Capítulo 01

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Para cuidar de uma nação é necessário fazer sacrifícios. Durante toda a história da humanidade, grandes reis e rainhas, príncipes e princesas abriram mão de toda sua felicidade por um bem maior. Isso não era justo, obviamente, mas nada podia ser feito, e todos aqueles que nascessem com o sangue real correndo em suas veias estavam condenados a uma vida que nunca lhes pertenceria por inteiro.

— Você ouviu os boatos? Parece que o príncipe vai se casar amanhã mesmo! — disse um homem barbudo, segurando uma caneca. Uma bela moça aproximou-se e ofereceu-lhe cerveja gelada, e ele prontamente aceitou com um sorriso.

— Que mal pergunte, caro senhor, quem é a sortuda da vez? — perguntou a atendente, enquanto enchia o recipiente do homem.

As pessoas ao redor pareciam não dar atenção à conversa casual que desenrolava-se no velho balcão do bar, mas todas estavam com os ouvidos bem atentos esperando o homem responder a pergunta feita.

— Já que está curiosa, eu irei contar à bela senhorita. — O homem aprumou-se e tossiu algumas vezes para alinhar a voz. — Sabe a garota da Sardônica? Ela é a escolhida! Quem imaginaria não é mesmo?!

— Mais de dez pretendentes desde que aquele mimadinho fez 20 anos e só agora escolheram uma? — Uma mulher, que minutos antes estava conversando com dois outros amigos, juntou-se à conversa.

— Ele é o único filho da rainha, acho que ela queria uma pretendente à altura do herdeiro. — falou a moça do outro lado do balcão.

— Conversa fiada. Escute minha jovem, quando o pai desse garoto precisou casar e continuar a linhagem, ele rapidamente procurou uma das melhores princesas para ser sua parceira. E aí vemos o resultado! Quem não inveja o casamento do rei e da rainha? — Em meio a conversa, a mulher esticou o braço e pegou um copo, enchendo-o de uma bebida escura que exalava um forte cheiro. — Esse pequeno príncipe deve se casar logo antes que os rumores voltem a se espalhar!

— Rumores? — Perguntou a moça do balcão com uma curiosidade contida.

— Não me diga que nunca os ouviu? — Foi a vez do homem falar. Ele engoliu de uma vez todo o líquido que encontrava-se dentro da caneca, e em seguida limpou o canto dos lábios. — Todos acham que o príncipe com certeza não gosta nem um pouco das belezas!

A mulher ao lado dele deu-lhe um pequeno tapa no braço. Ela já conhecia, pois ambos tinham o costume de frequentar o bar.

— Fale como gente, seu velho imundo! — disse, irritada. — Minha menina, o príncipe é com certeza gay e o rei e a rainha parecem ser os únicos que não percebem isso.

— Ou talvez não aceitem. — Alguém gritou do outro lado do estabelecimento. Todos concordaram com as palavras ditas.

Confusa, a mulher saiu de trás do balcão e foi sentar-se junto a outra moça.

— Qual o problema nisso?

— Você é jovem e provavelmente não conhece o mundo bem o suficiente. O príncipe é filho único e toda a próxima geração depende dele, a família real nunca aceitaria um casamento que não pudesse gerar filhos.

— Não escute eles garotinha. — Saindo da porta dos fundos do estabelecimento, o dono do local aproximou-se do grupo que conversava. — O príncipe só está esperando o momento certo para casar. Por que vocês não arrumam o que fazer?! É óbvio que ele não vai se casar amanhã, nem anunciaram quem vai ser a pretendente ainda.

— Quem sabe?! Essa gente é estranha.

O líquido avermelhado que estava contido na taça era muito mais interessante do que qualquer conversa sobre pretendes e casamento. O vinho exalava um aroma ácido e adocicado que instigava qualquer um a aventurar-se por seu sabor, que era igualmente esplêndido. Se uma pessoa provasse uma vez, por menor quantidade que fosse, nunca mais esqueceria o gosto e não descansará até prová-lo de novo, e de novo, e de novo. Mesmo que se prove inúmeras vezes, nunca mais se sentirá saciado.

— Pete, você está prestando atenção.

Tendo todos os seus pensamentos interrompidos, o príncipe ergueu lentamente o olhar e encarou profundamente a face do pai, que demonstrava uma desaprovação descarada em relação aos comportamentos do filho.

— Você não é mais uma criança, Pete! Estou a horas contando sobre como seu casamento com a princesa Hera será benéfico para nosso reino! — Esbravejou o rei, indignado com a irresponsabilidade do filho.

Pete revirou os olhos e abandonou a taça de vinho sobre a mesa.

— Certo pai, eu estou ouvindo.

— Seria melhor se estivesse ouvindo desde o início, mas vou resumir as coisas para você. — O homem pegou os papéis que estavam espalhados na mesa em frente a ele. — Princesa Hera, filha única e herdeira direta do reino da Sardônica, é com toda certeza a mais adequada para casar com você. O reino dela atualmente controla as minas de diamante e pedras preciosas.

— Além disso, meu amor, a princesa é muito simpática e gentil. — A rainha colocou a mão sobre a de Pete, tentando confortá-lo. Ele se assustou com a ação repentina, mas permitiu o toque. — Tenho certeza de que vocês serão muito felizes.

— Sim, filho. A princesa é uma mulher excelente. 

— E se eu recusar? Eu nem conheço a garota, como posso me casar com ela?

O rei encarou o príncipe. A rainha percebeu a mudança do clima. Pete já havia recusado diversos casamentos alegando que não poderia se casar com alguém que não conhecia. Seu pai ficava furioso todas as vezes, pois era ele quem tinha que escrever uma carta agradecendo a proposta mas recusando o casamento, alegando que o príncipe não tinha gostado da pretendente.

— Até quando vai recusar? Você já tem 25 anos e precisa urgentemente continuar nossa linhagem! — O rei levantou-se agitado, preocupando a rainha.

— Amor, calma. Pete está estressado com tanta coisa nessa última semana e com certeza precisa de um descanso. Por que não  conversamos sobre isso mais tarde? — Sugeriu, ficando ao lado do marido e entrelaçando seus braços. Ele respirou fundo algumas vezes e assentiu com a cabeça, acenando na direção do filho. A rainha curvou-se em despedida, e junto ao marido, retirou-se da sala.

Pete esperou eles saírem para bufar e revirar os olhos, cansado de todo o falatório.

Ele olhou para a janela e apreciou a bela vista que tinha. Os montes eram tão claros e verdes nessa época do ano… Como um reino tão lindo estava aos poucos perdendo território e poder? A princesa Hera era a melhor solução para os problemas que enfrentavam, mas Pete não aprovava nem um pouco a ideia de se prender a alguém através do matrimônio.

— Com certeza preciso distrair um pouco a mente… — disse, divagando por seus pensamentos. — Kinn, venha aqui.

Ao ouvir o chamado, um homem bem vestido saiu da lateral da sala e pôs-se à frente do príncipe.

— O que o senhor deseja?

— Reserve uma vaga para hoje a noite, e chame Porsche e Chay para me fazerem companhia — disse, dispensando-o com um gesto de mão. Kinn saiu silenciosamente da sala. Pete mordeu o lábio inferior só imaginando a diversão que teria.

"Tenho certeza que será uma noite bastante animada."

Luxúria e poder | VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora