Capítulo 06

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No alvorecer do dia seguinte, não havia uma alma que não estivesse ciente do sequestro do Príncipe Herdeiro. A notícia espalhou-se juntamente com o vento, por entre as ruas e casas da monumental nação de Hermatita, e os habitantes temeram o futuro que os aguardava.

Para muitos, isso mostrou o quanto o rei estava perdendo o poder, e que talvez, estivesse na hora de abdicar do trono para passá-lo às próximas gerações. Outros defendiam com unhas e dentes o benevolente Rei Nodt, que tanto os tinha defendido durante seu longo reinado.
O fato é que, independente da opinião de cada indivíduo, todos clamavam junto por uma única coisa: o resgate do Príncipe Pete. Muitos se aproximaram do palácio em busca de justiça em nome de seu príncipe. Outros, com poder aquisitivo maior, pediram audiências particulares com o rei para questionar o futuro do reino, e se aquela situação colocava em risco seus negócios.

Durante os primeiros dias, o rei não pôde sair da cama, e Porsche assumiu por um tempo o gerenciamento do reino, conversando incessantemente com os diversos Ministros e organizando um plano para reverter toda a situação. Kinn manteve-se ao seu lado o tempo todo, ajudando-o no que fosse necessário. Para ele, era quase impossível permanecer parado, já que seu grande amigo havia sido levado de forma brusca e animalesca.
A rainha, por sua vez, cuidou atenciosamente do marido durante seus dias de repouso, permanecendo forte ao lado dele enquanto todos vinham visitá-lo para desejar-lhe boa saúde. Porém, quando a noite caia e ela ia para o próprio quarto, toda sua postura se desmontava em um monte de mágoa e ressentimento, e a saudade que sentia do filho dominava cada centímetro de seu corpo. Não saber onde exatamente Pete estava e o que iriam fazer com ele fazia a mulher vomitar toda a comida que tinha ingerido durante o dia. Viver naquele estado de incerteza corroía sua alma e sugava suas vísceras, tornando-a uma casca vazia, que a cada dia perdia as esperanças.

Enquanto isso, os ânimos da corte não estavam nem um pouco agradáveis, e Porsche sentia-se cansado constantemente. As reuniões que tinha com aqueles velhos ranzinzas só fazia sua raiva crescer, e muitas vezes teve que controlar os próprios nervos para não dar uma lição em todos aqueles anciãos que alegavam possuir todo o conhecimento. Felizmente, ele já era bastante familiarizado com toda a corte, então as coisas não estavam tão desestabilizadas ainda.
Os diversos Ministros que compunham a corte exigiam respostas imediatas para reverter a caótica situação em que estavam. Não só eles, mas os pais da princesa Hera, que haviam retornado para a Sardônica, também almejavam uma solução.

Na tentativa de contornar os problemas, o reino de Hematita tentou contato com Critino, não obtendo resposta. E, na noite em que esse fato foi anunciado, o choro da rainha pôde ser ouvido por quem passasse em frente à porta de seu quarto.

E, enquanto seu amado reino caia lentamente em desajuste por conta de suas escolhas, o príncipe Pete sentia-se mais perdido internamente, vendo o passar dos dias por uma pequena janela na parte superior de sua cela. A maneira que havia chegado ali não importava. O fato era que, ele e Hera foram largados ali assim que entraram nos domínios do reino de Critino, e não tiveram mais nenhum contato com Vegas ou qualquer outro membro da família real. Pete acreditava que estavam ali para morrer lenta e dolorosamente, perdendo as esperanças aos poucos enquanto viam o sol nascer e se por bem acima de suas cabeças. Aquela era uma das piores formas de torturar alguém: dar esperanças quando não havia nenhuma escapatória.

Felizmente, Hera esteve com ele o tempo todo, e isso fazia-o se sentir menos solitário. Muito provavelmente, eles estavam confinados em uma prisão localizada bem embaixo do grande castelo, já que era uma prática comum os reis construírem suas masmorras naquela posição para fins estratégicos.

Com o decorrer dos dias, Pete percebeu que a princesa era o que geralmente se classificava como uma boa companhia, pois, enquanto ficaram presos, ela esforçava-se ao máximo para tornar as coisas mais agradáveis. Se é que isso fosse possível. Afinal, estar confinado no subsolo do reino inimigo com certeza era uma situação horrível demais para se tornar mais suportável. Entretanto, Hera, com seus monólogos matinais sobre o excelente ataque executado por parte de Vegas no dia de seu casamento, e os devaneios noturnos contando maneiras que outros na história haviam escapado de situações semelhantes aquela tornaram as coisas menos mórbidas e silenciosas, e sua bela voz sempre preenchia a sala completamente, emanando calor mesmo eles estando no fundo do poço.
Pete sentia que Hera era alguém cheia de animação, iluminada pelo vigor da juventude. Uma pena os pais da garota não enxergarem as qualidades da própria filha e acharem que seria melhor casá-la com um príncipe do que permitir que governasse por si só a Sardônica. Com toda certeza a geração de seu pai não conseguia se desprender desses costumes antiquados.

Luxúria e poder | VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora