou do carro para a rua suja da Tijuca, entrou na ampla e escura portaria do prédio alto com redes de segurança em todas as janelas e sentiu o forte cheiro de cloro. O porteiro pergunta onde ela está indo e depois de confirmar com Tatiana se Helena era realmente sua sobrinha e se ela poderia entrar, abriu a porta pesada do elevador e se pôs dentro da caixa de metal encostando a mochila de pano no espelho e jogando seu corpo para trás, o apoiando na parede gelada.

Tinha acordado cedo demais para pegar o ônibus e agora, às onze horas da manhã, ela só conseguia pensar que adoraria tomar um banho para tirar aquele cheiro de guardado, que foi adquirido no ônibus com janelas sempre fechadas, e também não recusaria um prato de comida.

Infelizmente nenhum dos seus desejos foram atendidos. Tatiana tinha seus planos próprios para aquela tarde, estava apenas esperando a sobrinha chegar para elas irem dar uma volta na rua. Deixou Helena ir se trocar, elas conversaram um pouco, beberam um copo de suco pronto de fruta e foram para o shopping.

Tia e sobrinha eram bem diferentes, não que houvesse alguma comparação entre as duas, fisicamente elas pareciam desconhecidas e quanto a personalidade, bom, esse seria o motivo de tantas brigas em tão pouco tempo. Elas certamente não se comparavam uma à outra por saberem bem que não tinham, ou queriam, ter muitas coisas em comum, e as pessoas que as conheciam também raramente discutiam das peculiaridades em comum das duas. Algumas vezes um comentário de que os olhos e o nariz eram parecidos, mas não passavam muito disso, desculpas esfarrapadas para uma conversa de apenas palavras ao ar.

À noite as duas pegaram um táxi, não uber, pois a tia não tinha confiança em um motorista de aplicativo, e foram em silêncio até o museu de arte moderna no centro do Rio. Geralmente a jovem era bem falante e gostava disso, sentia que o silêncio muitas vezes era constrangedor e experimentava uma pressão para falar algo, infelizmente naquele momento onde ficou o dia todo escutando uma senhora falar na sua cabeça, ela só queria ficar um pouco calada, procurava no silêncio um pouco de paz.

Se Helena gostava de falar, Tatiana vivia para falar, emendava uma conversa na outra, muitas vezes parecendo que não tinha nem pausa para respirar. Helena assimilava aquilo ao fato da tia viver sozinha a tantos anos e não ter muitas pessoas para conversar com, o que não significava que ela tinha muita paciência e empatia pela situação, a entendia, mas também desejava constantemente que ela não fosse daquele jeito.

O carro estacionou bem na entrada da galeria e antes mesmo de tirar todo o seu corpo do veículo, Tatiana já estava acenando para duas senhoras paradas na frente da porta alta de madeira maciça.

__ Aí está você! _ uma das mulheres baixinhas na frente do prédio, que agora estava andando para perto do carro, falou alto com um grande sorriso no rosto

__ Desculpe a demora meninas, essa coroa aqui precisava de mais tempo para se arrumar. A idade realmente cai bem em mim não? _ Tatiana fala agora arrumando o vestido longo no corpo _ você lembra de minhas amigas não é, querida?

Curvas do ReamarOnde histórias criam vida. Descubra agora