Curvas do Reamar

Capítulo 3

Vinicius digitava rápido as respostas aos comentários do novo lançamento no instagram da editora, era quase que um prazer culposo, uma forma de sentir raiva por algum motivo específico. Um mês já havia se passado desde que os novatos entraram e Arthur ainda achava engraçado como Vinicius geralmente ria nos comentários negativos mas batia nervosamente no teclado quase o quebrando, os colegas mais antigos do setor falavam que era sempre a mesma coisa, respondia os negativos com ânimo e apenas curtia os positivos

__ Vinicius _ Arthur fala baixo batendo na mesa em forma de pequenos soquinhos para chamar a atenção, falou mais uma vez com a cabeça baixa _ Vinicius

__ Oi _ O rapaz o entrega os papéis impressos e grampeados em divisões _ Já fez tudo? Ótimo. Eu não sei o que mais você tem que fazer.

Vinicius olhou para frente e moveu a cabeça para os lados desviando das pessoas que tampavam a sua vista da última mesa perto da parede. Ele colocou as folhas agrupadas por um clipes em cima do teclado e levantou da cadeira de rodinhas, esticou de leve a coluna e caminhou até o refeitório sem falar nada. Arthur não o seguiu, não sabia se era para o seguir ou não, e se não fosse seria algo vergonhoso de se fazer, sentou na sua cadeira e mexeu com o mouse de um lado para o outro pensando se poderia fazer alguma coisa, abriu a planilha de tarefas e tentou procurar o próximo afazer, mas antes mesmo de achar seu nome, Vinicios havia voltado e encostou uma garrafa gelada de suco na sua nuca o chamando para o acompanhar.

Os dois passaram pelas mesas que o dividiam da parte da edição e o resto da editora. Arthur sempre observava curioso as outras pessoas fazendo os seus trabalhos, principalmente os grandes e deitados computadores que a equipe de design tanto rabiscava ou como os editores sempre estavam com os olhos cansados e com alguns outros livros ao lado.

Eles atravessaram a segunda mesa e alguém parou Vinicius para perguntar alguma coisa que Arthur não conseguiu escutar, focou sua atenção no que parecia ser o novo livro que a editora estava publicando, tinha a capa vermelha vinho com um grande castelo, se viu passando a mão sobre os detalhes dourados do teto e folheando as primeiras páginas "nos começos de julho, por um tempo extremamente quente, sai um rapaz de um cubículo alugado..." pensou estar lendo sobre sua vida em São Paulo na primeira semana, imaginava que a próxima frase fosse "estava completamente infeliz e desejava como uma criança a companhia do pai" mas Dostoiévski não era tão básico. Fechou o livro e voltou a seguir Vinicius que já tinha continuado.

Os dois passaram pela sessão dos estagiários e Vinícius não conseguiu não notar como apenas um dos coitados sentados na sessão estava realmente fazendo o trabalho, um dos novatos provavelmente, enquanto isso, os mais antigos estavam apenas sentados mexendo no computador e fingindo estarem fazendo alguma coisa realmente útil. Um dos grandes mistérios para vinicios era a falta de sorte que eles tinham com a contratação dos estagiários, o que explicava como nenhum deles pareciam ser promovidos, também explicava porque nenhuma outra pessoa em toda a editora parecia evoluir em suas profissões, era uma grande sociedade estamental.

Por fim, chegaram na última divisão a qual Arthur se via encarando mais do que gostaria, sentava de frente para aquela parte do escritório, então o podia ver totalmente naquele espaço, incluindo Helena que se sentava no total oposto que ele.

A mesa era grande de madeira e tinham 5 cadeiras, sendo que só haviam duas pessoas naquela divisão. Em oposição a isso ela sempre estava bagunçada e cheia de livros, papéis, post-its, calculadoras, maquetes de brinquedos, marcadores de página, óculos e guardanapos. Nem mesmo Vinicius ignorava aquela bagunça, mas nenhum dos dois comentaram nada. A cadeira do que seria o chefe daquele departamento estava sempre livre, o que fez Arthur pensar que eles não tinham aquela divisão como os outros, eram realmente como estagiários, ou melhor, eles eram como pequenos malditos estagiários com mais responsabilidades.